Primeiro município a decretar emergência pela estiagem ainda espera por auxílio

Em Tupanciretã, quase nada mudou 45 dias depois do reconhecimento do status pela União em 1º de dezembro

Por Claudio Medaglia

Estiagem em Tupanciretã
Passados 45 dias do reconhecimento pela União do decreto de situação de emergência assinado pelo prefeito de Tupanciretã, Gustavo Herter Terra, o político decidiu, nesta segunda-feira, pegar a estrada rumo à Capital. A ideia é acampar na porta do palácio Piratini até conseguir ser recebido pelo governador Eduardo Leite ou pelo secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos.
É que desde o decreto, em 1º de dezembro, passando pelo reconhecimento pelo governo federal, 15 dias depois, nada, ou quase nada mudou no município, primeiro a adotar a medida no Estado.
"Recebemos um reservatório móvel para armazenamento e transporte de água potável a dezenas de famílias que ficaram desabastecidas. Há cerca de 15 dias, foram abertos dois poços artesianos, em iniciativa do governo estadual. A prefeitura construiu 480 bebedouros com recursos próprios, e os recursos anunciados no ano passado pelo Estado para a construção de outros 12 só chegaram agora", conta Terra.
O inverno com pouca chuva impediu a recuperação dos mananciais da região. Vertentes e banhados estão secos. A situação é grave, razão pela qual o prefeito adotou tom crítico na análise dos entraves que impedem a reserva de água em áreas de preservação permanente.
"A legislação tem de deixar de ser ideológica. É preciso reservar água em banhados, nas baixadas. Não nas coxilhas".
Terra quer atenção e socorro do Estado para as comunidades que integram a Associação dos Municípios da Região central do Estado (AmCentro).
"Temos pautas emergenciais, como a disponibilização de maquinário para a construção de reservatórios. E permanentes, como o fornecimento de sementes para replantio das lavouras perdidas. Na maioria das lavouras de milho de sequeiro, a quebra foi de 100%", lamenta Gustavo Terra.
Laudo técnico emitido pelo escritório local da Emater em 27 de janeiro apontava que os prejuízos no município que há mais tempo sofre com a estiagem já chegava a R$ 326,4 milhões. Julieta Lopes, presidente do Sindicato Rural de Tupanciretã, imagina que a perda real seja ainda superior à calculada pelos técnicos dos diferentes órgãos e entidades que acompanham a crise.
"Na soja, deve passar de 25%. Tínhamos esperança na chuva para essa semana, mas a gente olha o céu e vê que ela já foi embora. Quem tem pecuária enfrenta aumento de gastos com alimentação dos animais. E até a silagem não rende. Sem água nas barragens, não foi possível nem mesmo finalizar o ciclo do milho cultivadas com pivô central, pois, sem chuva, as nascentes dos rios Toropi e Jaguari estão baixas”, conta.
A situação é ainda mais grave entre os pequenos produtores. Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tupanciretã e Jari, Eloadir Reis destaca que já são três anos consecutivos sendo castigados pelo clima.
“Precisamos de ações, de medidas concretas. Mas até agora não obtivemos nenhuma resposta efetiva”, reclama Reis.
Nesta segunda-feira, até as 19h, o prejuízo econômico já batia na casa dos R$ 6,128 bilhões nas planilhas da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). O cálculo abrangia informações de 126 municípios que se reportaram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).
A agricultura deixou pelo caminho R$ 4,7 bilhões, enquanto a pecuária já consolidou perdas de R$ 1,4 bilhão. E havia ainda R$ 11,4 milhões em custos com transporte de água potável para as comunidades onde falta. Das 219 prefeituras que informaram declaração de situação de emergência, 190 já tinham decretos vigentes, sendo 92 homologados pelo Estado e 74 reconhecidos pela União.