Os associados da Cooperativa Languiru aprovaram no início da tarde desta quinta-feira (30) a sequência das negociações para formação de parceria com o grupo chinês ITG Tianjiao e TJJT. O acordo, autorizado por quase a totalidade dos votos, após após longo debate na assembleia geral ordinária da empresa que se iniciou às 8h30min, prevê a venda do controle das operações de aves, suínos, bovinos e rações, como estratégia global do grupo estrangeiro com atuação no ramo de alimentação, e é considerado vital para dar fluxo de caixa e recompor as dívidas da cooperativa. A Languiru tem sede em Teutônia, no Vale do Taquari, e já somam R$ 1 bilhão junto a agentes financeiros, fornecedores e prestadores de serviços.
A partir da decisão tomada pelos cooperados, a diretoria está autorizada a avançar nas tratativas com os asiáticos, com os quais firmou, na semana passada, protocolo de intenções para criação de uma joint venture. Uma comitiva chinesa deverá vir ao Estado nos próximos dias e dar início a um processo de due diligence, uma investigação completa e detalhada dos números, patrimônio, estrutura e potenciais dos ativos da Languiru. O trabalho será acompanhado pelos Conselhos de Administração e Fiscal da Languiru, além de comissões escolhidas pelos associados. Após avaliar a situação, eles definirão se mantêm o interesse no acordo e quais seriam os valores propostos para a aquisição do comando desses segmentos.
“Os associados são donos da cooperativa. A decisão tomada em assembleia geral ordinária é a alternativa para que a Languiru consiga superar esse momento de extrema dificuldade, para a continuidade, também, das atividades nas propriedades rurais dos associados. Vamos superar essa fase de mãos dadas”, destacou o presidente Dirceu Bayer, agradecendo a participação do quadro social e a serenidade na tomada de decisões pelo “futuro da Languiru”.
Em meio a outras oportunidades, o presidente destacou que a negociação com os chineses é a mais adiantada e melhor alternativa de parceria apresentada até o momento. “Vamos olhar para frente, a decisão tomada foi muito sábia e nos possibilita dar andamento às tratativas. Obrigado pelo voto de confiança e, no momento em que qualquer negociação de parceria for efetuada, os associados serão os primeiros a saber”, concluiu.
Apesar do alto acolhimento da proposição, não foi uma definição tranquila. Antes de votar, muitas explicações e esclarecimentos foram pedidos à diretoria pelos cerca de 750 participantes do encontro. Hesitosos quanto aos termos do possível acordo, muitos temiam pela perda da capacidade de participação efetiva nas decisões estratégicas da nova empresa, cujo maior percentual em todos os setores deverá ficar em mãos orientais, conforme adiantou na semana passada o vice-presidente de Mercado Internacional da ITG, Jinhao Zhang, e ratificado pelo presidente da Languiru, Dirceu Bayer, na terça-feira.
No encontro, também foram aprovadas as contas do exercício de 2022. Uma votação secreta chegou a ser sugerida por um pequeno grupo, mas a ideia acabou rechaçada pela maioria. Entretanto, os honorários mensais de todos os membros da diretoria foram redefinidos com redução de 50% sobre os valores atuais. A medida é uma forma de auxiliar a controlar as finanças da cooperativa até a situação melhorar e foi acolhida com naturalidade.
Em ano de extrema dificuldade, o resultado líquido do período foi negativo, apesar do faturamento bruto de R$ 2,765 bilhões, com crescimento de 21,8%. Na participação dos segmentos, o setor de aves correspondeu a 30,08%, leite 20,45% e suínos 19,44%. Supermercados, rações, lojas Agrocenter, postos de combustível, bovinos de corte e farmácias corresponderam aos 30% restantes. O desempenho por segmento também foi detalhado e, a pedido dos associados, as demonstrações financeiras de todas as filiais foram apresentadas.
Sobre investimentos, foram contabilizados R$ 82,5 milhões, aportados principalmente na infraestrutura das unidades industriais, com maquinário, construções e manutenção.
“O custo financeiro, com elevação das taxas de juros, impacta muito na Languiru e, em 2022, registrou acréscimo de R$ 79 milhões. Ou seja, a Cooperativa precisou desse valor extra para que pudesse manter ativas as suas atividades, o ciclo produtivo. Foi necessária a captação de recursos para capital de giro, e o custo do dinheiro foi muito elevado”, explicou o superintendente Administrativo, Comercial e Financeiro, Rafael Lagemann, citando ainda dificuldades em virtude do alto custo de produção, especialmente do milho e da soja. “O impacto disso representa outros R$ 40 milhões no nosso custo. São apenas dois dos fatores de mercado que prejudicam diretamente os nossos negócios.”
O superintendente Industrial e de Fomento Agropecuário, Anderson Xavier, falou sobre a atuação da cooperativa no mercado externo, que representou R$ 85,4 milhões em exportações no último ano. Estamos buscando novas habilitações para ampliarmos as exportações. Para a China, por exemplo, almejamos habilitação desde 2009. Em 2022, o volume de negócios com o mercado externo no setor de aves representou cerca de 15%; e de suínos aproximadamente 5% do volume”, finalizou.