Desde a divulgação dos primeiros casos de gripe aviária no Brasil, no início desta semana, no Espírito Santo, algumas dúvidas começaram a surgir entre o público. Uma delas é sobre o risco de o vírus atingir os seres humanos. A coordenadora da Comissão de Saúde Única do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, Flavia Borges Fortes, esclarece alguns pontos.
A Influenza Aviária (IA) traz muitas preocupações ao mercado de proteína animal porque esta doença pode causar a morte de muitas aves, trazendo imensos prejuízos para a cadeia avícola. E mais: conforme Flavia, também preocupa as autoridades da saúde humana, pois pode eventualmente contaminar pessoas. Há um caso suspeito inclusive no Brasil.
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As aves, quando contaminadas, sofrem morte súbita quando a cepa for muito virulenta. Entre os outros sintomas, estão dificuldades respiratórias, coriza, olhos lacrimejantes, febre, além de diarreia e sintomas neurológicos, como dificuldade de locomoção. “Desta forma, é muito importante reforçar as medidas de biossegurança nas granjas avícolas”, afirma.
O vírus da IA, classificado como H5N1, é de alta patogenicidade e já foi identificado em diversos países das Américas desde meados de 2022, afetando aves selvagens, aves de fundo de quintal, aves comerciais e mamíferos.
“No caso da cadeia avícola, se um vírus dessa magnitude conseguir afetar as aves, haverá impactos no comércio, especialmente na exportação, pois o País perderá o status de livre desta enfermidade”, destaca.
Como pode afetar os seres humanos
A segurança alimentar pode ser prejudicada diante de um surto da gripe aviária, visto que muitas aves poderão morrer ou terão que ser sacrificadas, conforme os protocolos estabelecidos para contenção do espalhamento da doença. Pode ocorrer, portanto, um desabastecimento de carne de frango e ovos, que são fontes de proteínas muito relevantes na alimentação da população.
Quanto ao consumo de carne de frango de aves que possam estar contaminadas sabe-se que o cozimento inativa o vírus, então não haveria risco de contaminação.
O vírus é transmissível às pessoas?
“Sim, é um vírus com potencial zoonótico, podendo afetar seres humanos”, avisa Flavia. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), entre 2003 e janeiro de 2023, foram registrados 868 casos humanos de infecção por H5N1.
Sabe-se que, quanto mais o vírus circular, maior a chance de haver contaminação esporádica de pessoas, seja por contato com aves infectadas ou mesmo ambientes contaminados. Os casos de contaminação geralmente acontecem por convivência muito próxima com as aves, seja no ambiente doméstico ou mesmo no ambiente da produção industrial.
Na América do Sul, em 2023, foram relatados os dois primeiros casos em seres humanos, um no Equador e outro no Chile. “No contexto da Saúde Única, que é uma abordagem transdisciplinar onde se entende que a saúde animal, humana e do meio ambiente são integradas, a Influenza Aviária é uma das enfermidades mais relevantes neste momento, necessitando da união de esforços para evitar um cenário de disseminação deste vírus e suas consequências”, alerta.
Ministério da Agricultura indica ações
O Ministério da Agricultura e Pecuária endossa a necessidade de cuidados. Segundo nota publicada pela pasta, “infecções humanas pelo vírus da Influenza Aviária podem ser adquiridas, principalmente, por meio do contato direto com aves infectadas (vivas ou mortas)”. Deste modo, toda população que, ao avistar aves doentes, deve acionar o serviço veterinário local ou realizar a notificação por meio do e-Sisbravet. “Não se deve tocar e nem recolher aves doentes”, indica o ministério.