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AGRONEGÓCIO

- Publicada em 12 de Janeiro de 2023 às 20:48

Estiagem impõe desafios à pecuária gaúcha

Pecuária de corte no Rio Grande do Sul abre 2023 com os desafios em razão da estiagem

Pecuária de corte no Rio Grande do Sul abre 2023 com os desafios em razão da estiagem


WENDERSON ARAUJO/TRILUX/CNA/DIVULGAÇÃO/JC
Com uma desvalorização de 17% no preço do boi gordo e de 19% na vaca gorda em 2022, sem levar em conta a inflação do período, a pecuária de corte no Rio Grande do Sul abre 2023 com os desafios potencializados pela estiagem. A análise é do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Com uma desvalorização de 17% no preço do boi gordo e de 19% na vaca gorda em 2022, sem levar em conta a inflação do período, a pecuária de corte no Rio Grande do Sul abre 2023 com os desafios potencializados pela estiagem. A análise é do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
A situação se agrava para o setor na medida que, com o gado pronto desde a primavera e sem oferta de água e pastagens, o produtor se obriga a vendê-lo, deixando os frigoríficos repletos. E, na lógica de mercado, oferta demais, preço de menos. Além disso, a entrada de zebuínos vivos de outros estados para abate no Rio Grande do Sul ameaça inviabilizar a atividade em solo gaúcho.
"Nos preocupa a queda no preço do boi gordo, que na última semana já é sinalizada pelas indústrias. O prejuízo de agora ao produtor vai atingir o consumidor na segunda metade de fevereiro, quando, sem gado para abate, o preço da carne deverá aumentar. Além do mais, os frigoríficos que estão adquirindo carne zebuína de outros estados, hoje mais barata que a bovina produzida aqui, vão matar o setor no Rio Grande do Sul. E depois ficarão a mercê dos outros mercados", projeta o presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luis Felipe Barros.
Conforme o dirigente, será preciso provocar uma grande discussão entre produtores, o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs) e varejo para rever posturas.
"Vamos provocar essa discussão sobre estiagem, oferta e preço. Algo terá de ser feito. O consumidor quer preço. Daqui a pouco vamos acabar retrocedendo em qualidade para ofertar produtos mais baratos. Estamos vendendo Porsche com preço de carro popular", avisa.
Barros olha o cenário repetitivo de perdas com a falta de água com descontentamento. As estiagens já são parte do contexto gaúcho. Algumas, mais severas, como a atual e a anterior, são raras.
"Mas já deveríamos ter nos adaptado. Vemos os animais perderem peso ao fim do desmame, os ventres reduzindo taxas de prenhês, a redução na produção de terneiros no ano seguinte. A seca traz muitas consequências econômicas. A repetição do cenário impõe aumento dos custos aos grandes e tecnificados produtores. Coloca os médios em situação limite. E inviabiliza os pequenos".
Barros entende que os riscos poderiam ser minimizados, com reserva de água, incentivos para aquisição de estruturas de irrigação para pastagens de verão e campo nativo. "Isso sim, deveria ser papel do Estado facilitar, encontrar meios, desburocratizar, reduzir tributos. Há discursos, mas a prática ainda não aconteceu como precisaria", lamenta.  
 

Entidades cobram esforços do governo no combate à seca no Estado

A análise de Barros ganha respaldo nas palavras do presidente da Associação de criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador. Ele considera pertinente a reunião do Fórum Permanente de Combate à Estiagem, ocorrida na quarta-feira. Mas diz que os setores precisam estar cada vez mais presentes na discussão.
"Chuva é que resolve seca. Mas o Estado pode ajudar, com redução de tributação para equipamentos de irrigação, facilitar para o produtor fazer barragens e açudes, buscando adequar legislação ambiental, retirando amarras burocráticas para armazenar água da porteira pra dentro. Claro que respeitando a legislação ambiental", pondera o dirigente.
Segundo ele, algumas burocracias não ajudam, mas impedem ações de prevenção pelo produtor. "O governo pode atuar como facilitador de políticas públicas e reduzir a tributação para quem deseja investir".
Na suinocultura, o produtor independente enfrenta um dilema. Com o custo de produção estimado pela Embrapa em R$ 7,80 o quilo vivo, a venda dos animais às indústrias sai por cerca de R$ 6,00, diz Folador.
Ele observa que a estiagem não chega a prejudicar o desenvolvimento dos animais, porque o produtor se obriga a manter o padrão de qualidade. Apesar do aumento no preço na saca de milho, que poderia estar a R$ 82,00, mas já bate em R$ 95,00. Por conta da quebra na produção, é preferível fornecer a quantidade diária necessária aos animais.
"Se pensar em economizar nisso, o prejuízo será maior, pois o animal vai perder desempenho. Vemos um aumento do custo de produção, mas é preciso seguir em frente".
Onde a estiagem é mais severa, as granjas sofrem com escassez de água. Mas o produtor tem de dar jeito para os animais não passarem sede, com poços superficiais ou artesianos. Nesses locais, as prefeituras transportam água até as granjas para manter os animais alimentados e hidratados.
"O calor causa desconforto. Mas grande parte das granjas tem sistema de ventilação ou aspersão para aliviar, para que os animais possam expressar todo o potencial, manter desempenho máximo de desenvolvimento e chegarem ao peso ideal para a entrega. A média dos suínos que seguem para os frigoríficos é de 125 quilos a 130 quilos", diz Folador.
Com ou sem estiagem, a produção de suínos segue o padrão recomendado para a melhor performance possível. Se não cuidar adequadamente, o prejuízo aumenta ainda mais. Então, mesmo com alguma, é melhor seguir mantendo o padrão de assistência aos animais.
Enquanto isso, os produtores integrados a cooperativas ou agroindústrias conseguem receber um valor constante, que, embora não dê lucro, não gera prejuízo. Para isso, porém, precisam manter índices de produção, como conversão alimentar, ganho de peso e mortalidade.

Problema é 'localizado', aponta IBGE

Na safra passada, a seca na Região Sul provocou uma quebra na produção de soja

Na safra passada, a seca na Região Sul provocou uma quebra na produção de soja


Wenderson Araujo/CNA Agro/Divulgação JC
A seca no Rio Grande do Sul preocupa em relação a seus efeitos sobre a produção de grãos mas, este ano, o problema parece mais 'localizado' em comparação com o ocorrido no verão passado. A afirmação foi realizada ontem por Carlos Barradas, gerente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na safra passada, a seca na Região Sul provocou uma quebra na produção de soja, com um tombo de 11,4% ante 2021. "Ano passado (no verão de 2021 para 2022) foi 'sui generis'. (Na safra atual) Estamos esperando alguma perda lá (no Rio Grande do Sul), mas temos de aguardar para ver e não deverá ser da forma que foi em 2022. Dizem que o (fenômeno climático) La Niña deste ano será mais fraco. Ano passado, a seca foi até o Paraná e pegou Mato Grosso do Sul", afirmou Barradas.
Com a seca mais localizada, o IBGE continua projetando um novo recorde de produção na safra atual - a safra de 2022 já havia sido recorde, apesar da quebra na produção de soja.
O terceiro e último Prognóstico da Produção Agrícola projeta produção de 296,209 milhões de toneladas em 2023, um salto de 12,6% em relação ao resultado de 2022.
Segundo Barradas, além do fato de a seca deste verão estar mais localizada no Rio Grande do Sul, outros fatores sustentam a projeção de recorde.
Um deles é que a estiagem restrita ao extremo sul afeta menos a segunda safra de milho - que responde pela maior parte da produção total nacional -, já que os produtores gaúchos destinam a segunda colheita para ração animal.