A Revolução 4.0 está em curso e chegou com força ao agronegócio. No Brasil, o setor está na vanguarda do uso da digitalização na agricultura, maximizando o retorno econômico, preservando recursos e protegendo o meio ambiente. É o que mostra a terceira edição do Relatório Radar AgTech (
www.radaragtech.com.br) sobre o mapeamento das startups do agro no País.
O documento, desenvolvido e divulgado pela Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Consultoria e Pesquisas Empresariais, mostra 1,7 mil iniciativas ativas espalhadas pelo Brasil. Desse total, 133 estão no Rio Grande do Sul, em 39 municípios, com ênfase em Porto Alegre (48) e Santa Maria (16).
De acordo com Luiz Ojima Sakuda, sócio da Homo Ludens e co-coordenador do Radar AgTech, as startups apresentaram resiliência e cresceram muito desde 2019, apesar dos cenários adversos interna e externamente. Elas mostram um agronegócio mais tecnológico e quanto isso pode ajudar no atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
“As AgTechs do agro são aliadas do desenvolvimento sustentável e podem ajudar o País a se posicionar do ponto de vista internacional, inclusive. Para se ter uma idéia, nossos relatórios anteriores do Radar AgTech foram produzidos em português e inglês. Mas agora teremos também uma versão em mandarim”, observa.
Ele destaca a importância do ecossistema de inovação para os clusters - sistemas que conectam computadores em redes para que trabalhem de maneira conjunta no processamento de tarefas complexas, resolução de problemas ou integridade de dados. E, nesse ponto é possível perceber quanto o Rio Grande do Sul pode precisa avançar no segmento.
“A cidade de São Paulo é conhecida por ser um hub muito importante. É, de longe, o município brasileiro com o maior número de AgTechs (370). Isso se deve a um ecossistema bastante robusto, tanto no ponto de vista da inovação como de negócios”, ressalta.
Agtechs agregam eficiência e rentabilidade ao setor
A expansão também acontece no Estado. De linhas de confecção de moda com materiais extraídos do campo até a produção agropecuária propriamente dita, antes, dentro e depois da porteira, as AgTechs agregam inovação, eficiência, escala e rentabilidade a um setor cada vez mais competitivo e internacionalizado. Inteligência artificial, análise de big data, computação em nuvem, tecnologias de informação e comunicação, internet das coisas e robótica, por exemplo, estão na rotina de um número crescente de empresas que fazem a chamada agricultura inteligente.
É o caso da Prediza (
www.prediza.io), de Caxias do Sul. Por meio de inteligência artificial e internet das coisas, a empresa desenvolveu uma plataforma de análise preditiva para oferecer soluções nas áreas da agricultura, meio ambiente e energia limpa. Criada em 2018 pelo cientista da computação Jeferson Rodrigues, a Prediza atua em todo o Brasil, fazendo antecipação de cenários de risco nas áreas de geração de energia, meio ambiente e agricultura.
“Nesse segmento, por exemplo, podemos, a partir dos cálculos projetados pela nossa plataforma, apontar as chances do surgimento ou não de determinadas doenças e ponderar sobre a pertinência do uso de defensivos agrícolas”, explica o sócio-fundador da Prediza.
Rodrigues lembra que o custo de um hectare de videiras para produção de vinhos de valor agregado, por exemplo, gira em torno de R$ 36 mil. E assegura que a economia, com a gestão adequada dos parreirais, pode superar os 40%.
“Oferecemos, com a segurança dos modelos testados e validados, informação e apoio para auxiliar o cliente na tomada de decisões. É um trabalho de reeducação e conscientização do produtor”.
Co-fundador e CEO da DigiFarmz Smart Agriculture, de Porto Alegre (
www.digifarmz.com), o engenheiro agrônomo Alexandre Monteiro Chequim vê no papel das startups do setor um importante compromisso no auxílio para potencializar a produção de alimentos mundo afora.
“O agro tem limitações, mas um potencial até quatro vezes maior do que oferece como resultado atualmente. Nossa missão é contribuir para que o produtor seja mais assertivo e eficiente”.
A DigiFarmz, fundada em 2017 e atuando no mercado desde 2019, é uma plataforma digital que combina dados de pesquisas, informações climatológicas, genética de cultivares, datas de semeadura, local e outros parâmetros, para apresentar recomendações inteligentes que auxiliam produtores, agrônomos e consultores no manejo fitossanitário das doenças da soja, do trigo e do milho, apresentando parâmetros para uma melhor tomada de decisão. A base de dados, em constante expansão, possibilita também uma otimização dos recursos e investimentos na lavoura, contribuindo com a redução do impacto ao meio ambiente. Isso permite elevar em até 40% a produtividade nas lavouras, diz Chequim, que comanda a empresa ao lado do sócio, Ricardo Balardin.
“As AgTechs dão uma valiosa contribuição ao setor e ao País, por meio do desenvolvimento de negócios, geração de emprego e renda, fortalecimento da produção primária e da Nação. O Rio Grande do Sul é agro, mas esteve muito atrasado na transformação digital. Agora estamos em aceleração. Esse ecossistema ainda vai se desenvolver muito”, aposta.
De Vacaria, na Serra, a Agriexata (
www.agriexata.com.br) presta serviços de consultoria agronômica em agricultura de precisão. Desde 2021, a empresa ajuda e incentiva produtores rurais na utilização de ferramentas digitais, como plataformas, imagens de satélites, uso e interpretação de sensores biofísicos, mapeamento digital dos atributos físicos e químicos do solo.
“As AgTechs precisam ir ao campo, para medir a capacidade, ver a necessidade dos produtores, desenvolver ferramentas e softwares de acordo com a necessidade do produtor. Se o produtor entender vantagens na prática, se o sistema melhorar a vida dele, com certeza vai investir”, diz o CEO, Márcio Santos.
Ele considera “interessante e importante” desenvolver junto com o produtores as suas soluções. Muitas vezes, soluções prontas não correspondem à realidade do cliente.
“Eles vão te mostrar os problemas. Muitas vezes, eles conhecem seus gargalos, só não sabem resolver. Minha empresa faz isso: entende o problema e procura uma solução viável”, explica Santos.
Para a Drakkar (
www.drakkar.com.br), empresa de tecnologia líder em projetos de Agricultura de Precisão no Brasil, com sede em Santa Maria e fundada em 2006, a economia brasileira tem como motor econômico a agricultura, e desenvolvê-la tecnologicamente não é luxo, mas necessidade.
“Podemos dobrar a produção, consumindo a metade dos recursos necessários. No entanto, temos que aumentar o uso de tecnologias de forma exponencial. Há ainda muitas 'avenidas' de crescimento com a inserção de novos conceitos de produção e isso desperta o interesse de muitas novas startups e investidores. Sem dúvida, essa combinação de fatores irá incentivar e acelerar a transformação digital do agronegócio brasileiro”, diz o CEO, Alan Acosta.
Segundo ele, em um mundo cada vez mais tecnológico, o agronegócio não ficará de fora. Com a demanda crescente por alimentos, fibras e, agora, energia (biocombustíveis) e a redução da mão de obra disponível, o aumento de tecnologias, uso e eficiência das mesmas, será o caminho que as novas gerações de produtores rurais deverão seguir. Entretanto, nesta jornada digital, as propriedades precisam passar por uma transformação tecnológica e cultural, que envolve máquinas, pessoas e processos.
“Novos profissionais estão surgindo para amparar essa nova demanda de mercado, como o agrônomo digital, profissional especializado na implantação e execução de projetos tecnológicos de alto impacto nas operações agrícolas. Ele fará a gestão de máquinas semi autônomas, conjuntos de sensores, plataformas digitais, aplicativos em celulares, tudo conectado à informações de satélites na órbita da terra”, conclui Acosta.