Um protocolo de intenções deve ser assinado nesta quarta-feira (22) entre a Cooperativa Languiru, de Teutônia, e as chinesas ITG e TJJT. O acordo, que vem sendo negociado há semanas, é a primeira etapa do processo de venda da operação de aves e suínos ao grupo asiático, medida emergencial para evitar a paralisação das atividades da Languiru, que enfrenta graves problemas financeiros. A cooperativa tentava, nas negociações, preservar pelo menos 20% dos negócios.
A interlocução com os chineses se iniciou por meio da intermediação do governo do Estado, que ajudou na prospecção de investidores para garantir a manutenção do funcionamento da cooperativa. Pressionada por dívidas cujas cifras são de pelo menos R$ 800 milhões junto a fornecedores, agentes financeiros e prestadores de serviços - embora se especule que o montante supere o dobro desse valor -, a administração da Languiru vê os estoques de ração para os suínos e aves alojados se esgotarem. Por isso, a empresa iniciou ainda no ano passado um processo de reestruturação. A necessidade de aporte financeiro imediato é considerada vital para evitar inclusive a morte dos animais por falta de comida, conforme interlocutores do setor ouvidos pelo Jornal do Comércio na noite desta terça-feira (21).
Em outro movimento para tentar controlar a crise financeira, na semana passada a Languiru já havia anunciado a formação de parceria com a Lactalis do Brasil para fortalecer a produção de lácteos no Rio Grande do Sul e ampliar a assistência aos produtores. Pelo acordo, a cooperativa fornecerá à Lactalis, em um contrato de cinco anos, todo o volume de leite in natura de seus produtores. Em nota, as empresas informaram que a parceria garantirá o pagamento aos produtores e transportadores de leite e apoiará a Languiru em projetos de melhoria da produtividade no campo.
O acordo contempla, também, a produção de lácteos pela Lactalis para Languiru, otimizando os custos industriais para ambas as empresas e permitindo acesso a uma maior diversificação de portfólio à cooperativa. Na ocasião, o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, disse que a parceria com a Lactalis faz parte do processo de reposicionamento da cooperativa.
O clima de tensão entre a diretoria da cooperativa e os associados é forte e vem de longa data. Com investimentos elevados nos últimos anos, apostando na formação de uma estrutura de ponta para faturar alto no mercado, a Languiru viu as dificuldades crescerem na proporção e no ritmo do aumento dos custos de produção e dos insumos básicos para a produção de proteína animal.
“Agora, chegamos a um ponto que é decisivo. Ou a empresa vende seus ativos para poder respirar, ou quebra de vez”, analisa o representante de um sindicato de trabalhadores rurais da região que acompanha de perto a situação.
A crise tomou novas dimensões na tarde desta terça-feira, quando centenas de associados, produtores e funcionários se reuniram em frente à sede administrativa, reclamaram das decisões tomadas pela direção da empresa, principalmente contra a venda dos frigoríficos de aves e suínos, fábrica de rações e laticínios. A situação, que já vinha sendo especulada, foi relatada pelo presidente Dirceu Bayer em reunião realizada no último dia 17. Contrariados, eles pediam na manifestação mais transparência e informações, maior participação nas negociações e a saída dos integrantes dos conselhos de administração e fiscal, além da não aprovação das contas da atual gestão na Assembleia Geral Ordinária, prevista para o próximo dia 30.
Os associados exigiram acesso a dados exatos quanto à dívida e vendas da Languiru, além das cláusulas de vendas das parcerias que a empresa concretizou e busca concretizar. Eles criticaram ainda a venda dos prédios dos mercados de Teutônia e Arroio do Meio. Os termos da negociação com as empresas chinesas serão revelados a partir das 10h30min, no Hotel Hilton, em Porto Alegre, local escolhido pelos parceiros para divulgação de Fato Relevante ao Mercado.