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entrevista especial

- Publicada em 27 de Junho de 2021 às 11:00

PSDB não pode deixar de ter candidato no RS, diz Lucas Redecker

Redecker afirma que governador Eduardo Leite pode ser candidato à presidência da República em 2022

Redecker afirma que governador Eduardo Leite pode ser candidato à presidência da República em 2022


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Ao avaliar as movimentações para as eleições ao governo do Estado em 2022, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Lucas Redecker, sinaliza que os tucanos devem lançar um nome ao Palácio Piratini. "É claro que o PSDB quer estar na cabeça de chapa. O partido tem um legado, uma construção de um projeto, feito pelo governo Eduardo Leite (PSDB). Então, o partido não pode se omitir de ter (um candidato) e dar continuidade às mudanças estruturais pelas quais o Rio Grande do Sul vem passando."
Ao avaliar as movimentações para as eleições ao governo do Estado em 2022, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Lucas Redecker, sinaliza que os tucanos devem lançar um nome ao Palácio Piratini. "É claro que o PSDB quer estar na cabeça de chapa. O partido tem um legado, uma construção de um projeto, feito pelo governo Eduardo Leite (PSDB). Então, o partido não pode se omitir de ter (um candidato) e dar continuidade às mudanças estruturais pelas quais o Rio Grande do Sul vem passando."
Entretanto, não fecha as portas para o diálogo com os partidos aliados - especialmente, o MDB e o PP. Os emedebistas cogitam lançar Alceu Moreira (MDB) ao governo do Estado. O PP trabalha com a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze. "Vamos discutir com esses grupos políticos, com esses partidos que têm uma similaridade de ideias", complementa Redecker.
Quanto ao futuro do governador Leite - que garante que não disputará a reeleição - Redecker lembra que "hoje existe um grupo muito grande dentro do PSDB que quer vê-lo candidato a presidente da República". Por isso, projeta que Leite disputará as prévias tucanas, como pré-candidato ao Palácio do Planalto.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Redecker avalia a atuação do governo Leite no combate à pandemia de coronavírus no Estado. Também fala sobre a atuação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) - cuja base governista no Congresso Nacional, na opinião de Redecker, hoje está coesa para barrar um eventual pedido de impeachment. Ele acredita ainda que o governo do Estado deve encaminhar antes do final do mandato a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
Jornal do Comércio - Em fevereiro, um grupo de deputados federais veio a Porto Alegre para convencer Leite a se lançar ao Planalto e o aconselharam a viajar pelo País mostrando as reformas que fez no Estado. Quais reformas podem ser aplicadas em outros estados e no governo federal?
Lucas Redecker - O Rio Grande do Sul foi o que mais fez reformas estruturais. Teve a reforma da Previdência, administrativa, privatizações. O governador teve a coragem de encaminhar e a capacidade de diálogo para garantir a aprovação. Isso demonstra que ele coloca (a reforma da máquina pública) à frente das circunstâncias políticas, arcando inclusive com desgaste. Hoje somos um estado em que conseguiu equilibrar as finanças, avançou nas privatizações e, agora, vamos colher os resultados. E são muito claros: uma maior capacidade de investimento principalmente na área de infraestrutura, que é o que estamos vendo no plano estadual de concessões, nos convênios que vão ser construídos com os municípios etc. (Na campanha de 2018) muitos governadores e o próprio presidente se posicionaram a favor de privatizações e reformas, mas quem acabou liderando esse processo no Brasil foi o governo do Rio Grande do Sul.
JC - Recentemente, Leite anunciou a intenção de privatizar a Corsan, apesar de ter prometido na campanha que não a venderia. O quanto isso pode prejudicar a imagem do governador e atrapalhar os planos de concorrer à presidência?
Redecker - (Ao fazer o anúncio sobre o encaminhamento da privatização) em nenhum momento se fez uma avaliação se isso poderia prejudicar ou beneficiar a imagem do governador na disputa de qualquer cargo que ele concorra. A avaliação foi de que era necessário encaminhar a privatização da Corsan para o futuro financeiro do Estado, para evitar um novo passivo, em virtude da aprovação do marco legal do saneamento. Então, creio que foi uma decisão acertada encaminhar a privatização da Corsan, justamente pelas exigências do Marco do Saneamento. Precisamos encaminhar a privatização antes que a companhia gere um passivo ao Estado, perdendo municípios importantes para a iniciativa privada, que vai oferecer propostas melhores pelos mesmos serviços; e também pela falta de capacidade de investimento .
JC - Acredita que a venda da Corsan ocorre na atual da gestão?
Redecker - A expectativa é que se faça (a privatização) antes do final da gestão. Se isso acontecer antes do final do governo, grande parte dos recursos ficará para o próximo governo investir, o que demonstra como o governador Eduardo Leite é diferente, colocando o interesse público em primeiro lugar. Afinal, historicamente o gestor não deixa dinheiro para o próximo governador, gasta tudo no seu mandato.
JC - Outra pauta com a qual o governo Leite está empenhado é o RRF, cujas negociações se arrastam desde o governo José Ivo Sartori (MDB). Agora, com as mudanças nas regras, ainda falta a regulamentação federal de alguns quesitos. Haverá tempo para a adesão ao regime ainda no governo Leite?
Redecker - Todos os movimentos que o governador vem fazendo são favoráveis ao RRF. Tem a questão das reformas, do diálogo pleno com o Ministério da Economia e com o próprio Supremo Tribunal Federal em relação à suspensão do pagamento da dívida com a União. Essa é uma pauta desde o primeiro dia do mandato. Fui o coordenador da transição e, ainda nesse período, fizemos uma reunião com o presidente Bolsonaro sobre o tema. Não é o governador quem diz quando vai ser assinada a adesão, mas hoje, entre os estados com problemas financeiros, somos o que mais fez o seu dever de casa.
JC - A movimentação em torno da eleição presidencial de 2022 pode atrapalhar as negociações com o Ministério da Economia?
Redecker - Tenho confiança de que a fala institucional, seja do Ministério da Economia, do governo federal ou dos governos estaduais, vai ficar à frente das diferenças políticas. Eleição é apenas um capítulo. A gestão dos estados e da União é outro. E não podemos deixar com que uma coisa contamine a outra. Nós, parlamentares de todos os estados, vamos acompanhar as negociações e ajudar para que as eleições não interfiram nesse processo.
JC - Alguns membros do PSDB apontam a prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, como um bom nome para concorrer ao governo do Estado, visto que o governador já disse que não vai concorrer à reeleição. O partido já tem uma definição se vai lançar um candidato ou não?
Redecker - Isso não foi discutido ainda, mas o PSDB tem muitos quadros. Temos prefeitos de grandes cidades, como é o caso da Fátima; o prefeito de Santa Maria (Jorge Pozzobom); a prefeita de Pelotas (Paula Mascarenhas); o prefeito de Viamão (Valdir Bonatto); o prefeito de Caxias do Sul (Adiló Didomenico). Também temos o ex-prefeito Marchezan. Temos o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, que é uma pessoa que conhece o governo, é um gestor qualificado. Com 40 anos, já foi secretário de três pastas importantes (no governo Sartori, comandou a pasta de Minas e Energia; no governo Leite, a de Meio Ambiente e Infraestrutura; e Casa Civil). Além disso, temos deputados estaduais federais... Enfim, o PSDB tem muitos nomes.
JC - Então o PSDB deve lançar candidatura própria...
Redecker - É claro que o PSDB quer estar na cabeça de chapa. O partido tem um legado, uma construção de um projeto, feito pelo governo Eduardo Leite. Então, o partido não pode se omitir de ter (um candidato) e dar continuidade às mudanças estruturais. Tivemos um governo que não foi disruptivo, porque o governo do Eduardo Leite deu continuidade à política que o governador Sartori começou. Aliás, além do caso de Sartori e Leite, só existe um único exemplo similar no Rio Grande do Sul - que foi quando a (ex-)governadora Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010) deu continuidade às reformas iniciadas pelo (ex-governador Germano) Rigotto (MDB, 2003-2006). Foi na gestão Yeda em que tivemos o déficit zero e conseguimos ter fôlego de investimentos no Rio Grande do Sul. Logo depois tivemos um governo de esquerda que agravou muito a crise financeira.
JC - Tem possibilidade de repetir essa aliança?
Redecker - Qual é a preocupação que temos? É qual será o grupo político que vai estar à frente do projeto de continuidade da agenda que o governo está implantado no Rio Grande do Sul. O PSDB tem nomes para oferecer e claro que vai querer oferecer esses nomes. Vamos discutir com esses grupos políticos, com esses partidos que têm uma similaridade de ideias. Sabemos que vários partidos têm pré-candidatos, o que deixa claro que a base do governo é ampla e dispõe de vários quadros.
JC - O discurso das lideranças do MDB e do PSDB são parecidos. Essa afinidade também se traduziu no governo, uma vez que, na última reforma do secretariado, o governador nomeou mais emedebistas para o primeiro escalão.
Redecker - O MDB é um partido como outros aliados do governo. Não vejo por que partidos aliados, que estão juntos em um projeto de governo, que entregam resultados à sociedade gaúcha, devam estar separados na discussão sobre um novo governo de continuidade. É evidente que o MDB tem quadros e vai querer lançar nomes para o governo. Nós também teremos. Outros partidos também. O que não podemos fazer é fechar a porta do diálogo. Temos que avaliar quem são esses nomes, quem tem maior capacidade para construir esta continuidade.
JC - O PP já trabalha com a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze. Isso muda a relação do governo com o PP?
Redecker - Creio que o compromisso que o PP tem com o Rio Grande do Sul, com o governo Eduardo Leite, não muda. Foi um parceiro de primeira hora e continua votando a favor das reformas, continua com os secretários. Isso demonstra que o partido está alinhado com os projetos do governo. Ele (Heinze) é mais um daqueles que podem representar essa agenda. Acredito que o PP continua na Assembleia votando com o Piratini, não porque tem interesse em participar ou sair do governo, mas porque tem interesse em manter essa agenda de transformação.
JC - Quanto à candidatura de Leite ao Planalto, a tendência é que tenha que passar pelas prévias ou há chance de acordo com o outro pré-candidato, o governador de São Paulo, João Doria?
Redecker - Essa é uma questão muito pessoal do governador (Leite). Hoje existe um grupo muito grande dentro do PSDB que quer ver o governador Eduardo Leite como seu candidato à presidência. O governador não vai concorrer à reeleição, ele já deixou isso muito claro. Não concorrendo à reeleição, ele pode, sim, ser o candidato do PSDB. Ele não vai se furtar de debater esse tema, de se colocar à disposição do partido. Fui membro da comissão das prévias, sou parte da executiva nacional e, nesse momento, não vejo uma possível composição entre o governador Leite e o governador Doria. Percebo que as prévias estão muito bem definidas com quatro pré-candidatos (Doria, Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus Artur Virgílio).
JC - Sobre o cenário nacional, como avalia a atuação do governo Jair Bolsonaro no combate à pandemia? A partir da CPI da Covid-19, pode sair um processo de impeachment?
Redecker - Por um lado, há atritos entre as declarações do presidente e outros setores do governo. Há orientações diferentes sobre o distanciamento, uso de máscaras, medicamentos. Por outro lado, o governo federal está mandando as vacinas. É claro que poderia ter negociado antes, mas as vacinas estão chegando. Quanto ao impeachment, sinto que, hoje, a base governista está estruturada para barrar qualquer processo de impedimento.
JC - Como avalia o governo gaúcho na gestão da pandemia? O que acha da troca do sistema de bandeiras para o atual?
Redecker - O governador Eduardo Leite, assim como todos os governadores, não acertou 100%. Mas acertou mais do que errou, porque seguiu as recomendações da ciência. O sistema de bandeiras cumpriu a sua função naquele momento. Era importante o Estado centralizar a gestão, para garantir uma ação coordenada contra a pandemia e evitar que algumas regiões fossem mais afetadas que outras. Mas, em um determinado momento, esse modelo de distanciamento controlado ficou ultrapassado, porque a pandemia chegou a outro estágio. Acho que o governo acertou passando a gestão aos governos regionais, aos prefeitos.
JC - Leite é o segundo governador gaúcho do PSDB. A primeira foi Yeda Crusius. Quais as semelhanças e diferenças entre as gestões?
Redecker - Eram épocas diferentes e com situações econômicas distintas, tanto aqui quanto no País. Posso dizer que Eduardo Leite e Yeda Crusius têm características similares: são reformistas, buscam o ajuste fiscal, não deixam para depois os enfrentamentos necessários. Isso está no DNA do PSDB.

Perfil

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/MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
Lucas Bello Redecker nasceu em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, em 26 de maio de 1981. Cursou direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Medicina Veterinária pela Universidade Luterana do Brasil, mas não terminou as graduações. Quanto à carreira política, começou a militância no Partido Progressista Brasileiro (PPB, hoje PP), se tornado presidente da Juventude Progressista Gaúcha. Saiu do partido após o pai, o deputado federal Júlio Redecker, se juntar ao PSDB, devido a discordâncias na integração do PP à base do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010). Em 2007, foi eleito presidente da Juventude Tucana do Rio Grande do Sul. Em 2008, concorreu a vice-prefeito de Novo Hamburgo, na chapa liderada por Jair Foscarini (MDB). Não se elegeu. Em 2010, foi o quinto mais votado para a Assembleia Legislativa. Em 2014, se reelegeu. Entretanto, passou os dois primeiros anos do mandato licenciado, para ocupar a pasta de Minas e Energia, durante a gestão do governador José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018). Em 2018, conquistou uma vaga de deputado federal. Em maio deste ano, assumiu a presidência do PSDB gaúcho.