Demora nas fronteiras para importação de milho impacta custos da carne

Caminhões que transportam o grão do Paraguai aguardam liberação por até 12 dias

Por Diego Nuñez

Atraso na produção de ração afeta custos dos setores avícola e de suínos
A aduana de Foz do Iguaçu (PR), na fronteira entre Brasil e Paraguai mais próxima do Rio Grande do Sul, tem se tornado um empecilho para a produção de carne de frango no Estado. A demora para a liberação de caminhões que transportam o milho necessário para suprir a produção de ração animal após a quebra da safra do grão com a estiagem do verão tem causado prejuízos para a avicultura gaúcha.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a demora nas fronteiras tem sido motivo de preocupação para o agronegócio nacional, principalmente no setor de proteína animal. O atraso de caminhões, represados em filas de espera na operação padrão de servidores da Receita Federal vem causando prejuízos e transtornos à avicultura e à suinocultura do Sul brasileiro.
“Essa situação tem atrasado o setor, causado aumento de custos que dificultam a produção e até encarecem o próprio produto, já que os custos de espera acabam sendo repassados ao preço final do produto”, explica o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
O problema é persistente. Em maio, a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) já alertava para a questão, informando que as perdas decorrentes dos entraves no fluxo de transporte entre Brasil, Paraguai e Argentina são estimadas em R$ 80 milhões por ano, afetando especialmente os estados da região Sul.
No último mês, a situação parece ter avançado, mas ainda está longe do esperado pelo setor. “De um mês para cá, a situação melhorou um pouco em Foz do Iguaçu, mas ainda há muita demora para a liberação dos caminhões. Tem caminhão que fica 10 dias parado. Ainda precisamos avançar. A demora tem gerado custos ao setor e há reivindicação de contratação de servidores, uma situação que o governo estuda”, afirmou José Eduardo dos Santos, presidente da Asgav.
A associação e outros representantes da proteína animal gaúcha têm se reunido com o governo federal com o objetivo de acelerar os processos burocráticos da Receita Federal.
Segundo o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), apesar de os caminhões parados provocarem aumento de custos, a situação da fronteira que leva milho do Mercosul para a região sulista não impacta na qualidade da carne. “O milho é destinado para a produção de ração. As empresas não trabalham com estoque zero. A questão toda é relacionada ao aumento de custos e o movimento não chega ao ponto de comprometer a qualidade do produto”, afirma Rogério Kerber, presidente da entidade.
A questão tem mobilizado também os outros estados do Sul. O Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), que representa 43 abatedouros e incubatórios paranaenses, participou de uma série de audiências em Brasília para discutir os entraves nas aduanas. O presidente do sindicato, Irineo da Costa Rodrigues, também ressaltou que a lentidão no translado tem impactado na segurança dos negócios. “O Paraguai está colhendo milho e, obviamente, quer fazer contratos com clientes, mas existe um receio de realizar contratos de venda futura com o Brasil, afinal o país vizinho não tem segurança sobre a capacidade da ponte em escoar os grãos com agilidade. Já tivemos casos de caminhões parados por 12 dias na fila”, relata ele.
Agora a ABPA, após negociar diretamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, uma melhora nos fluxos na fronteira, espera a “segunda safra brasileira (de milho), que vai tirar essa pressão das importações que estão vindo do Paraguai e região”, segundo afirma Santin.
Já o Sindiavipar acredita que o Brasil ainda continuará dependente do milho paraguaio, uma vez que a guerra entre Ucrânia e Rússia favorece a competitividade das exportações do País dos bons resultados do milho de 2ª safra. “Outro ponto importante é que, cada vez mais, sobretudo no Centro-Oeste, o grão é destinado à produção de etanol e exportação. Por isso, precisamos contar com o fornecimento paraguaio”, esclarece Rodrigues.