Com o plantio virtualmente encerrado e os mapas climáticos apontando cenários favoráveis à cultura da soja, a expectativa é de que a produção do cereal alcance um dos maiores volumes da história, entre 21,7 milhões de toneladas e 22,4 milhões de toneladas. Mas safra cheia, entretanto, favorece queda nas cotações, o que já se verifica e gera expectativa entre produtores e o mercado.
Com o plantio virtualmente encerrado e os mapas climáticos apontando cenários favoráveis à cultura da soja, a expectativa é de que a produção do cereal alcance um dos maiores volumes da história, entre 21,7 milhões de toneladas e 22,4 milhões de toneladas. Mas safra cheia, entretanto, favorece queda nas cotações, o que já se verifica e gera expectativa entre produtores e o mercado.
A projeção mais otimista é da Emater/RS-Ascar, que considera um incremento na produção de 73% sobre o resultado anterior. Nesta safra, foram plantados, conforme a autarquia, 6,7 milhões de hectares no Estado, que deverão render 3,3 mil quilos por hectare, ante 1,9 mil quilos na colheita anterior.
“Devido às condições climáticas, houve um atraso no planejamento dos produtores para esta safra, o que resultou no atraso do plantio das lavouras. Isto fez com que houvesse uma inversão na concentração do plantio no mês de dezembro, quando a semeadura normalmente é realizada nos meses de outubro e novembro. Com o atraso, porém, aumenta o risco no desenvolvimento das lavouras, mas poderá não ter reflexos no resultado”, diz Marcelo Antônio Araldi Brandoli, diretor técnico em exercício da autarquia.
Segundo ele, houve relatos de replantio em algumas áreas, mas, até o momento, o mês de janeiro tem sido favorável na maior área do Estado. A preocupação dos produtores, aponta Brandoli, tem sido em relação às doenças que podem ser ocasionadas devido às condições climáticas, como a ferrugem asiática, por exemplo.
“Essa, porém, é a previsão inicial da safra. Por isso, dependemos das condições climáticas registradas a partir de agora. É preciso considerar que estamos em um ano de El Niño, passível de muitas variações climáticas, como temporais”, alerta o engenheiro agrônomo.
A análise coincide com o cenário esboçado pelo analista de soja Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado. Com base em consulta a produtores, cooperativas e parceiros, a empresa prevê uma safra levemente inferior à estimativa da Emater e trabalha com 21,7 milhões de toneladas a serem colhidas neste ano, ou 3,3 mil quilos por hectare – o recorde no Estado foi de 3,4 mil quilos, na safra 2020/2021.
“Viemos de duas safras muito problemáticas nos últimos anos e, por isso, os estoques seguem bastante apertados. Se for confirmada a safra cheia, será um alívio, mas ainda assim haverá mais consumo interno e menos exportações. O problema do produtor, neste momento, não é a lavoura, mas a oferta, que deve ser alta, e o preço, em viés de baixa”, diz Roque.
Apesar dos problemas verificados em Mato Grosso, Goiás e Tocantins, onde faltou chuva no início do período de semeadura, a produção gaúcha e o total nacional tendem a encher os armazéns com volume que pode alcançar até 155 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento. E, para completar, a safra argentina vem forte, prometendo colocar no mercado 50 milhões de toneladas do grão.
“Juntos, Brasil e Argentina estariam produzindo mais de 200 milhões de toneladas. O momento de alta oferta pesa sobre os preços. Pesa sobre Chicago, sobre prêmios regionais. Há um ano, a saca de 60 quilos de soja era negociada a R$ 175,00. Em dezembro de 2023, a cotação estava em R$ 145,00. Hoje (ontem), estamos em R$ 125,00. E pode cair ainda mais”, avalia o analista da Safras.
O cenário de expectativa se traduz no campo. Luísa Santos é produtora de soja em 2,5 mil hectares na região de Caçapava do Sul. E lá, os impactos do clima geram, ainda, esperança e cautela.
“Temos 50% das áreas em ótima situação. Os outros 50% estão ainda em estágio muito inicial devido ao atraso do plantio e algumas áreas onde foi feito replantio por excesso de chuva. A expectativa, se o clima continuar favorável, é colher uma média próxima as 50 sacas por hectare, o que para nós é muito bom. Mas tudo depende do clima. É preciso agora, em fevereiro e março, chuvas recorrentes. O mercado está baixista no momento, mas isso o produtor não controla. Não tem o que fazer”, pondera Luísa.