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Agro

Ovinocultura

- Publicada em 06 de Abril de 2023 às 17:39

Lã gaúcha certificada reacende interesse de indústrias uruguaias

Lã de melhor qualidade produzida no Rio Grande do Sul alcança valorização até 90% superior no Uruguai sobre o mercado nacional

Lã de melhor qualidade produzida no Rio Grande do Sul alcança valorização até 90% superior no Uruguai sobre o mercado nacional


ARCO/DIVULGAÇÃO/JC
Uma iniciativa lançada há cerca de dois anos pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) está restabelecendo o interesse das indústrias uruguaias pela lã nacional. A partir da adoção de padrões de produção e esquila, buscando fios mais finos, limpos e resistência a lavados, com base em um programa de certificação, os produtores brasileiros vêm obtendo valorização até 90% superior na exportação sobre os valores praticados no mercado interno, que absorve pouco mais de um terço da safra anual, em torno de 9 milhões de quilos.
Uma iniciativa lançada há cerca de dois anos pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) está restabelecendo o interesse das indústrias uruguaias pela lã nacional. A partir da adoção de padrões de produção e esquila, buscando fios mais finos, limpos e resistência a lavados, com base em um programa de certificação, os produtores brasileiros vêm obtendo valorização até 90% superior na exportação sobre os valores praticados no mercado interno, que absorve pouco mais de um terço da safra anual, em torno de 9 milhões de quilos.
Os resultados vêm, aos poucos, restaurando a imagem e a expectativa dos criadores brasileiros de ovinos – o Rio Grande do Sul é responsável por quase a totalidade da lã produzida no País. Se em 2021 foram embarcados perto de 30 mil quilos em consequência do programa, o número já superou os 100 mil quilos no ano passado. “É um trabalho de paciência e que não irá retornar a parâmetros de décadas atrás do dia para a noite. Mas o mercado, hoje, quer atenção com o bem-estar animal, sustentabilidade, colheita e limpeza na lã. E estamos, aos poucos, voltando a atender essa demanda”, diz o presidente da entidade, Edemundo Gressler.
Entre as orientações ao produtor estão a qualificação do esquilador e o acondicionamento dos melhores velos em embalagens, que serão identificadas com o selo de qualidade do programa. Com a certificação, a Arco vem buscando estimular o criador a aperfeiçoar sua produção conforme as demandas do mercado. Com as indústrias brasileiras em momento de “timidez”, nas palavras do dirigente, surgiu no horizonte a retomada do interesse uruguaio.
“Já tivemos 12 milhões de ovinos no rebanho nacional, que hoje está reduzido a um quarto desse total. O momento da ovinocultura não é bom, mas aos poucos vamos avançando. O programa não tem o viés do crescimento rápido das exportações. É preciso que o produtor entenda a importância da qualificação de métodos e dos produtos, além de ter paciência”, destaca o presidente da Arco.
Neste ano, uma parcela ainda pequena de lã já foi embarcada para o Uruguai. Gressler observa que o programa ainda é incipiente e que poucos produtores, de diferentes municípios gaúchos, estão inseridos na ação. Mas acredita que a caminha será de sucesso. Na última semana de março, duas empresas uruguaias que fazem a intermediação entre o produtor e a indústria estiveram reunidas com a Arco para ajustar detalhes sobre as transações.
Conforme Sérgio Muñoz, técnico responsável pelo programa de certificação da Arco, o objetivo é também estimular compradores nacionais a se integrarem. “Nós estamos mandando lã para o Uruguai porque hoje é a alternativa, mas estamos conversando com a indústria brasileira porque queremos que ela também entre no programa”, destacou o responsável pela certificação.
As dificuldades enfrentadas no mercado de lã não são muito diferentes do que passa a cadeia da carne ovina. Com menor consumo, o produtor desanima e acaba migrando para outro modelo de atividade, que considera mais eficiente, como a pecuária bovina ou o plantio de soja, exemplifica o dirigente da Arco.
“Mas a ovelha e a lã já pagaram todas as contas das estâncias quando surgiu a Arco, em 1942. Hoje, a atividade está mais concentrada nas pequenas e médias propriedades, enquanto as grandes sucumbiram à sucessão familiar. A ovinocultura teve papel extraordinário para o Estado. E, conduzida com critérios e cuidados básicos, pode, sim, ser contribuir para a renda das propriedades”, aponta Edemundo Gressler.
A entidade vem trabalhando para revitalizar antigas parcerias comerciais e identificar novos nichos para seus produtos. Tanto que pediu ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, que procurasse reabrir as relações do setor com a China, que antes da pandemia de Covid-19 importava lã brasileira, mas fechou diversas fábricas na Ásia e parou de comprar. Há poucos dias, uma reunião entre frigoríficos e produtores foi organizada para que ambos os lados pudessem entender os gargalos do outro e, assim, procurar atendê-los, na medida do possível.
Igualmente, prospecções de novas formas de aplicação da lã vêm sendo feitas. Entre as alternativas estão o uso como mantas protetoras para placas de energia solar, aplicação entre paredes de cimento, para dar maior conforto térmico e acústico, sob coberturas de zinco e também em substituição às lâminas de vidro usadas em casas-contêineres, que são altamente inflamáveis.
“Por que não usar lã nesses casos? O produtor precisa entender que haverá produtos de qualidades diferentes para variadas formas de aplicação e valores. Costumo dizer que a lã é o espelho da ovelha. Se o animal estiver em boas condições de sanidade, adequadamente nutrida e com manejo correto ao longo do ano, sua lã será melhor. Sou um entusiasta. Acredito que a situação vai melhorar. Mas as rédeas do destino da atividade estão nas mãos do produtor”, concluiu Gressler.