Diretoria da Languiru anuncia renúncia coletiva

Uma assembleia geral extraordinária foi convocada para eleger e dar posse ao novo Conselho de Administração

Por Claudio Medaglia

Dirceu Bayer, presidente da Languiru
Em meio a um turbilhão que parece não ter fim, a Cooperativa Languiru Ltda, de Teutônia, no Vale do Taquari, vive novo momento de turbulência. Em decisão tomada na segunda-feira (17), todos os membros do Conselho de Administração, presidente e vice-presidente renunciaram aos cargos. Dirceu Bayer ocupava a presidência da cooperativa desde 2002.
O episódio é mais um a convulsionar o ambiente entre as famílias dos 5.709 associados da Languiru, receosos quanto ao futuro da empresa, que patina em dívidas que rondam a casa do R$ 1 bilhão junto a agentes financeiros, fornecedores e prestadores de serviço. A situação saiu do controle nos últimos anos, quando uma série de investimentos em modernização das unidades foram feitas e circunstâncias do mercado, como a alta do preço de insumos como milho e farelo de soja, fundamentais para a alimentação de aves e suínos comprometeram o caixa da empresa.
Uma assembleia geral extraordinária foi convocada para o próximo dia 29, quando ocorrerá a eleição e posse da nova administração. Até lá, a Superintendência Administrativa, Comercial e Financeira e a Superintendência Industrial e de Fomento Agropecuário respondem pela cooperativa. Procurados pelo Jornal do Comércio, a Languiru respondeu, por meio de sua assessoria de comunicação, que se manifestaria única e exclusivamente, de forma oficial e institucional, por meio do comunicado emitido à imprensa.
Recentemente, uma negociação entabulada com o conglomerado chinês ITG Tianjiao e TJJT apontou para a venda de parte dos ativos da Languiru e a internacionalização de seus produtos de aves, suínos, bovinos e rações. Uma semana antes, uma parceria com a francesa Lactalis deu novos destinos à produção leiteira dos cooperados, em uma primeira tentativa de recompor as finanças da Languiru.
O protocolo de intenções assinado entre a cooperativa e o grupo asiático no final de março e aprovado pelos associados em assembleia era considerado a tábua de salvação para recolocar a cooperativa nos trilhos. O resultado da assembleia foi recebido com alívio pelo então presidente, Dirceu Bayer, que planejava um novo momento para a cooperativa a partir do sinal verde para dar sequência à negociação. Mas o clima seguiu pesado, e diferentes versões indicam que havia restrições à forma de administração da cooperativa pelos associados.
“O que se ouve por aqui é que os agentes financeiros credores estavam travando as negociações, e que os chineses também queriam a troca no comando da Languiru. Foi uma decisão sábia deles em sair, para evitar que fossem retirados por alguma via judicial. Acredito que tudo possa mudar daqui para a frente, com uma nova diretoria”, diz o associado Roberto Oliveira, que produz e entrega leite à cooperativa.
Para Elaine Zwirtes, de Estrela, cooperada da Languiru há mais de 30 anos, a própria negociação com a ITG e a TJJT pode ser afetada. Ela teme pelo futuro da empresa à qual a família vincula toda sua produção de leite.
“Sinceramente, com as dívidas que a cooperativa tem, não sei se ainda tem recuperação sem fazer maiores vendas. Porém, quem poderá dizer isso será só quem assumir esse cargo e ver realmente qual a verdadeira situação em que a cooperativa se encontra”, pondera Elaine.
Especula-se que os chineses estivessem planejando alterar o formato da negociação originalmente alinhavada, querendo até mesmo adquirir a totalidade da cooperativa. Procurado pelo Jornal do Comércio para comentar a nova situação e o possível impacto sobre a negociação com a Languiru, o vice-presidente de Mercado Internacional do grupo ITG Tinjiao, Jinhao Zhang, não respondeu até o fechamento desta edição.