A retirada da vacina contra febre aftosa no Rio Grande do Sul, com o
aval da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), será também a porta de entrada para novos investimentos no Estado. A partir de maio, com o recebimento do certificado oficial para o “ok” já dado pelo comitê científico da OIE, empresas e cooperativas podem começar a negociar carnes no mercado internacional tanto com novos países quanto novos produtos. Um cenário que anima pecuaristas e frigoríficos.
Uma das empresas exportadoras que já mira a alta nas vendas, e investe para ampliar exportações por meio do Rio Grande do Sul, é a Estrela Alimentos, de Estrela D’Oeste (SP), que tem planta industrial em São Luiz Gonzaga. O frigorífico paulista já começou a investir quase R$ 200 milhões no Estado, de acordo com o presidente da companhia, Etivaldo Gomes, para aumentar a produção e os embarques. As novas perspectivas, que na verdade se anunciavam desde o ano passado, já levou a indústria a aplicar ainda em 2020 cifra similar no Estado, diz o empresário.
“Nossa produção no Rio Grande do Sul é praticamente toda para exportações, para China. Agora queremos abrir novos países também. O produto brasileiro já é de alta qualidade, mas muda o nosso patamar de preços e oferta de produtos”, comemora Gomes.
A injeção de recursos no Estado abarca toda a cadeia produtiva, ressalta o empresário, já que a empresa precisará reforçar não apenas as linhas de produção como também o plantel para abate.
“Para exportar mais temos de ter garantia de animais para abate, próprios e com criadores integrados, que estão animados com a notícia. E também vamos abrir mais postos de trabalho. Hoje, são cerca de mil colaboradores, incluindo a unidade de rações, em Ijuí”, acrescenta Gomes.
A projeção da Estrela Alimentos é alcançar até o final do ano 100 mil toneladas de proteínas animais exportadas a partir do Rio Grande do Sul – hoje, a capacidade é de cerca de 60 mil. Assim como está no foco ampliar os negócios no Mato Grosso, que igualmente recebeu novo status sanitário.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), assegura que as perspectivas são grandes, assim com a obrigação de o Estado manter rígidos controles sanitários. Às empresas, o leque de negócios agora incluirá vender miúdos direto à China, que remunera acima de Hong Kong, assim como desbravar compradores de países como Japão e Chile.
"Com a gripe suína africana avançando pela Ásia e Europa, nos tornamos fornecedores ainda mais importantes. E vale lembrar que o Brasil já em 2020 ultrapassou a barreira de 1 milhão de toneladas exportadas, e
seguimos crescendo em fevereiro, em 20%", comemora Santin.
Para Fabiano Leonhardt, superintendente de fomento agropecuário e industrial da Cooperativa Languiru, com a mudança agora o trabalho incluirá prospectar esses novos clientes internacionais. "Como exportamos apenas cerca de 10% da produção de suínos, temos boa margem para direcionar a produção para o Exterior. O Chile é um mercado que buscamos há algum tempo e esperávamos por essa liberação", conta Leonhardt.
Na base do negócio, os suinocultores também projetam um novo cenário para 2021. Para o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, os reflexos da nova certificação virão em breve. Folador ressalta que as plantas industriais do Estado já operam no limite, e por isso reforços nas unidades terão que necessariamente de serem feitos.
“Não tem como exportar mais sem investir. E isso terá reflexo generalizado. A cadeia produtiva da suinocultura é uma grande empregadora, no campo, nas granjas, mas também na cidade, nos frigoríficos e fábricas de ração”, explica Folador.