Reunião busca rumos para recuperar a Cooperativa Piá

Encontro apontou uma dívida estimada em cerca de R$ 260 milhões e falta de matéria-prima para continuar operando

Por JC

Cooperativa reduziu drasticamente a captação de leite neste ano
Claudio Medaglia, de Nova Petrópolis
Uma reunião com associados da Cooperativa Piá, com sede em Nova Petrópolis, convocada pela diretoria provisória, foi realizada nesta segunda-feira (12), na Associação Comercial e Industrial do município para apresentar o cenário atual e discutir alternativas para contornar a grave crise financeira. O encontro, batizado de Transparência Piá, apontou uma dívida estimada em cerca de R$ 260 milhões e falta de matéria-prima para continuar operando. A esperança está em um mobilização que passa pelo Parlamento gaúcho e pela sensibilização de credores.

É consenso que, para diminuir seu passivo, será necessário vender parte do patrimônio, diminuir de tamanho, repensar o foco e recomeçar a história de 57 anos de uma marca forte e reconhecida no mercado. Hoje, porém, apesar de um patrimônio avaliado em torno de R$ 400 milhões, a Piá não tem dinheiro em caixa nem crédito junto ao sistema financeiro. Há meses deixou de pagar fornecedores de matéria-prima e embalagens, representantes comerciais e transportadores.
Em abril, o ingresso diário de leite era de 180 mil litros. Mas quando entrou em dívida com produtores, no mês passado, a entrada do produto praticamente acabou. São cerca de R$ 16 milhões em atraso, somente com produtores. Atualmente, a empresa recebe 9 mil litros diários, de apenas 90 produtores. O baixo volume não permite sequer a ativação dos equipamentos para beneficiamento. E, assim, o complexo com capacidade para processar 1 milhão de litros por dia está parado, explicou Severino Seger, presidente nomeado judicialmente após a renúncia coletiva da diretoria anterior.

Uma das alternativas será a retomada de negociações com agentes financeiros credores para construir caminhos semelhantes aos que vêm sendo desenhados para salvar a Cooperativa Languiru, de Teutônia. Presente ao encontro, o deputado estadual Elton Weber (PSB), presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo, revelou que a Languiru já acertou uma carência de 12 meses para voltar a pagar as parcelas vincendas de sua dívida, de R$ 788 milhões, e que duas empresas já se mostraram interessadas na aquisição do Frigorífico de Suínos, pelo valor de R$ 160 milhões. O BRDE deve ser o financiador para 50% desse montante. "São caminhos como esse que devemos buscar. Tenho certeza de que os bancos estaduais e o poder público estão dispostos a cooperar com uma cooperativa com a importância e a história da Piá. Vamos construir essas pontes", disse o parlamentar.

Ex-presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul, Vergilio Perius citou exemplo de outra cooperativa que enfrentou enormes dificuldades no passado recente e encontrou seu ponto de equilíbrio através de parceria. Ele sugeriu o arrendamento temporário de parte das instalações de setores menos rentáveis a outras cooperativas dispostas a ajudar. Revelou que já foi procurado por pelo menos três cooperativas para consultar sobre a possibilidade de negociação com a Piá. E que uma delas mostrou interesse na área de supermercados da cooperativa da Serra. "É hora de o sistema cooperativo se ajudar. Não podemos deixar a marca Piá, que é muito forte, desaparecer."

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Em medida emergencial, o prefeito de Nova Petrópolis, Jorge Darlei Wolf, determinou a reavaliação de uma área da Piá na localidade de Pinhal Alto que já é usada pelo município. A ideia é adquirir o terreno e ajudar a cooperativa, dentro dos limites legais. São caminhos que, aos poucos, vão sendo desenhados para que a cooperativa consiga se manter operando e, principalmente, preservando sua essência na produção de doces e laticínios. Formação de fluxo de caixa, com venda de veículos, terrenos, máquinas, equipamentos e imóveis, que dependem de aprovação em assembleia, contratação de novos empréstimos bancários, formação de parcerias e terceirizações, além da reativação de algumas operações, são considerados cruciais para dar fôlego à Piá, advertiu José Mário Hansen, que por mais de 30 anos fez parte da administração da cooperativa, antes da mudança no formato de gestão, em 2011.

A ideia para o novo comando, que será eleito na próxima segunda-feira (19) é retomar a fórmula original, com uma diretoria, um conselho de administração e uma administração profissionalizada. Mas esses passos dependem da aprovação dos nomes que serão apresentados como candidatos a assumir o desafio de recolocar a Piá nos trilhos.