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Entrevista especial

- Publicada em 20 de Março de 2022 às 16:44

Eduardo Leite quer candidato competitivo para sucessão ao Piratini

Governador sustenta que o candidato escolhido precisa ter viabilidade eleitoral, o que depende do contexto político

Governador sustenta que o candidato escolhido precisa ter viabilidade eleitoral, o que depende do contexto político


fotos: Maicon Hinrichsen/Palácio Piratini/JC
O governador Eduardo Leite (PSDB) tem sido insistentemente questionado nas últimas semanas sobre sua possível candidatura à presidência da República. O tucano já deu mostras de que está disposto a aceitar o desafio, mas avalia se terá apoio suficiente na chamada terceira via, bem como as consequências de sua decisão: ter de deixar o PSDB, partido ao qual é filiado há 20 anos, e renunciar ao cargo de governador até o fim do mês.
O governador Eduardo Leite (PSDB) tem sido insistentemente questionado nas últimas semanas sobre sua possível candidatura à presidência da República. O tucano já deu mostras de que está disposto a aceitar o desafio, mas avalia se terá apoio suficiente na chamada terceira via, bem como as consequências de sua decisão: ter de deixar o PSDB, partido ao qual é filiado há 20 anos, e renunciar ao cargo de governador até o fim do mês.
Paralelamente às articulações ao Planalto e às tarefas do que podem ser seus últimos dias de governo, Leite ainda tem outra frente política: definir quem será o seu sucessor e como será a composição do palanque no Rio Grande do Sul.
Os partidos que integram sua base aliada já têm pelo menos quatro candidatos: o PP lançou o senador Luis Carlos Heinze, o MDB discute um nome entre os deputados Gabriel Souza e Alceu Moreira, o PSB já desembarcou do governo e aposta em Beto Albuquerque, e o PSDB manifestou que terá candidato próprio. Pode ser o vice-governador Delegado Ranolfo ou outro nome, Leite não confirma o vice como candidato natural à sucessão. Diz que, primeiro, é preciso avaliar o cenário eleitoral.
O governador sustenta que o candidato escolhido precisa ter viabilidade eleitoral, o que depende do contexto político. "Não existe um nome que tenha, neste momento, a condição ao natural de avocar o direito de ser o candidato deste campo político." Leite defende a estratégia de, assim como no plano nacional, escolher um nome de centro para superar a polarização.
Nesta entrevista concedida no último dia de atividades em Austin aos cinco jornalistas de veículos de comunicação que acompanharam a missão do governo gaúcho aos Estados Unidos, Leite projeta que os candidatos a governador que darão palanque ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Rio Grande do Sul vão ganhar impulso, e se houver uma divisão entre os partidos aliados, o grupo político que comanda o Estado pode ficar fora do segundo turno.
Pergunta - A agenda nos EUA foi de governador, mas em vários eventos o senhor falou sobre o cenário brasileiro, eleições. O que está faltando para sua candidatura, onde está o nó?
Eduardo Leite - Não é que exista um nó. Estou comprometido com o projeto no Rio Grande do Sul, contratado até o final deste ano. A necessidade de renúncia (até 2 de abril para ser candidato ao Planalto) é um primeiro ponto sensível. No momento em que estamos colhendo bons resultados, conseguimos ajustar os pagamentos, o Estado está com capacidade de investimento... A recuperação fiscal era uma parte do problema, agora tem outra etapa que me motiva a querer dar sequência. Tem o próprio processo sucessório no Rio Grande do Sul, que precisa ser organizado. O que nos deu condição política de aprovar reformas foi não ser candidato à reeleição - não foi só isso, mas isso foi determinante. Por um lado, ajudou o governo, por outro, é um obstáculo no processo sucessório, nunca pude ter alguém debaixo do braço ou indicar e fazer força em direção de um sucessor ou sucessora, para evitar ter dificuldade com a base de apoio.
Os partidos querem ter candidato ao Piratini...
Leite - É legítimo que o MDB queira protagonizar, é legítimo que o PP queira protagonizar, é legítimo que o PSB queira ter o seu protagonismo. Então, para evitar que essa aspiração legítima confrontasse com o que o governo queria, aprovar as medidas, nunca partimos para uma estratégia de fortalecimento de um nome específico. Ainda há trabalho a ser feito na direção de garantir continuidade. Eu desejo isso, é importante para o Rio Grande do Sul ter continuidade na responsabilidade com as contas, dar continuidade a políticas públicas que conseguimos começar a implementar no Estado. Então, para mim, é um ponto principal, ter que renunciar ao mandato (de governador) e ainda ter que considerar uma troca de partido, estando há 20 anos no mesmo partido, não é fácil essa decisão.
Deixar o PSDB e ir para o PSD de Gilberto Kassab.
Leite - Me apresentaram uma proposta firme, para que eu lidere um projeto através do PSD. Outras provocações vieram de outros partidos, mas não falaria a respeito porque esses outros não tornaram público isso, como o PSD tornou público. Então, estou refletindo e, como disse, ninguém é candidato de si mesmo, precisa ser algo maior, um projeto de um grupo, de pessoas que se reúnem em torno de uma causa. É isso que vai me mover a tomar decisão. E uma coisa eu sempre digo e insisto: não vou entrar nessa para dispersar ainda mais o centro. Se houver um entendimento de forças relevantes de que eu possa ajudar a aglutinar, é o que pode me mover nessa direção de aceitar o caminho nacional.
O que vai priorizar nesses dias no governo do Estado até definir se será candidato?
Leite - Tem o programa de investimentos Avançar, outros investimentos como, por exemplo, as obras federais... Tive reunião com o Dnit e o ministro dos Transportes, Tarcísio Gomes de Freitas, sobre as obras federais no Rio Grande do Sul que estão em ritmo muito lento ou paralisadas por falta de dinheiro federal. O governo do Estado se dispôs a fazer um acerto com o governo federal para pagar as obras. Não descartamos, diante da incapacidade financeira do governo federal, acelerar a obra da BR-116, o acesso do porto de Rio Grande, a BR-290. Estamos discutindo até juridicamente um instrumento para esse acerto em que o Estado vai pagar parte dessas obras para que andem rapidamente. Tem ainda a revisão salarial dos servidores, que devemos encaminhar à Assembleia Legislativa em março, entre outros temas.
Todas as agendas na missão aos Estados Unidos - financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), organização do South Summit, parcerias com Amazon e Dell, projeto de hidrogênio verde - são iniciativas que devem sair do papel no futuro. Como fica essa agenda sem a sua liderança em uma eventual candidatura?
Leite - Tenho absoluta tranquilidade de que o Ranolfo está inserido, nunca foi um vice decorativo, sempre teve, além da sua função como secretário de Segurança Pública, ativa participação no grupo de secretários a quem eu recorro semanalmente para discutir temas estratégicos do governo. Está por dentro de todas as pautas, tanto que saí por essas quase duas semanas com absoluta tranquilidade, tocando diversas pautas com ele pelo telefone, por vídeo-chamada. Mesmo assim, tenho a responsabilidade de deixar tudo encaminhado. Governo é assim, temos que passar bastão. Houve negociação de financiamentos do BID feita no governo Yeda (Crusius, PSDB, 2007-2010) que acabaram sendo desembolsados no governo Tarso (Genro, PT, 2011-2014), houve negociação no governo Tarso que acabou tendo desembolso no governo (José Ivo) Sartori (MDB, 2015-2018).
Essa parceria com o Ranolfo faria com que ele fosse o candidato favorito? Teria que ser necessariamente seu sucessor?
Leite - Ainda vamos sentar e conversar. Como sempre disse - até a meu próprio respeito -, o candidato precisa ter três capacidades: a capacidade política, a técnica de gestão e a capacidade eleitoral. A questão é que a capacidade eleitoral depende do contexto. Temos uma circunstância em que a polarização nacional tende a ter impacto no cenário local, e esse componente precisa ser avaliado, qual é o melhor caminho para que tenhamos a vitória nas eleições. Não tenho dúvida de que o Ranolfo é um grande nome, com muita qualidade. Leal, parceiro, competente, conhece o governo por dentro, tem habilidade política. Então, vamos analisar a questão do ponto de vista eleitoral.
A capacidade eleitoral...
Leite - Essa capacidade de eleição que, como eu disse, não é do candidato... Eu uso o exemplo do (Geraldo) Alckmin, que, em 2006, fez 40% dos votos para presidente da República e, em 2018, fez 4%. Não mudou o Alckmin, mudou o cenário. É isso que temos que avaliar, nesse contexto, qual é o perfil de candidatura que melhor o governo consegue fazer se conectar com o desejo da população, para garantir que o projeto tenha continuidade. O projeto está acima das pessoas, o projeto de responsabilidade fiscal, mas ao mesmo tempo de visão de futuro para o Estado. Temos preocupação que não tenha continuidade. E tenho convicção de que vamos vencer a eleição com a candidatura que apresentarmos para representar nosso projeto. Temos a compreensão da maior parte da população de que o caminho que o Rio Grande do Sul adotou está dando resultados e não podemos nos desviar.
O senhor sempre observa, inclusive na palestra em Austin, que o fato de não ser candidato à reeleição garantiu o apoio coeso de partidos como PP e MDB, que pretendem ter candidato ao Piratini. O senhor almeja unir a base do governo em um palanque único no Estado, até para apoiar sua candidatura nacional, se ela acontecer?
Leite - Vou manter até o último momento conversas no sentido de buscar manter esta base que nos ajudou a governar unida. Sei que não é fácil, porque tem aspiração pessoal de alguns políticos em cada um dos partidos, o que é legítimo, e o desejo dos partidos pelo tamanho que eles têm (de lançar candidatura ao Piratini), pelo número de prefeitos, bancadas (legislativas), enfim, um sentimento de que devem protagonizar o processo político, o que também é legítimo. Agora, temos união em torno de um projeto. Espero que tenhamos capacidade - em todos os partidos, incluindo o PSDB, o MDB, os Progressistas - de analisar dentro do cenário eleitoral qual é a melhor chance de manter o projeto em andamento. Uma visão de longo prazo. Ou seja, eventualmente essa dispersão na tentativa de cada um levar o seu projeto político partidário ou pessoal adiante pode significar colocar algo totalmente antagônico ao que nós pensamos como importante para o Estado com chances de vitória eleitoral. Então, chegando o momento, entre os meses de abril, maio e junho, temos que discutir com essas forças políticas para dar fôlego eleitoral àquilo que possa garantir continuidade de uma agenda que conjuntamente fizemos no Estado. Há uma expectativa de que possamos minimamente debater a manutenção desta coalizão nessa circunstância eleitoral. Mas é legítimo que os partidos queiram, até o último momento, tentar viabilizar que eles protagonizem.
Ter o candidato...
Leite - Assim como no cenário nacional não está se vendo um nome que possa avocar o direito de ser o candidato que reúne os partidos, no cenário local também não existe um nome que tenha, neste momento, a condição ao natural de avocar o direito de ser o candidato deste campo político. Então, é legítimo que os partidos tentem a exaustão ir na direção de protagonizar o processo político. Mas quando chegar a hora da tomada de decisão, tem que parar e olhar: "Bom, qual é o cenário? Quem é que realmente pode (vencer)? Quais as condições daqueles que representam a polarização nacional em nível local e o quanto que a dispersão pode significar a oportunidade para algo que é diametralmente oposto ao que pensamos para o Estado?" E aí, a responsabilidade com o Estado, isso exige abnegação, desprendimento de todos. Entender que tem que se abrir mão desse desejo de protagonismo em favor da manutenção (do projeto).
Um pragmatismo eleitoral...
Leite - Pragmatismo eleitoral, mas embasado em um propósito, ou seja, não é ganhar a qualquer custo. É a percepção de que a manutenção da agenda é mais importante do que vaidades ou desejos pessoais e partidários por mais legítimos que sejam. Este pragmatismo é necessário no nosso sistema político. Para compor coalizão, precisa olhar a dispersão que temos de candidaturas, as chances que estão se abrindo para aquilo que não necessariamente é a vontade da maioria acabar se transformando numa maioria casual, de uma circunstância... Como aconteceu numa eleição no Rio de Janeiro, em que candidatos próximos ao governo cada um teve 12%, 13%, dispersaram seus votos e levaram duas candidaturas muito distintas (do governo) ao segundo turno.
O senhor quer dizer que a pulverização de candidaturas de sua base aliada ao Piratini pode levar ao segundo turno aqui no Estado nomes como Edegar Pretto (PT) e Onyx Lorenzoni (DEM), candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro, que polarizam nacionalmente. É isso?
Leite - É a sua análise...

Perfil

Eduardo Figueiredo Cavalheiro Leite é natural de Pelotas e tem 37 anos. É bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pelotas e cursou mestrado em Gestão e Políticas Públicas na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Foi aluno convidado do curso de Políticas Públicas da Universidade de Columbia, de Nova York, nos Estados Unidos, em 2017. Concorreu pela primeira vez a um cargo público em 2004, para a Câmara Municipal de Pelotas, ficando como suplente de vereador. Elegeu-se no pleito seguinte, em 2008, sendo vereador de 2009 a 2012, presidindo o Legislativo em 2011. Concorreu ao cargo de deputado estadual na eleição de 2010, mas não se elegeu. Foi eleito prefeito de Pelotas em 2012 e comandou a cidade de 2013 a 2016, elegendo a sucessora, Paula Mascarenhas (PSDB). Em 2018, venceu a eleição ao Palácio Piratini, aos 33 anos, tornando-se o governador mais jovem do Brasil. Assumiu a chefia do Executivo gaúcho em janeiro de 2019, cargo que ocupa até hoje.