Azeite extravirgem nacional abre guerra contra importados 'desonestos'

Iniciativa foi deflagrada durante coletiva sobre a 11ª Abertura Oficial da Colheita de Oliva, que ocorre em 9 de fevereiro, em Cachoeira do Sul

Por Claudio Medaglia

Fernandes (E) e Feltes deflagraram campanha contra desinformação em rótulos de azeite de oliva importados em evento nesta quarta-feira
Premiado centenas de vezes nos principais concursos mundiais, o azeite de oliva extravirgem brasileiro precisa superar o preconceito e a desinformação do consumidor nacional para se estabelecer no País. O alerta foi lançado nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), juntamente com a campanha “Azeite Virgem não é Azeite Extravirgem”, durante coletiva de imprensa sobre a 11ª Abertura Oficial da Colheita da Oliva. O evento ocorrerá no dia próximo 9, na Biome Pampa, em Encruzilhada do Sul.
O desagravo partiu do presidente da entidade, Renato Fernandes. “O Brasil consome 99,5 milhões de litros de azeite de oliva importado rotulado na origem como extravirgem, mas praticamente todos são virgens. O consumidor compra pelo rótulo e pelo preço, muito inferior ao nacional. Mas não sabe que está levando para a sua mesa algo diferente do que aquilo pelo que pagou. É uma disputa desonesta”.
Apoiado pelo secretário da Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Estado, Giovani Feltes, o dirigente explicou que testes fisioquímicos e sensoriais feitos em laboratórios reconhecidos pelo Conselho Olícola Internacional (COI) no Brasil e no exterior já atestaram a diferença entre a classificação nos rótulos e o conteúdo de garrafas de diferentes marcas importadas. E que, inclusive, fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária já estão agindo, principalmente nos portos de Itajaí (SC) e Foz do Iguaçu (PR), por onde entra a maior parte das importações do produto.
“Esse mercado movimenta cerca de US$ 500 milhões. E importadores têm sido autuados e tido os produtos apreendidos por conta da irregularidade. O consumidor pode optar pelo consumo do azeite importado. Mas deve ter o direito de saber que o que está comprando não é azeite extravirgem, mas virgem, cujos níveis de gordura, acidez e outros componentes são mais elevados. Nós, no Brasil, optamos pela honestidade. Envazamos o que declaramos nos rótulos das embalagens”, afirma Fernandes.
Para vencer a barreira mercadológica, Fernandes pede apenas que o consumidor experimente o azeite nacional. “Basta abrir a garrafa, cheirar e provar. A diferença sensorial salta à percepção mesmo de quem não conhece o tema com profundidade.
Segundo colocado no ranking mundial de consumo e importação do produto, o Brasil produziu 500 mil litros de azeite extravirgem na safra passada, o que corresponde a 0,5% do consumo. O Rio Grande do Sul respondeu por 89,6% desse total, ou 448 mil. “É um setor que se expande, com qualidade e reconhecimento internacional. Em um curto espaço de tempo (a atividade é desenvolvida comercialmente há cerca de 10 anos, apenas), alcançamos patamares de excelência. Os empreendedores aportam técnica e eficiência, alcançando qualidade excepcional”, diz o secretário Giovani Feltes.
De fato, a produção brasileira tem conquistado posições de destaque entre avaliadores do mundo todo. Somente no ano passado foram 130 premiações conquistadas pelos lagares nacionais. A maioria deles em solo gaúcho. Atualmente, cerca de 6 mil hectares são plantados com oliveiras no Rio Grande do Sul, em 11º municípios, sendo 4 mil hectares já em produção. Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Emater-RS apontam que o estado tem potencial para implantar 1 milhão de hectares com a cultura.
“Já dominamos completamente a atividade. Escolhemos as variedades mais adequadas aos nossos microclimas e solos, somos muito eficazes no manejo dos pomares e fazemos a colheita no momento certo, processando as frutas em até 12 horas, o que resulta em produtos de alta gama”, enfatiza o presidente do Ibraoliva.
A garantia de qualidade pode ser ratificada pelo selo Ibraoliva Produtos Premium RS – Origem e Qualidade, iniciativa do programa Produtos Premium, criado em 2020 pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Fernandes ressalta que durante séculos os europeus difundiram a ideia de que a atividade não tinha condições de ser desenvolvida no País. Segundo ele, para garantir a proteção ao mercado daqueles países.
Atualmente, são mais de 70 marcas nacionais buscando seu espaço. O Rio Grande do Sul conta com 18 lagares- locais em que se produz o azeite de oliva - em atividade e outros dois estão em construção. Se o tempo ajudar e a chuva chegar em fevereiro, a expectativa é de uma produção de até 550 mil litros de azeite extravirgem no Rio Grande do Sul.
O potencial da atividade está fazendo surgir um novo nicho. No ano passado, o olivoturismo fez cerca de 500 mil pessoas visitarem propriedades para conhecer e adquirir produtos no roteiro gaúcho do setor, principalmente em Gramado, Viamão e Caçapava do Sul, onde as estruturas de algumas empresas já estão bem estabelecidas. Fernandes vê atividade uma oportunidade de recolocar a Metade sul no mapa econômico gaúcho. “Essa é uma região com grande vocação para a olivicultura. Temos aqui uma bandeira social importante, que poderia estabelecer a retomada do crescimento para uma parte do estado que enfrenta dificuldades há décadas”, completa Renato Fernandes.