PSDB não pode deixar de ter candidato no RS, diz Lucas Redecker

Presidente do PSDB gaúcho, Lucas Redecker avalia que o Estado "conseguiu equilibrar as finanças, avançou nas privatizações e, agora, vamos colher os resultados"

Por Marcus Meneghetti

Redecker diz que não foi possível chamar segundo colocado na disputa
Ao avaliar as movimentações para as eleições ao governo do Estado em 2022, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Lucas Redecker, sinaliza que os tucanos devem lançar um nome ao Palácio Piratini. "É claro que o PSDB quer estar na cabeça de chapa. O partido tem um legado, uma construção de um projeto, feito pelo governo Eduardo Leite (PSDB). Então, o partido não pode se omitir de ter (um candidato) e dar continuidade às mudanças estruturais pelas quais o Rio Grande do Sul vem passando."
Entretanto, não fecha as portas para o diálogo com os partidos aliados - especialmente, o MDB e o PP. Os emedebistas cogitam lançar Alceu Moreira (MDB) ao governo do Estado. O PP trabalha com a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze. "Vamos discutir com esses grupos políticos, com esses partidos que têm uma similaridade de ideias", complementa Redecker.
Quanto ao futuro do governador Leite - que garante que não disputará a reeleição - Redecker lembra que "hoje existe um grupo muito grande dentro do PSDB que quer vê-lo candidato a presidente da República". Por isso, projeta que Leite disputará as prévias tucanas, como pré-candidato ao Palácio do Planalto.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Redecker avalia a atuação do governo Leite no combate à pandemia de coronavírus no Estado. Também fala sobre a atuação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) - cuja base governista no Congresso Nacional, na opinião de Redecker, hoje está coesa para barrar um eventual pedido de impeachment. Ele acredita ainda que o governo do Estado deve encaminhar antes do final do mandato a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
Jornal do Comércio - Em fevereiro, um grupo de deputados federais veio a Porto Alegre para convencer Leite a se lançar ao Planalto e o aconselharam a viajar pelo País mostrando as reformas que fez no Estado. Quais reformas podem ser aplicadas em outros estados e no governo federal?
Lucas Redecker - O Rio Grande do Sul foi o que mais fez reformas estruturais. Teve a reforma da Previdência, administrativa, privatizações. O governador teve a coragem de encaminhar e a capacidade de diálogo para garantir a aprovação. Isso demonstra que ele coloca (a reforma da máquina pública) à frente das circunstâncias políticas, arcando inclusive com desgaste. Hoje somos um estado em que conseguiu equilibrar as finanças, avançou nas privatizações e, agora, vamos colher os resultados. E são muito claros: uma maior capacidade de investimento principalmente na área de infraestrutura, que é o que estamos vendo no plano estadual de concessões, nos convênios que vão ser construídos com os municípios etc. (Na campanha de 2018) muitos governadores e o próprio presidente se posicionaram a favor de privatizações e reformas, mas quem acabou liderando esse processo no Brasil foi o governo do Rio Grande do Sul.
JC - Recentemente, Leite anunciou a intenção de privatizar a Corsan, apesar de ter prometido na campanha que não a venderia. O quanto isso pode prejudicar a imagem do governador e atrapalhar os planos de concorrer à presidência?
Redecker - (Ao fazer o anúncio sobre o encaminhamento da privatização) em nenhum momento se fez uma avaliação se isso poderia prejudicar ou beneficiar a imagem do governador na disputa de qualquer cargo que ele concorra. A avaliação foi de que era necessário encaminhar a privatização da Corsan para o futuro financeiro do Estado, para evitar um novo passivo, em virtude da aprovação do marco legal do saneamento. Então, creio que foi uma decisão acertada encaminhar a privatização da Corsan, justamente pelas exigências do Marco do Saneamento. Precisamos encaminhar a privatização antes que a companhia gere um passivo ao Estado, perdendo municípios importantes para a iniciativa privada, que vai oferecer propostas melhores pelos mesmos serviços; e também pela falta de capacidade de investimento .
JC - Acredita que a venda da Corsan ocorre na atual da gestão?
Redecker - A expectativa é que se faça (a privatização) antes do final da gestão. Se isso acontecer antes do final do governo, grande parte dos recursos ficará para o próximo governo investir, o que demonstra como o governador Eduardo Leite é diferente, colocando o interesse público em primeiro lugar. Afinal, historicamente o gestor não deixa dinheiro para o próximo governador, gasta tudo no seu mandato.
JC - Outra pauta com a qual o governo Leite está empenhado é o RRF, cujas negociações se arrastam desde o governo José Ivo Sartori (MDB). Agora, com as mudanças nas regras, ainda falta a regulamentação federal de alguns quesitos. Haverá tempo para a adesão ao regime ainda no governo Leite?
Redecker - Todos os movimentos que o governador vem fazendo são favoráveis ao RRF. Tem a questão das reformas, do diálogo pleno com o Ministério da Economia e com o próprio Supremo Tribunal Federal em relação à suspensão do pagamento da dívida com a União. Essa é uma pauta desde o primeiro dia do mandato. Fui o coordenador da transição e, ainda nesse período, fizemos uma reunião com o presidente Bolsonaro sobre o tema. Não é o governador quem diz quando vai ser assinada a adesão, mas hoje, entre os estados com problemas financeiros, somos o que mais fez o seu dever de casa.
JC - A movimentação em torno da eleição presidencial de 2022 pode atrapalhar as negociações com o Ministério da Economia?
Redecker - Tenho confiança de que a fala institucional, seja do Ministério da Economia, do governo federal ou dos governos estaduais, vai ficar à frente das diferenças políticas. Eleição é apenas um capítulo. A gestão dos estados e da União é outro. E não podemos deixar com que uma coisa contamine a outra. Nós, parlamentares de todos os estados, vamos acompanhar as negociações e ajudar para que as eleições não interfiram nesse processo.
JC - Alguns membros do PSDB apontam a prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, como um bom nome para concorrer ao governo do Estado, visto que o governador já disse que não vai concorrer à reeleição. O partido já tem uma definição se vai lançar um candidato ou não?
Redecker - Isso não foi discutido ainda, mas o PSDB tem muitos quadros. Temos prefeitos de grandes cidades, como é o caso da Fátima; o prefeito de Santa Maria (Jorge Pozzobom); a prefeita de Pelotas (Paula Mascarenhas); o prefeito de Viamão (Valdir Bonatto); o prefeito de Caxias do Sul (Adiló Didomenico). Também temos o ex-prefeito Marchezan. Temos o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, que é uma pessoa que conhece o governo, é um gestor qualificado. Com 40 anos, já foi secretário de três pastas importantes (no governo Sartori, comandou a pasta de Minas e Energia; no governo Leite, a de Meio Ambiente e Infraestrutura; e Casa Civil). Além disso, temos deputados estaduais federais... Enfim, o PSDB tem muitos nomes.
JC - Então o PSDB deve lançar candidatura própria...
Redecker - É claro que o PSDB quer estar na cabeça de chapa. O partido tem um legado, uma construção de um projeto, feito pelo governo Eduardo Leite. Então, o partido não pode se omitir de ter (um candidato) e dar continuidade às mudanças estruturais. Tivemos um governo que não foi disruptivo, porque o governo do Eduardo Leite deu continuidade à política que o governador Sartori começou. Aliás, além do caso de Sartori e Leite, só existe um único exemplo similar no Rio Grande do Sul - que foi quando a (ex-)governadora Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010) deu continuidade às reformas iniciadas pelo (ex-governador Germano) Rigotto (MDB, 2003-2006). Foi na gestão Yeda em que tivemos o déficit zero e conseguimos ter fôlego de investimentos no Rio Grande do Sul. Logo depois tivemos um governo de esquerda que agravou muito a crise financeira.
JC - Tem possibilidade de repetir essa aliança?
Redecker - Qual é a preocupação que temos? É qual será o grupo político que vai estar à frente do projeto de continuidade da agenda que o governo está implantado no Rio Grande do Sul. O PSDB tem nomes para oferecer e claro que vai querer oferecer esses nomes. Vamos discutir com esses grupos políticos, com esses partidos que têm uma similaridade de ideias. Sabemos que vários partidos têm pré-candidatos, o que deixa claro que a base do governo é ampla e dispõe de vários quadros.
JC - O discurso das lideranças do MDB e do PSDB são parecidos. Essa afinidade também se traduziu no governo, uma vez que, na última reforma do secretariado, o governador nomeou mais emedebistas para o primeiro escalão.
Redecker - O MDB é um partido como outros aliados do governo. Não vejo por que partidos aliados, que estão juntos em um projeto de governo, que entregam resultados à sociedade gaúcha, devam estar separados na discussão sobre um novo governo de continuidade. É evidente que o MDB tem quadros e vai querer lançar nomes para o governo. Nós também teremos. Outros partidos também. O que não podemos fazer é fechar a porta do diálogo. Temos que avaliar quem são esses nomes, quem tem maior capacidade para construir esta continuidade.
JC - O PP já trabalha com a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze. Isso muda a relação do governo com o PP?
Redecker - Creio que o compromisso que o PP tem com o Rio Grande do Sul, com o governo Eduardo Leite, não muda. Foi um parceiro de primeira hora e continua votando a favor das reformas, continua com os secretários. Isso demonstra que o partido está alinhado com os projetos do governo. Ele (Heinze) é mais um daqueles que podem representar essa agenda. Acredito que o PP continua na Assembleia votando com o Piratini, não porque tem interesse em participar ou sair do governo, mas porque tem interesse em manter essa agenda de transformação.
JC - Quanto à candidatura de Leite ao Planalto, a tendência é que tenha que passar pelas prévias ou há chance de acordo com o outro pré-candidato, o governador de São Paulo, João Doria?
Redecker - Essa é uma questão muito pessoal do governador (Leite). Hoje existe um grupo muito grande dentro do PSDB que quer ver o governador Eduardo Leite como seu candidato à presidência. O governador não vai concorrer à reeleição, ele já deixou isso muito claro. Não concorrendo à reeleição, ele pode, sim, ser o candidato do PSDB. Ele não vai se furtar de debater esse tema, de se colocar à disposição do partido. Fui membro da comissão das prévias, sou parte da executiva nacional e, nesse momento, não vejo uma possível composição entre o governador Leite e o governador Doria. Percebo que as prévias estão muito bem definidas com quatro pré-candidatos (Doria, Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus Artur Virgílio).
JC - Sobre o cenário nacional, como avalia a atuação do governo Jair Bolsonaro no combate à pandemia? A partir da CPI da Covid-19, pode sair um processo de impeachment?
Redecker - Por um lado, há atritos entre as declarações do presidente e outros setores do governo. Há orientações diferentes sobre o distanciamento, uso de máscaras, medicamentos. Por outro lado, o governo federal está mandando as vacinas. É claro que poderia ter negociado antes, mas as vacinas estão chegando. Quanto ao impeachment, sinto que, hoje, a base governista está estruturada para barrar qualquer processo de impedimento.
JC - Como avalia o governo gaúcho na gestão da pandemia? O que acha da troca do sistema de bandeiras para o atual?
Redecker - O governador Eduardo Leite, assim como todos os governadores, não acertou 100%. Mas acertou mais do que errou, porque seguiu as recomendações da ciência. O sistema de bandeiras cumpriu a sua função naquele momento. Era importante o Estado centralizar a gestão, para garantir uma ação coordenada contra a pandemia e evitar que algumas regiões fossem mais afetadas que outras. Mas, em um determinado momento, esse modelo de distanciamento controlado ficou ultrapassado, porque a pandemia chegou a outro estágio. Acho que o governo acertou passando a gestão aos governos regionais, aos prefeitos.
JC - Leite é o segundo governador gaúcho do PSDB. A primeira foi Yeda Crusius. Quais as semelhanças e diferenças entre as gestões?
Redecker - Eram épocas diferentes e com situações econômicas distintas, tanto aqui quanto no País. Posso dizer que Eduardo Leite e Yeda Crusius têm características similares: são reformistas, buscam o ajuste fiscal, não deixam para depois os enfrentamentos necessários. Isso está no DNA do PSDB.

Perfil

Lucas Bello Redecker nasceu em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, em 26 de maio de 1981. Cursou direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Medicina Veterinária pela Universidade Luterana do Brasil, mas não terminou as graduações. Quanto à carreira política, começou a militância no Partido Progressista Brasileiro (PPB, hoje PP), se tornado presidente da Juventude Progressista Gaúcha. Saiu do partido após o pai, o deputado federal Júlio Redecker, se juntar ao PSDB, devido a discordâncias na integração do PP à base do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010). Em 2007, foi eleito presidente da Juventude Tucana do Rio Grande do Sul. Em 2008, concorreu a vice-prefeito de Novo Hamburgo, na chapa liderada por Jair Foscarini (MDB). Não se elegeu. Em 2010, foi o quinto mais votado para a Assembleia Legislativa. Em 2014, se reelegeu. Entretanto, passou os dois primeiros anos do mandato licenciado, para ocupar a pasta de Minas e Energia, durante a gestão do governador José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Em 2018, conquistou uma vaga de deputado federal. Em maio deste ano, assumiu a presidência do PSDB gaúcho.