Com a meta de estruturar o Podemos em cerca de 250 municípios gaúchos, até março do ano que vem, Everton Braz leva a expertise partidária de mais de 25 anos no PTB para consolidar a nova sigla no Estado e fazer do diretório estadual uma das apostas nacionais da sigla para as eleições de 2022. Angariando parlamentares, prefeitos e lideranças regionais, prepara para sábado, dia 4 de dezembro, o primeiro grande evento de filiações, com a presença do pré-candidato a presidente da República, o ex-juiz Sergio Moro, e a confirmação da adesão de outro egresso do PTB, o deputado federal Mauricio Dziedricki. A estratégia do partido para o pleito no Rio Grande do Sul é focar na nominata proporcional e na reeleição do senador Lasier Martins, sem pretensão de candidatura própria ao Piratini, com tendência de apoio à chapa encabeçada pelo candidato do PSDB. Com cerca de 10 mil filiados no Estado, a expectativa da sigla é eleger pelo menos dois deputados federais e quatro estaduais, e manter a cadeira no Senado. Braz avalia que a filiação de Moro facilita a construção de candidaturas pelo Podemos no Estado.
Jornal do Comércio - O senhor esteve 25 anos no PTB, foi dirigente municipal. Quando migrou ao Podemos? Quando assumiu o diretório estadual?
Everton Braz - Desde maio deste ano, em função da saída de mais de mil pessoas do PTB. Assumimos a sigla ali, com o objetivo de montar um partido, uma nominata, e preparar as eleições, com a perspectiva da vinda do deputado federal Mauricio (Dziedricki) ali na janela eleitoral de março do ano que vem. E estamos fazendo isso, a previsão que temos é de chegar, até março, entre 200 e 250 municípios com o partido organizado, e, claro, essa perspectiva da vinda do Mauricio nos ajuda muito. Com a novidade da filiação do (Sergio) Moro mais ainda, junto à notícia de que o Mauricio conseguiu a homologação para filiação na Justiça Eleitoral. A filiação do Moro deu uma esquentada no partido. Já temos, nesse momento, praticamente a nominata completa para deputado federal e 80% da de deputados estaduais. Na janela eleitoral para troca partidária (até 2 de abril), teremos bancadas na Assembleia e na Câmara Federal, e perspectiva de filiação de prefeitos e vices no evento que teremos no dia 4 de dezembro, em Porto Alegre, no Teatro do Bourbon Country. Está em ebulição o partido neste momento.
JC - Nesse evento com a participação do ex-juiz Sergio Moro, já há um número estimado de filiações que serão feitas?
Braz - Vamos fazer a filiação de lideranças que vão concorrer, e pelo menos de uns 10 prefeitos e vices nesse dia. Figuras como o vereador Mauricio Marcon, mais votado de Caxias do Sul, que será candidato a deputado federal. Também temos expectativa de filiar 10 ou 12 lideranças que concorrerão à Câmara e Assembleia Legislativa. Então, esse ato terá a presença de todos os pré-candidatos que já estão confirmados, para apresentarmos a nominata. Há conversas avançadas também com deputados estaduais e federais, mas ainda não podemos revelar. E com a vinda do Moro, muitos delegados, procuradores aposentados e pessoas da área jurídica têm nos procurando.
JC - Parlamentares e lideranças do PTB devem migrar para a sigla ou a tendência é o PSDB, como ocorreu com o vice governador Ranolfo Vieira Júnior, que pode concorrer ao Piratini?
Braz - A maioria dos nomes do PTB deve mesmo ir para o PSDB, pois o número de votos que fazem é muito alto, 35, 40 mil votos, e isso assusta a nominata que estamos montando. Para atrairmos candidatos, temos de mostrar a nominata e eles sentirem que se encaixam e têm chance.
JC - Como o Podemos está trabalhando a consolidação de sua base de apoio e alianças para 2022? Pretendem lançar candidatura própria ao governo ou apenas compor chapa, já que o senador Lasier Martins concorre à reeleição pela sigla?
Braz - Temos boa relação com o governo do Estado, então, a tendência é apoiar a possível candidatura do Ranolfo ao Piratini, e, claro, buscar um espaço para nossa candidatura ao Senado, com o Lasier, e fazer uma composição. Até porque a chapa majoritária não precisa ter, necessariamente, apenas um candidato ao Senado. Essa é a tendência do que estamos construindo, não devemos lançar candidato a governador. O objetivo principal é a nominata proporcional, a reeleição do Lasier e a eleição de bancadas estadual e federal.
JC - O evento do dia 4 de dezembro será a primeira convenção estadual com a participação do Moro. Isso é um indicativo de que o diretório gaúcho é visto com outros olhos pelo Podemos nacional?
Braz - É também o primeiro evento partidário que Moro participará com imprensa. Então, não tenha dúvidas, essa é a aposta da presidente nacional do partido, deputada Renata Abreu (SP), que o Rio Grande do Sul, junto com São Paulo, seja dos estados mais organizados, em condição de eleger bancadas significativas na Câmara e Assembleia, e que mostra a organização e mobilização do partido, que, em pouco tempo da chegada da nova direção, já conseguiu construir diretório nos municípios e nominatas. Isso mostra prestígio e a aposta da direção nacional do Podemos no Rio Grande do Sul.
JC - Embora Moro ainda não diga literalmente que é candidato ao Palácio do Planalto em 2022, se articula como tal e é apontado como a terceira via para quebrar a polarização Lula/Bolsonaro. Há possibilidade de o partido abrir mão da cabeça de chapa e se aliar a outra sigla para a eleição majoritária?
Braz - Na verdade, o que se apresenta é Moro como uma alternativa de candidatura de terceira via, claro que isso depende de construção política e de apoios, e jamais o Moro se apresenta como sendo um empecilho para a construção de uma terceira via que seja viável, mas está à disposição do Brasil para ser essa terceira via. A postura do partido é de construção, mas, após os primeiros dias do lançamento da filiação do Moro, a candidatura já tem ocupado um espaço muito forte, e isso se refletiu nas pesquisas, já apareceu em terceiro lugar, com 11% nas intenções de voto, e começa a se consolidar como uma terceira via viável. A presidente Renata Abreu tem muita articulação com os demais partidos, e surgiu espaço para a construção dessas funções políticas do ex-ministro Sergio Moro, que tem muitas condições de viabilidade neste momento, mas sem aquela arrogância do "se não for eu, não será ninguém".
JC - O partido mostrou-se aliado do governo Bolsonaro nas votações no Congresso. Como o senhor define a linha de atuação do partido nacionalmente?
Braz - Na verdade, o Podemos tem uma regra que é ser partido, independente de governos. O partido votou com o governo Bolsonaro reformas importantes, projetos importantes para o desenvolvimento do País, mas não faz parte da base do governo, tem parlamentares identificados com o governo, mas há, em algum momento dessa construção, um entendimento do partido, dos 11 deputados e da bancada de nove senadores, de se manter independente. E isso já está amalgamado de uma forma bem tranquila.
JC - Por estar em formação, o partido não apresenta ainda uma capilaridade sólida no País, e imagino que isso seja o principal empecilho para o projeto nacional, que vai exigir muita negociação. Quais as siglas já procuradas ou que identificam como as mais prováveis para futuras alianças ao Palácio do Planalto?
Braz - O partido tem pensado na União do Brasil (fusão entre PSL e DEM), no Novo, no MDB, na busca da construção de uma viabilidade da candidatura. A gente acredita que a figura do Moro é bastante conhecida no Brasil, e se tornou popular até após os episódios da Lava Jato, e isso nos ajuda a suprir essa questão da capilaridade da estrutura partidária, da presença do partido, e nos dá mais possibilidade de construir candidaturas e essa campanha nacional. Mas há conversas com vários partidos.
JC - Outra filiação prestes a ocorrer é a do ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol? Ele vem na esteira do Moro, qual a expectativa e os planos para ele?
Braz - Já é certo, ele já pediu demissão do Ministério Público e está em campanha. Se filiará ao Podemos para concorrer à Câmara Federal pelo Paraná, pois para o Senado teremos a reeleição do Álvaro Dias, e é vaga única.
JC - Sua trajetória é marcada por 25 anos de PTB. Com toda a crise institucional da sigla, inclusive com a prisão do presidente nacional, Roberto Jefferson, e intervenção no diretório estadual, como foi a decisão de saída e o que pesou para o ingresso no Podemos?
Braz - O partido (PTB) em Porto Alegre, 95% dele, nos acompanhou para o Podemos. Mas, com certeza, foi decisiva na nossa escolha a figura da presidente nacional Renata Abreu, pois o que ela disser tu imprime, sabe? É uma dessas dirigentes que é vista nacionalmente no Congresso. Desde o primeiro dia que o deputado Mauricio (Dziedricki) chegou em Brasília ela o procurou e fez o convite, sempre muito insistente. E quando houve a crise no PTB, ela embarcou em um avião, desceu em Porto Alegre e nos deu carta branca para construir o Podemos gaúcho. E isso foi decisivo. Além disso, é um partido que não tem mácula, que vem sendo construído com essa imagem de política nova, com gestão empresarial, merecimento de desempenho dos diretórios, isso nos motivou muito a tomar a decisão.
JC - O senhor presidia o PTB da Capital na eleição passada para a prefeitura, quando ocorreu a renúncia da candidatura de José Fortunati, por conta de problemas no prazo de filiação do candidato a vice (André Cecchini, do Patriota), fator que pesou também para a vitória do prefeito Sebastião Melo (MDB). O que, de fato, aconteceu? Foi um descuido da campanha?
Braz - A gente foi decidindo a escolha do vice do Patriota, convidou o André Cecchini e recebeu a informação de que estava ok a filiação dele, plenamente em condições de prazo, e nós encaminhamos ao TRE a chapa para a homologação. Enfim, o juiz eleitoral indeferiu o registro no último dia do prazo, em função dos atrasos dos julgamentos na pandemia. Só que isso nos deixou fora de tempo para substituição da chapa. A Justiça acabou julgando isso fora de prazo, na verdade, fomos surpreendidos por essa decisão, e o partido do vice sempre afirmando que não havia problema. A decisão se deu ali na semana da eleição, numa quinta-feira antes. Recebemos a questão, ouvimos a assessoria jurídica e vimos os remédios que tínhamos, porque o fato de impugnar o vice inviabilizaria a chapa, que ficaria sob judice, mas sujeita a recurso do TSE, e isso nos feriria de morte nas eleições. Então, houve uma reunião de emergência, e entendemos que não teríamos mais condições de dar continuidade à campanha. O próprio Fortunati disse que a gente não podia colocar em risco o voto das pessoas que acreditavam na candidatura. Fica sempre o nosso protesto ao fato de o TRE ter julgado fora do prazo dos 20 dias, que é o que determina a lei. Por fim, entendendo que tínhamos a responsabilidade de tomar uma decisão em relação ao apoio do partido e do grupo que representávamos, decidimos que o caminho era o apoio ao Melo, porque era o que mais se aproximava do que defendíamos.
JC - Na época houve a versão de que alguém da própria candidatura do Melo teria denunciado a chapa, e isso causou estranheza aos eleitores quando aderiram à campanha vencedora...
Braz - Claro, houve esse boato, o Melo imediatamente ligou ao Fortunati e disse: "Olha, é absolutamente mentira isso". Não posso responder pelas pessoas, mas a gente tem que acreditar. No fim, entendíamos que o melhor para a cidade, a partir da impossibilidade da candidatura do Fortunati, era o Melo, que poderia representar avanço para a cidade em relação à administração que estava no governo. Então, tomamos essa decisão, o próprio Fortunati logo depois fez uma declaração de apoio ao Melo, e acreditamos que esse movimento foi decisivo para que o Melo fosse para o segundo turno e vencesse, pois a força do PTB municipal fez toda a diferença ali.
JC - Para fechar, qual é a sua análise do atual momento político e do planjamento do Podemos gaúcho para as eleições gerais de 2022?
Braz - É um momento muito positivo e otimista. Vemos a vinda do Moro como algo muito forte e que vai atrair muita gente. Então, teremos um grande evento no Estado e uma bela eleição, com meta de eleger dois deputados federais, quatro estaduais, e reeleger o senador Lasier Martins.
Perfil
Everton Luis Gomes Braz, 48 anos, tem sua atuação profissional dedicada à gestão pública. Em Porto Alegre, foi diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e atuou na Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa). Foi ainda secretário-adjunto da Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa do Estado. Com atuação intensa na Assembleia Legislativa, no Senado e na Câmara dos Deputados, por 25 anos integrou o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sigla na qual iniciou sua trajetória política como presidente do Movimento da Juventude Trabalhista (MJT), chegando ao comando do Diretório Metropolitano de Porto Alegre. Em maio de 2021, filiou-se ao Podemos, assumindo a presidência estadual da sigla, com o objetivo de melhorar a representatividade da legenda no Estado e prepará-la para enfrentar a primeira eleição geral, em outubro de 2022.