Candidatura de Heinze ao governo é irreversível, diz presidente do PP/RS, Celso Bernardi

Em nível nacional, vamos apoiar o presidente. Aqui no Rio Grande do Sul, também estaremos 100% com Bolsonaro, afirma Bernardi

Por Marcus Meneghetti

Fotos do presidente estadual do PP, Celso Bernardi, para a entrevista especial da Política.
O presidente estadual do PP não hesita ao afirmar que "a candidatura do senador Luis Carlos Heinze (PP) ao governo do Estado é irreversível". Bernardi tem confiança que Heinze irá para o segundo turno da eleição de 2022. Aliás, nessa etapa do pleito, espera receber o apoio do PSDB - que deve lançar candidato próprio - e do ministro Onyx Lorenzoni (hoje DEM) - que também deve concorrer ao Palácio Piratini.
Na avaliação de Bernardi, a aliança entre PSDB e PP não deve se repetir em 2022. Nas últimas quatro eleições, os dois partidos elegeram dois governadores - Yeda Crusius (PSDB, em 2006) e Eduardo Leite (PSDB, em 2018) - e dois senadores - Ana Amélia Lemos (PP, em 2010) e Heinze (PP, em 2018).
Em 2018, Heinze chegou a desistir da candidatura ao governo do Estado. Na ocasião, Ana Amélia Lemos (PP) concorreu a vice-presidente na chapa liderada por Geraldo Alckmin (então PSDB). Aqui no Estado, Heinze concorreu ao Senado na chapa liderada por Leite - reproduzindo a aliança nacional no Rio Grande do Sul.
Bernardi avalia que, por conta do histórico entre os partidos, o PP esperava alguma reciprocidade dos tucanos. "Logicamente o PP, que já apoiou em outras eleições tanto o MDB quanto o PSDB, podia aguardar uma reciprocidade (do PSDB)", ponderou.
Quanto a Onyx, Bernardi não vê possibilidade de Heinze desistir da candidatura para compor com o ministro do Trabalho e Previdência. Como Heinze e Onyx apoiam a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), naturalmente surge a pergunta: em qual palanque Bolsonaro discursará no RS? Bernardi tem convicção que o presidente vai reconhecer a relação que tem com Heinze há cerca de 30 anos.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Bernardi também comenta da importância do PP dentro do governo Leite. E cita a Emenda à Constituição que retirou a obrigatoriedade de plebiscito para privatizar a Corsan, o Banrisul e a Procergs, apresenta pela bancada do PP. A medida foi crucial para encaminhar a venda da estatal do saneamento.
Jornal do Comércio - O que o senhor espera das eleições de 2022?
Celso Bernardi - Em primeiro lugar, 2022 será o ano da nona eleição consecutiva para presidente da República, desde 1989. Isso já é raro na história do Brasil, então temos que celebrar a democracia e valorizar a eleição. Além disso, teremos o bicentenário da Independência do Brasil, o aniversário de 250 anos de Porto Alegre e, pela primeira vez, a Copa do Mundo vai acontecer depois das eleições. A Copa sempre acabava disputando a atenção com as eleições. Por essas razões, já será uma eleição diferente das anteriores, tanto em nível estadual quanto nacional. É um cenário bem diferente do que foi em 2018.
JC - Quais serão as principais pautas neste ano?
Bernardi - Em 2018, tínhamos a Operação Lava Jato, que fez a questão da corrupção ter um peso muito forte na eleição. Agora, a economia, a inflação, o desemprego, a saúde, a Covid vão comandar a pauta das eleições de 2022. A corrupção terá um peso menor. Então, a eleição, tanto em nível nacional quanto estadual, terá alguns focos diferentes.
JC - Na semana passada, alguns veículos noticiaram que o senador Heinze estaria cogitando assumir o Ministério da Agricultura, o que implicaria na desistência da candidatura, em favor da do ministro Onyx Lorenzoni. O senador negou isso. A candidatura de Heinze é irreversível?
Bernardi - A candidatura do senador Heinze é irreversível. Tínhamos um projeto (para o governo do Estado) já em 2018. Naquela eleição, Luis Carlos Heinze era candidato a governador até o dia 4 de agosto (quando o partido anunciou que apoiaria a candidatura de Eduardo Leite, lançando Heinze como candidato ao Senado). Mesmo com um projeto pronto, alianças e coligações, adiamos nosso sonho para 2022.
JC - As notícias em torno da desistência não passavam de boatos?
Bernardi - É boato mesmo, especulação daqueles que, como se diz, estão secando a nossa candidatura. Mas não tem nenhuma chance de acontecer isso (Heinze desistir). Seguramente, se o senador fosse convidado a ser ministro, não aceitaria, porque tem um compromisso de ser nosso candidato ao governo do Estado. Temos um candidato competitivo, trabalhador, ético, que tem entregas para o Rio Grande do Sul, um líder municipalista... Além disso, Luis Carlos Heinze é um vitorioso, nunca perdeu uma eleição, desde quando concorreu a prefeito de São Borja, passando pelas cinco eleições a deputado federal, e a senador. Não vamos desistir da candidatura.
JC - Então, não existe nenhuma chance de composição com a candidatura do ministro Onyx...
Bernardi - o ministro Onyx tem o direito de ser candidato. Seguramente, ele tem as suas razões. Respeitamos. Mas esperamos que ele nos apoie no segundo turno. Temos certeza que vamos para o segundo turno, tamanha a nossa convicção na vitória do Heinze. Sabemos que toda eleição é disputada, mas o Luis Carlos Heinze é um candidato muito competitivo. Gostaríamos que nós, do campo de centro-direita e direita, estivéssemos todos juntos (em uma única candidatura). Até porque tememos que haja um retrocesso no ajuste fiscal, nos avanços que ajudamos.
JC - O PP gaúcho vai apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022?
Bernardi - Em nível nacional, vamos apoiar o presidente. Aqui no Rio Grande do Sul, também estaremos 100% com Bolsonaro.
JC - A candidatura de Onyx Lorenzoni também pretende se apresentar como representante do presidente aqui no Rio Grande do Sul. Isso não cria uma disputa com a candidatura do senador Heinze, para ver quem será o candidato bolsonarista no Estado? Como conciliar isso?
Bernardi - Essa é uma questão de comparar. Ele é o candidato do Bolsonaro. Nós somos o candidato que nasceu de um projeto que estava proposto em 2018. Um projeto de quem tem realizações e conquistas para mostrar. O eleitor vai fazer essa comparação e vai confiar no nosso candidato, porque o senador Heinze tem entregas muito importantes.
JC - Então o PP gaúcho espera que Bolsonaro discurse no palanque de Heinze?
Bernardi - A gratidão não se terceiriza. Bolsonaro conhece Luis Carlos Heinze há 30 anos, foram colegas na Câmara dos Deputados. Heinze sempre defendeu a candidatura de Bolsonaro à presidência. Na convenção do nosso partido (quando Bolsonaro era filiado ao PP), Bolsonaro se apresentou como candidato, e Heinze falou a favor dele, tanto em 2014 quanto em 2018. O partido, em nível nacional, teve outra escolha na época. Inclusive, aqui no diretório do Rio Grande do Sul, nos rebelamos contra isso. Mas hoje temos certeza que o presidente Bolsonaro vai ser grato e reconhecer... Aqui tem uma questão de dois palanques... Nós temos o nosso, que é feito exatamente para essa sintonia, pelo trabalho que ele realiza em favor do agro, da infraestrutura...
JC - Nas últimas quatro eleições, a aliança entre PP e PSDB foi bastante vitoriosa: elegeu dois governadores, Yeda Crusius e Eduardo Leite; e dois senadores, Ana Amélia Lemos e Heinze. Considerando que o PSDB também pretende ter candidato próprio, dá para dizer que essa aliança não deve se repetir em 2022?
Bernardi - No dia 10 de junho, depois que oficializamos a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze ao governo do Estado, o primeiro gesto do senador, da executiva do partido e dos deputados estaduais e federais foi fazer uma visita ao governador Eduardo Leite. Na ocasião, explicamos para o governador as razões e justificativas para a nossa candidatura. Logicamente, o PP, que já apoiou em outras eleições tanto o MDB quanto o PSDB, podia aguardar uma reciprocidade (do PSDB). Mas o governador tem o seu projeto também, ele vai construir um projeto com outros partidos, por várias razões.
JC - Uma vez que o PP desistiu da sua candidatura em 2018 para apoiar Leite, o PP esperava algo parecido do PSDB em 2022? Não fica uma mágoa por isso não acontecer?
Bernardi - É uma decisão do PSDB, do govenador e dos coligados que estão no governo. Eles têm uma candidatura, têm outro projeto de governo, não vamos estar juntos. Mas, como seguramente estaremos no segundo turno, esperamos que eles nos apoiem, como nós sempre os apoiamos. Tanto os candidatos do MDB quanto do PSDB que foram para o segundo turno, tiveram nosso apoio total. O PP foi para a rua, fez todo um esforço para elegê-los. Esperamos que a reciprocidade venha no segundo turno.
JC - O senhor falou que o PP gaúcho vai apoiar Bolsonaro na eleição presidencial. O governador Eduardo Leite faz oposição ao presidente. Essa diferença de posição afastou a manutenção da aliança PP-PSDB?
Bernardi - É evidente que essa questão nacional tem influência. Eduardo Leite disputou as prévias do PSDB, poderia ter sido o candidato (à presidência da República) de oposição (ao presidente Jair Bolsonaro). Mesmo que isso tivesse acontecido, não estaríamos no mesmo palanque, apesar de todo o nosso respeito. Da mesma forma, ele não estaria no nosso palanque, por ser o do candidato Bolsonaro. Isso também é uma razão (do afastamento entre PP e PSDB no Rio Grande do Sul). Pela posição do PP - que tem o chefe da Casa Civil, o presidente da Câmara dos Deputados, o líder do governo -, temos um compromisso com o governo Bolsonaro.
JC - A bancada do PP na Assembleia Legislativa foi importante para a aprovação de várias reformas. Como avalia a participação do partido no governo Leite?
Bernardi - Ajudamos muito o governo, garantimos várias votações na Assembleia que foram superimportantes. Por exemplo, a Emenda à Constituição 280 (que retirou a obrigatoriedade de plebiscito para privatizar a Corsan, o Banrisul e a Procergs), de autoria do deputado Sérgio Turra (PP), foi aprovada em 2021. Se não fossemos nós (do PP) derrubarmos os plebiscitos, a partir da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), da atuação do nosso líder partidário e do governo (Frederico Antunes, PP), o Estado não teria feito as privatizações. Mas não estamos reclamando que o governo não atendeu as reivindicações que fizemos no início da gestão. Pelo contrário, muitos itens da lista que apresentamos foram atendidos.
JC - Dessa lista de reivindicações entregue ao governador, o que foi atendido?
Bernardi - Entregamos no dia 15 de novembro (de 2018) para o governador uma lista das nossas prioridades. Baseado nisso, quando fazemos uma avaliação (do governo), ficamos realmente satisfeitos, porque muitas coisas foram atendidas. Por exemplo, as privatizações, a reforma da Previdência, a reforma administrativa, o novo Código Estadual do Meio Ambiente, a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, o ajuste das contas públicas, a contenção de despesas....
JC - O que faltou implementar e que deve constar no programa do candidato Heinze?
Bernardi - Falta uma política de valorização dos servidores públicos. São eles que fazem o serviço público, por isso, não podem ser vistos como um problema, mas como uma solução. Estamos propondo um diálogo com os servidores, para que a gente possa devolver à sociedade, que é quem paga o servidor, serviços públicos de qualidade. Nesse sentido, temos um projeto diferenciado (do governo Leite). Também acreditamos que é importante governar em parceria com os municípios. É fundamental revigorar os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), colocar o governo mais perto dos municípios, ter uma política de descentralização do poder e dos recursos.
JC - O Regime de Recuperação Fiscal limita o reajuste dos servidores públicos à recomposição da inflação, o que impede aumento real dos salários...
Bernardi - Lógico, o Regime de Recuperação Fiscal estabelece que só poderemos reajustar os vencimentos dos servidores pela inflação. Só isso. Mas temos que ter diálogo sobre a questão do salário, da receita do IPE, que é o melhor plano de saúde para os servidores públicos. Temos que manter o equilíbrio financeiro do IPE, isso passa também pelo salário dos servidores, que têm um percentual descontado (para pagar o plano de saúde pelo IPE).

Perfil

Celso Bernardi tem 78 anos e é natural de Augusto Pestana. Radicado em Santo Ângelo, formou-se técnico em Contabilidade e depois graduou-se em Direito. Secretário de escola concursado, lecionou Geografia e História e atuou como advogado. Técnico-científico, foi cedido para a Secretaria Estadual da Educação em 1979, quando veio para Porto Alegre. Atuou como chefe de gabinete do secretário até 1986 e retornou ao IPE. No mesmo ano, elegeu-se deputado estadual pelo PDS. Sua vida política começara duas décadas antes, no movimento estudantil. Foi vice-presidente da Uges em 1964, na ditadura militar, e deixou o cargo. Ingressou na Arena nos anos 1970, época em que foi secretário-geral do município em Santo Ângelo. Em 1990, elegeu-se deputado federal. Em 1993, assumiu a presidência da sigla (hoje, PP), cargo que ocupa por 12 anos. Disputou o governo do Estado em 1994 e em 2002. Em 2007, assumiu a Secretaria Estadual de Relações Institucionais e, em 2009, a diretoria de Operações do BRDE, no governo Yeda Crusius (PSDB). É presidente estadual do PP desde 2011.