Produtores rurais apontam que a soja ameaça a diversificação do cultivo agrícola do Rio Grande do Sul. Conforme as áreas de cultivo do grão avançam para a metade Sul do Estado, persistem denúncias de derivas dos agrotóxicos utilizados como defensivos agrícolas nas lavouras, que durante a pulverização acabam por viajar por quilômetros pelo ar, atingindo fazendas que cultivam uvas, maçãs, hortaliças, nogueiras, oliveiras, erva-mate e outras culturas sensíveis a herbicidas hormonais.
Durante a safra 2021/2022 de uva no Rio Grande do Sul, 88% das amostras de videiras coletadas para análise de detecção residual de herbicidas hormonais pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) tiveram resultado positivo. O defensivo 2,4-D, utilizado majoritariamente nas lavouras de soja contra ervas-daninhas, têm ultrapassado as porteiras das fazendas onde é aplicado e provocado impacto negativo principalmente em plantas de folha larga.
Uma carta enviada à pasta, assinada pela União Brasileira de Viticultura (Uvibra) e outras 10 associações ligadas à fruticultura, requer a “suspensão do uso e aplicação dos herbicidas hormonais com princípio ativo 2-4-D no Rio Grande do Sul, até que se estabeleça zona de exclusão de uso ou implemente sistema seguro e efetivo e monitoramento e fiscalização integral do seu uso e aplicação, sob pena de inviabilizar definitivamente as culturas sensíveis”.
O tema foi debatido em uma reunião na sede da Seapdr na segunda-feira (11), entre Estado e setor vitivinicultor, quando os produtores de uva, sucos e vinhos relataram os danos causados às videiras e propuseram a suspensão do uso do herbicida hormonal.
“Pensamos em zoneamento, criar zonas de exclusão, mas não é suficiente. A verdade é que é incontrolável esse 2,4-D. Pode viajar 10, 15 quilômetros além da lavoura. Tem alto poder de causar lesão nas plantas. Achamos que a única solução atual é suspender o uso para não causar mais danos à diversificação de culturas do Estado, a não ser que queriam uma monocultura no Rio Grande do Sul”, afirma Valter Pötter, presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha e proprietário da Estância Guatambu, em Dom Pedrito, que estava presente no encontro.
Ele acredita que o pedido não será acatado pelo Palácio Piratini. O secretário da Agricultura Domingos Velho Lopes enxerga progresso no controle do uso do agrotóxico desde que o Estado alterou normas para cadastramento e aplicação de herbicidas hormonais entre 2019 e 2021.
O mesmo relatório que mostrou 88% das videiras analisadas atingidas por herbicidas hormonais, elaborado pela pasta, aponta que, entre 2019 e 2021, o número de propriedades atingidas pelo 2,4-D caiu de 108 para 72.
“Temos uma redução significativa no número de propriedades e de municípios atingidos pelo 2,4-D, ou seja, no número total de problemas de deriva no Estado. Estamos trabalhando na conscientização do produtor, no cadastramento de aplicadores, repassando informações sobre áreas sensíveis e aplicando cursos reconhecidos para a execução profissional de aplicação de qualquer defensivo”, afirmou Velho Lopes.
De acordo com Pötter, o número de denúncias não reflete a realidade das fazendas que cultivam plantas sensíveis. “Em grande parte do território houve derivas e os produtores não denunciaram, porque vem a fiscalização e não muda nada. Então o número de denúncias não reflete a realidade”, afirma o produtor.
O problema relatado pelo proprietário rural não é exclusivo da atual safra. Pelo menos desde 2018 são identificadas derivas de forma mais intensa no Rio Grande do Sul. O 2,4-D prejudica de forma irreversível tais plantações, impactando investimentos e projetos de gerações de famílias e produtores afetados. Ele pode causar abortamento de flores, epinastia (crescimento descontrolado e disfunções morfofisiológicas), perda acentuada e rápida de vigor e, por fim, a morte das plantas.
Um documento emitido pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) também traz posicionamento em favor da suspensão imediata de herbicidas com princípio ativo 2,4-D. Segundo relata em nota, o campus de Dom Pedrito, em seu curso de bacharelado em enologia, possui um vinhedo destinado às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Esse vinhedo possui quatro hectares de área cultivada, com 72 diferentes cultivares de uvas, constituindo-se o mais diversificado banco de germoplasma vitícola existente na região, com objetivos focados em pesquisa científica e na formação acadêmica.
Nos últimos quatro anos, segundo a universidade, os cultivares sofreram importantes impactos de deriva de herbicida 2,4-D, todos comprovados por laudos de análise de amostras coletadas e encaminhadas a laboratórios especializados pela própria Seapdr, e as plantas sofreram fortes sintomas de debilidade fisiológica, baixo vigor e enfraquecimento irreversível, algumas já chegando à morte.
Durante a safra 2021/2022 de uva no Rio Grande do Sul, 88% das amostras de videiras coletadas para análise de detecção residual de herbicidas hormonais pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) tiveram resultado positivo. O defensivo 2,4-D, utilizado majoritariamente nas lavouras de soja contra ervas-daninhas, têm ultrapassado as porteiras das fazendas onde é aplicado e provocado impacto negativo principalmente em plantas de folha larga.
Uma carta enviada à pasta, assinada pela União Brasileira de Viticultura (Uvibra) e outras 10 associações ligadas à fruticultura, requer a “suspensão do uso e aplicação dos herbicidas hormonais com princípio ativo 2-4-D no Rio Grande do Sul, até que se estabeleça zona de exclusão de uso ou implemente sistema seguro e efetivo e monitoramento e fiscalização integral do seu uso e aplicação, sob pena de inviabilizar definitivamente as culturas sensíveis”.
O tema foi debatido em uma reunião na sede da Seapdr na segunda-feira (11), entre Estado e setor vitivinicultor, quando os produtores de uva, sucos e vinhos relataram os danos causados às videiras e propuseram a suspensão do uso do herbicida hormonal.
“Pensamos em zoneamento, criar zonas de exclusão, mas não é suficiente. A verdade é que é incontrolável esse 2,4-D. Pode viajar 10, 15 quilômetros além da lavoura. Tem alto poder de causar lesão nas plantas. Achamos que a única solução atual é suspender o uso para não causar mais danos à diversificação de culturas do Estado, a não ser que queriam uma monocultura no Rio Grande do Sul”, afirma Valter Pötter, presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha e proprietário da Estância Guatambu, em Dom Pedrito, que estava presente no encontro.
Ele acredita que o pedido não será acatado pelo Palácio Piratini. O secretário da Agricultura Domingos Velho Lopes enxerga progresso no controle do uso do agrotóxico desde que o Estado alterou normas para cadastramento e aplicação de herbicidas hormonais entre 2019 e 2021.
O mesmo relatório que mostrou 88% das videiras analisadas atingidas por herbicidas hormonais, elaborado pela pasta, aponta que, entre 2019 e 2021, o número de propriedades atingidas pelo 2,4-D caiu de 108 para 72.
“Temos uma redução significativa no número de propriedades e de municípios atingidos pelo 2,4-D, ou seja, no número total de problemas de deriva no Estado. Estamos trabalhando na conscientização do produtor, no cadastramento de aplicadores, repassando informações sobre áreas sensíveis e aplicando cursos reconhecidos para a execução profissional de aplicação de qualquer defensivo”, afirmou Velho Lopes.
De acordo com Pötter, o número de denúncias não reflete a realidade das fazendas que cultivam plantas sensíveis. “Em grande parte do território houve derivas e os produtores não denunciaram, porque vem a fiscalização e não muda nada. Então o número de denúncias não reflete a realidade”, afirma o produtor.
O problema relatado pelo proprietário rural não é exclusivo da atual safra. Pelo menos desde 2018 são identificadas derivas de forma mais intensa no Rio Grande do Sul. O 2,4-D prejudica de forma irreversível tais plantações, impactando investimentos e projetos de gerações de famílias e produtores afetados. Ele pode causar abortamento de flores, epinastia (crescimento descontrolado e disfunções morfofisiológicas), perda acentuada e rápida de vigor e, por fim, a morte das plantas.
Um documento emitido pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) também traz posicionamento em favor da suspensão imediata de herbicidas com princípio ativo 2,4-D. Segundo relata em nota, o campus de Dom Pedrito, em seu curso de bacharelado em enologia, possui um vinhedo destinado às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Esse vinhedo possui quatro hectares de área cultivada, com 72 diferentes cultivares de uvas, constituindo-se o mais diversificado banco de germoplasma vitícola existente na região, com objetivos focados em pesquisa científica e na formação acadêmica.
Nos últimos quatro anos, segundo a universidade, os cultivares sofreram importantes impactos de deriva de herbicida 2,4-D, todos comprovados por laudos de análise de amostras coletadas e encaminhadas a laboratórios especializados pela própria Seapdr, e as plantas sofreram fortes sintomas de debilidade fisiológica, baixo vigor e enfraquecimento irreversível, algumas já chegando à morte.
Manejo correto permite uso de herbicidas não-hormonais, avalia produtor
Alternativas ao uso dos herbicidas hormonais foram levantadas durante a reunião na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) onde vitivinicultores solicitaram a suspensão da permissão de uso do defensivo 2,4-D, agrotóxico que está prejudicando parreirais de uva e outras árvores frutíferas.
Para Giovani Silveira Peres, sócio-administrador da Vinícola Batalha, de Candiota, produtor de uva e de soja que participou do encontro na sede da agricultura estadual, há alternativas possíveis aos herbicidas hormonais.
"Existem outros herbicidas que controlam as ervas daninhas na lavoura de soja. Os herbicidas não-hormonais são até mais eficientes e não causam danos a outras culturas. O produtor alega que são mais caros, mas o custo adicional é de 0,5 a 0,8 saca de soja por hectare. Inclusive, o Estado hoje já produz soja orgânica, que não utiliza nenhum produto químico, nem no adubo”, afirma o produtor.
Segundo Peres, o grande diferencial para utilização de herbicidas não hormonais é o correto manejo do solo durante o inverno, quando não há soja plantada nas lavouras.
“É uma questão de manejo. Quem não utiliza o herbicida hormonal são produtores geralmente mais técnicos, que trabalham todo o sistema de plantio. E quem pensa além da porteira, no seu vizinho, na diversificação de culturas no Estado. Quem utiliza o hormonal, é para 'apagar o incêndio', produtores que não fazem o manejo de inverno e precisam desse herbicida que depois de 10 dias de aplicação já pode estar plantando soja”, diz ele.
Peres afirma que os vitivinicultores não são “contra a soja”, afinal, ele mesmo produz o grão. Porém, com derivas constantes de agrotóxicos hormonais como o 2,4-D, ele acredita que, no pior dos casos, “corre-se o risco de em poucos anos estarmos numa monocultura no Rio Grande do Sul”.
Para Giovani Silveira Peres, sócio-administrador da Vinícola Batalha, de Candiota, produtor de uva e de soja que participou do encontro na sede da agricultura estadual, há alternativas possíveis aos herbicidas hormonais.
"Existem outros herbicidas que controlam as ervas daninhas na lavoura de soja. Os herbicidas não-hormonais são até mais eficientes e não causam danos a outras culturas. O produtor alega que são mais caros, mas o custo adicional é de 0,5 a 0,8 saca de soja por hectare. Inclusive, o Estado hoje já produz soja orgânica, que não utiliza nenhum produto químico, nem no adubo”, afirma o produtor.
Segundo Peres, o grande diferencial para utilização de herbicidas não hormonais é o correto manejo do solo durante o inverno, quando não há soja plantada nas lavouras.
“É uma questão de manejo. Quem não utiliza o herbicida hormonal são produtores geralmente mais técnicos, que trabalham todo o sistema de plantio. E quem pensa além da porteira, no seu vizinho, na diversificação de culturas no Estado. Quem utiliza o hormonal, é para 'apagar o incêndio', produtores que não fazem o manejo de inverno e precisam desse herbicida que depois de 10 dias de aplicação já pode estar plantando soja”, diz ele.
Peres afirma que os vitivinicultores não são “contra a soja”, afinal, ele mesmo produz o grão. Porém, com derivas constantes de agrotóxicos hormonais como o 2,4-D, ele acredita que, no pior dos casos, “corre-se o risco de em poucos anos estarmos numa monocultura no Rio Grande do Sul”.