Uma reunião de emergência entre governo do Estado, Assembleia Legislativa, agentes financeiros e entidades ligadas ao setor cooperativo irá discutir, na segunda-feira (5) a crise da Cooperativa Languiru. O encontro, marcado para as 10h, no Gabinete do Governador no 21º andar do Centro Administrativo Fernando Ferrari, foi articulado pela Frente Parlamentar do Cooperativismo, a partir da constatação do impacto econômico e social do problema.
Participarão da reunião o governador Eduardo Leite, os secretários da Casa Civil, Artur Lemos; da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Giovani Feltes; do Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini; da Fazenda, Priscila Santana; os presidentes do Banrisul, Claudio Coutinho; do Badesul, Claudio Gastal; do BRDE, Wilson Bley; e os prefeitos de Teutônia, Celso Forneck, e de Colinas, Sandro Hermann. Também foram convidados os presidentes da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel; da Fecoagro, Paulo Pires; da Ocergs, Darci Hartmann; e da central Sicredi SulSudeste, Márcio Port.
Afundada em dívidas que superam os R$ 1,1 bilhão – sendo R$ 788,1 milhões somente junto a instituições financeiras, a empresa passou pela renúncia coletiva da diretoria e a eleição de um novo comando no mês de abril. “Pelo menos 60% ou 65% do passivo da Languiru é com bancos estatais, como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Badesul, BRDE e Banrisul. Precisamos buscar o refinanciamento dessas dívidas, com prazos razoáveis de carência para que a cooperativa possa recuperar capital de giro e se reequilibrar”, disse o deputado Edivilson Brum (MDB), que integra a Frente Parlamentar do Cooperativismo da Assembleia Legislativa e, ao lado do presidente da frente, Elton Weber (PSB), provocou os colegas a entrarem em campo para tentar buscar uma solução para o problema.
Nesse sentido, Foram acionados também os deputados Zé Nunes e Miguel Rossetto, ambos do PT e com trânsito junto ao governo federal. A ideia é buscar abrir portas para uma reunião com os ministérios da Fazenda e do Planejamento e incluir os bancos ligados à União nesse esforço para recomposição das dívidas da cooperativa.
“Nossa preocupação é com os aspectos social e econômico do Estado, que sofre o impacto da crise da cooperativa. Por trás dessa situação existem milhares de famílias de agricultores parceiros da Languiru que têm dormindo mal. A cooperativa tem cerca de R$ 5 bilhões em ativos e bens. É uma situação recuperável, se houver ajuda eficiente”, acrescentou Brum.
Segundo ele, a repercussão da crise da Languiru não se restringe apenas aos municípios dos Vales do Taquari e do Rio Pardo, onde a empresa tem abatedouros, agrocenters, supermercados, postos de combustível, farmácias e outras atividades.
A convicção vem do diagnóstico apresentado pela Languiru a deputados, prefeitos, vereadores e associados na sede administrativa da empresa, em Teutônia, nesta sexta-feira (2) O encontro contou também com a participação do chefe de gabinete da Casa Civil do Palácio Piratini, Jonatan Brönstrup.
No encontro, Elton Weber pediu união pelo sistema cooperativo. “De alguns anos para cá, o setor cooperativo ficou menos intercooperativo, e o segmento que menos tem cooperado entre si é o agropecuário. Percebo uma atuação mais alinhada nas cooperativas de crédito, de trabalho e de transporte por questões que dizem respeito ao seu segmento. No agro, o trabalho entre as cooperativas tem sido muito difícil, e nisso a própria Ocergs, a OCB e o poder público precisam estar mais próximos. Languiru, Piá, Dália passam por dificuldade, o setor de proteína animal em geral vive tempos muito difíceis, com reflexos econômicos e sociais. Perdemos todos com essa situação, inclusive os bancos”, alertou.
Na oportunidade, também foram apontadas possíveis estratégias de enfrentamento à crise. Capitaneada pelo atual presidente, Paulo Birck, a cooperativa já vem colocando em prática um grande plano de reestruturação, que passa pela descontinuidade de alguns segmentos e a venda de operações deficitárias. Uma das alternativas entabuladas ainda pela gestão anterior, a parceria com o grupo chinês ITG Tianjiao e TJJT não avançou até o momento, embora as negociações não tenham sido encerradas.
Situação da cooperativa preocupa prefeitos da região
A crise preocupa também gestores públicos da região já que a empresa gerou, só em 2022, cerca de R$ 221 milhões em tributos. São afetados diretamente 3,5 mil funcionários e 5,5 mil produtores, fornecedores e prestadores de serviços espalhados em 188 municípios gaúchos.
Segundo dados apresentados pela cooperativa, o faturamento mensal da Languiru vem caindo significativamente. A média mensal em 2022 ficou na casa dos R$ 230 milhões, mas em maio deste ano já havia caído para R$ 100 milhões. A causa, segundo Birck, é o excesso de endividamento para dar suporte a investimentos realizados, o estrangulamento operacional por falta de capital de giro e a priorização dos compromissos com instituições financeiras em detrimento da atividade operacional.
Edivilson Brum destacou a importância de articular soluções urgentes para garantir a continuidade das atividades e chamou a atenção para o caráter social das instituições financeiras públicas, como Badesul e Banrisul. “Só faz sentido termos um banco público se ele for parceiro do desenvolvimento social e econômico do nosso Estado”, afirmou. O parlamentar acrescentou que “é hora de termos apoio do sistema financeiro público para viabilizar a continuidade das atividades da Languiru e outras cooperativas que passam por dificuldades. É para isso que o Estado mantém essas estruturas”, concluiu.