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Estado pode ampliar área de florestas com acácia negra
Maior fabricante de tanino do mundo, gaúcha quer estimular aumento da produção de agricultores parceiros
Pelas mãos de 30 mil famílias de agricultores gaúchos passa um negócio que movimenta cerca de R$ 650 milhões por ano, somente nas etapas iniciais. Com raízes fortes como sua trajetória centenária no Rio Grande do Sul, o cultivo da acácia negra poderá ter sua área ampliada nos próximos anos, a partir do estímulo à atividade.
Maior fabricante de tanino do mundo, a empresa Tanac, de Montenegro, firmou parceria com o Banco do Brasil (BB) para a criação de linhas de crédito destinadas a produtores interessados em ingressar na atividade ou aumentar as terras de florestas. A carta de intenções foi assinada ainda durante a Expointer, mas o lançamento ocorrerá durante o Seminário Gaúcho de Silvicultura e o Encontro Estadual de Fomento e Plantio Agrossilvipastorial, que ocorrem de 22 a 24 de setembro, em São Francisco de Paula.
Conforme o diretor-presidente da Tanac, João Carlos Ronchel Soares, a ideia é fomentar o surgimento de novas florestas da cultura, que tem como destaques o beneficiamento da madeira e o aproveitamento da casca para produção de tanino.
São três linhas de crédito disponibilizadas pelo BB. Para identificar o formato mais adequado de financiamento, sentarão juntos a empresa, o agricultor e o banco. A proposta é de contratação de empréstimos para custeio e investimento, com taxas de juros acessíveis, dois anos de carência e cinco anos para pagar. A garantia ao banco será o contrato de compra de toda a produção pela empresa.
"Nossa produção anual é de 25 mil toneladas de tanino, mas temos capacidade para expandir esse volume em torno de 30%. Para isso buscamos estimular os produtores, em uma atividade que é sustentável e rentável", diz Soares.
Fundada em 1948 por um sueco e um alemão, a Tanac mantém contratos com cerca de 20 mil famílias, para as quais a atividade é uma das principais fontes de renda. Da área plantada com acácia negra no Rio Grande do Sul, metade pertence à Tanac. O restante é de agricultores, e uma parcela menor à empresa Seta, de Estância Velha, pioneira na atividade, em 1941.
Conforme o anuário de 2020 da Associação Gaúcha de Florestamento (Ageflor), o Rio Grande do Sul contava com pouco mais de um milhão de árvores de pinus, eucalipto e acácia, que respondia por 7,3% do total. O número com essa espécie já representava queda de 47% em relação ao levantamento de 2006, como um dos impactos do colapso da economia americana com o estouro da bolha do mercado imobiliário, em 2008.
Novo estudo, feito pelo Instituto Brasileiro da Árvores e que será divulgado nos próximos dias, vai mostrar uma redução ainda maior na área de acácia. E é aí que entra o movimento da Tanac junto ao BB. Ao impulsionar a recuperação da base florestal da espécie, a empresa espera fazer com que a acácia negra ocupe 10% da área plantada até 2030. Ao longo do tempo, a cultura conquistou as famílias de agricultores e se espalhou pelas regiões dos vales do Sinos, do Caí e do Taquari, em pequenas propriedades, além da metade sul gaúcha, onde atuam médios e grandes produtores. A relação da família Essevin com a acácia negra vem da década de 1940. Começou com o agricultor João Oscar Essevin, já falecido, passou para o filho, João Eliseu, e hoje já alcança o neto, Diego, e o bisneto, Lorenzo, de apenas quatro anos. Nesses cerca de 80 anos, a área original, em torno dos 300 hectares, hoje já é de 3 mil hectares, entre os municípios de Encruzilhada do Sul e Piratini. Ali, Diego, 29 anos, se dedica, ao lado do pai, ao plantio da espécie, além de eucalipto e da cultura da soja.
São aproximadamente 1,6 mil hectares de acácia. Com os 3 mil metros cúbicos de madeira e as 200 toneladas de casca entregues mensalmente à Tanac, eles obtêm um lucro líquido bastante atraente, na faixa dos 43%, que garante em torno de 35% da renda da família.
"Já vivi momentos de alta e de baixa na atividade. Esse é um período positivo, mas na agricultura tudo muda rapidamente", analisa.
Por isso, os Essevin já se mobilizam para implantar novos 400 hectares de mudas de acácia. Eles também apostam fortemente no eucalipto, cujo manejo é mais fácil, porém oneroso. "Com a acácia, as mudas e o adubo são fornecidos pelas empresas parceiras, enquanto com o eucalipto o custo é todo nosso", conta Diego, que já vê nos olhos do pequeno Lorenzo o brilho de quem vai seguir mantendo a tradição familiar.
Altas cifras indicam potencial de mercado da cultura
O faturamento milionário com a acácia negra, apenas no processo de produção primária do ciclo, é um indicativo do tamanho e do potencial desse mercado. Nessa etapa estão incluídos o preparo do solo, o plantio, o trato da cultura, o descascamento, a derrubada, o corte e o baldeio da madeira e da casca até chegarem às fábricas, que produzem tanino, e aos demais clientes, como produtores de carvão, para geração de energia e calor nos diversos segmentos.
"Se formos considerar valores gerados a partir da industrialização e demais utilizações, os números são muito maiores dos que os R$ 650 milhões estimados", observa o presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Luiz Augusto Alves.
Originária da Austrália, a acácia negra ocorre ainda na África do Sul e no Rio Grande do Sul, para onde foi trazida por imigrantes no início do século passado. Daqui, sua madeira e casca são exportadas para mais de 70 países.
De acordo com o dirigente da Ageflor, a acácia negra é uma cultura importantíssima para as pequenas propriedades rurais, porque se torna uma poupança que pode ser aproveitada ao longo dos cerca de sete anos do ciclo produtivo. A cultura também é muito importante sob o ponto de vista ambiental. O cultivo permite o enriquecimento do solo, pela incorporação de matéria orgânica, além da fixação de nitrogênio. A acácia negra também pode ser consorciada com a pecuária, a melancia, a abóbora e o milho.
Aproveitamento
Cascas de Acácia Negra
A casca da acácia negra é uma importante fonte de tanino, muito utilizado no curtimento de couros e peles, dando maior resistência frente às abrasões. Também é empregado na clarificação de cervejas e vinhos, na perfuração do solo para exploração petrolífera, na produção de agentes anticorrosivos, na indústria de cana-de-açúcar e álcool e na produção de sanitizantes.
Madeira de Acácia Negra
A madeira é exportada em quase sua totalidade como cavacos para as indústrias de celulose. É matéria-prima de qualidade também para a produção de energia, nas formas de carvão vegetal e carvão ativado, seda artificial, papel e chapas de aglomerados.