Fecoagro espera compensar perdas com estiagem na safra de inverno

Embrapa Trigo alerta para possibilidade de incidência do fenômeno El Niño no segundo semestre

Por Claudio Medaglia

Após seca, produtor deve ficar atento aos efeitos do El Niño na lavoura
Com a reta final da colheita das culturas de verão, mais uma vez frustradas pela estiagem no Rio Grande do Sul, o produtor começa a planejar o plantio das culturas de inverno para buscar garantir sua renda. Em algumas regiões gaúchas, os agricultores já iniciaram o plantio da canola, segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS).

Conforme o presidente da entidade, Paulo Pires, a expectativa agora é por anúncios de recursos oficiais para o custeio. "O produtor é muito resiliente e quer virar a página das duas últimas estiagens. E, para isso, é fundamental que tenhamos disponibilidade de recursos para financiamentos das lavouras de inverno", observa.

O dirigente reforça que o atual desafio é a queda acentuada dos preços agrícolas, mas também existe uma redução nas cotações dos insumos agrícolas. Pires salienta, ainda, que se o produtor fizer um bom seguro, com um bom Proagro e o clima colaborar, a perspectiva é de alcançar excelentes índices de produtividade, também trazendo resultados econômicos positivos. "Não resta muita alternativa para o produtor. Ele tem que ir atrás de renda, e as culturas de inverno até nos diferenciam do resto do País. Temos, sim, esta opção de transformar e ter uma renda para mitigar nossos prejuízos com a estiagem", complementa.
O ótimo desempenho do trigo e de outras culturas de inverno nas duas últimas safras de inverno no Estado faz crescer a expectativa e a esperança dos produtores. As condições climáticas favoráveis, por conta da incidência do La Niña, e a valorização dos grãos no mercado justificam a expectativa positiva, avalia Gilberto Cunha, meteorologista da Embrapa Trigo, de Passo Fundo.
Nesse período, observa o especialista, surgiram novos mercados potenciais para as culturas de inverno, não apenas como grãos mas também como ração para a indústria animal. Novos canais de exportação também se abriram, via porto de Rio Grande, e até a indústria de bioetanol ajudou a valorizar os produtos. E, nessa esteira, aumenta a possibilidade de uma repetição no tamanho da área a ser cultivada, talvez até com um pequeno aumento, pondera.
Ele alerta, entretanto, que a situação pode mudar neste inverno. É que o La Niña já encerrou sua atividade. E a projeção é de incidência do El Niño no segundo semestre de 2023, exigindo atenção especial dos produtores. “É uma condição climática de manejo mais difícil para controlar o excesso de umidade na primavera. Por isso, o produtor precisa usar uma gestão integrada de riscos, com diferentes períodos de semeadora, cultivares mais resistentes a doenças, um bom seguro agrícola, seja público ou privado, e atenção a doenças de espiga, como a giberela, além de não procrastinar o momento da colheita, uma vez que as chuvas em abundância afetam negativamente a qualidade dos grãos”, diz Cunha.
Apesar do alerta, com base nos efeitos do fenômeno climático em safras anteriores, o meteorologista ressalta as tecnologias de produção estão muito mais robustas que nas décadas de 1970, 80, 90 e até mesmo no início dos anos 2000. “Temos materiais genéticos mais avançados e técnicas de proteção de cultivo eficientes, resultado de uma curva de aprendizagem ao longo desse intervalo. E que precisa ser observada por produtores e assistentes técnicos para uma safra mais segura e rentável”.