Não para de crescer a lista de municípios gaúchos que, desde 1º de dezembro de 2022 declararam situação de emergência por conta dos efeitos da estiagem. Em 24 horas, o número aumentou mais de 40%, passando de 30 prefeituras para 43, conforme a Defesa Civil Estadual, às 17h30min desta quarta-feira (4). A escassez hídrica atinge áreas urbanas e rurais, lavouras não irrigadas e até mesmo as irrigadas, com impacto também nos tambos.
A preocupação chega sem discriminar para pequenos e grandes produtores, assim como para a nova administração do Piratini. A equipe da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação sequer concluiu a transição de governo e ainda procura tomar pé da situação para definir as primeiras ações.
O quadro pelo Interior é delicado, especialmente na metade oeste do mapa do Estado. De norte a sul do Estado, em maior ou menor intensidade, a chuva é artigo que faz falta. Clênio da Silva Amaral, secretário de Agricultura de Condor, na Região Noroeste, ainda comemorava o fato de que todo o município era abastecido com água potável, proveniente de quatro poços artesianos construídos pela prefeitura.
“Ainda não falta água para abastecimento humano nem animal. Mas estamos analisando a situação para definir se e quando iremos declarar emergência. A quebra na safra de milho, basicamente desenvolvida por agricultores familiares, gira em torno de 90%. Além de não ter o grão, faltará silagem para o gado e, assim, em breve estaremos verificando redução na produtividade dos ventres leiteiros, e aqui temos grandes produtores”, conta.
Mesmo nas áreas com pivô central, já há perdas inevitáveis. Os cursos d’água vêm diminuindo, e a esperança se volta para o céu. Amaral revela que a administração municipal pretende reunir lideranças na próxima semana para discutir o tema e levar o temor ao governo.
“Ainda não podemos estimar o percentual de perda na soja, mas é certo que haverá, pois o desenvolvimento das plantas já é menor. E, a partir da próxima semana, elas entram em fase de enchimento de grão, o que ficará comprometido. Se houver chuva, poderemos ter uma produção regular. É o que resta”, diz o titular da pasta no município.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), que vem acompanhando relatos dos sindicatos rurais, também está em alerta. Marcelo Camardelli, coordenador da Comissão de Meio Ambiente da entidade, lembra que esta é a terceira safra de verão consecutiva com estiagem. E que o impacto econômico para o setor e a sociedade é “monstruoso”.
“Esse é um problema que se repete. E assim, vamos repetindo, também, a luta em torno de temas sobre os quais já avançamos um pouco, mas que ainda há muito a ser feito. Investimentos em irrigação, em reserva de água, são questões estruturantes, que mostrarão efeito em médio e longo prazo. E a estiagem, mais uma vez, é agora”.
Com uma safra de grãos plantada sobre 7 milhões de hectares de sequeiro e apenas 200 mil hectares irrigados, o Rio Grande do Sul precisa pensar adiante. Das 25 bacias hidrográficas do Estado, 10 já estão com sistema de alerta ou atenção.
“Esperamos que os modelos climáticos se confirmem e que vejamos a chegada de bom volume de chuvas em cerca de 10 dias. Isso irá aliviar a situação, mas há prejuízos que não se recupera mais. Temos de seguir trabalhando pela transversalidade das ações das secretarias de Meio Ambiente e de Agricultura no fomento à irrigação. Assim como a definição dos cursos d’água intermitentes ou perenes no mapa hídrico do Estado, pois isso influencia muito a liberação de licenciamentos para construção de barragens ou outras formas de reserva de água”.
Enquanto isso, a Defesa Civil vem procurando agir preventivamente, capacitando agentes públicos para que possam orientar adequadamente as prefeituras que demandarem auxílio.
“Para a decretação de situação de emergência e a obtenção de acesso a créditos e outras formas de apoio, são necessários laudos e documentos comprobatórios. Muitas vezes os processos vão e voltam por falta de informações. Isso impede a agilidade necessária”, diz o subchefe de Proteção e Defesa Civil do Rio Grande do sul, coronel Marcus Vinícius Gonçalves Oliveira.
O órgão se adiantou e adquiriu 86 recipientes transportáveis com 4,5 mil litros de água cada para emprestar aos municípios em pior situação. Desses, 26 já estão com as prefeituras, e outros 60 aguardam no depósito, quando houver comprovação criteriosa da necessidade.
“A Sala de Situação do governo do Estado, acompanhando as previsões climáticas, ainda indica acúmulo de água ouço acima da média em janeiro, para a segunda metade do mês. E precipitação abaixo da média em fevereiro e março. É importante acumular toda a água possível”, diz Oliveira, observando que as estiagens costumam se iniciar ainda em outubro e que, por isso, o armazenamento hídrico deveria acontecer ainda antes.