{{channel}}
'Empreendedor precisa de um ambiente confiável', diz Fátima Daudt, prefeita de Novo Hamburgo
Prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, também é cotada para disputar eleição em 2022
"Vamos resolver." Quando a arquiteta e urbanista Fátima Daudt diz isso para empresas que enfrentam alguma dificuldade para tocar um projeto, normalmente investimento, pode esperar que a solução tardará um pouco, mas virá. A prefeita de Novo Hamburgo, cidade que é a eterna namoradinha do setor calçadista nacional, foi reeleita para o segundo mandato em 2020.
A tucana combina estratégias de gestão herdadas da atuação no setor privado e alinhamento de pensamento: precisamos criar um ambiente confiável para o empreendedor, resume. Já a porção urbanista da gestora segue um mantra: "tornar a cidade agradável para quem mora".
Foi com isso que Fátima conquistou o super callcenter do banco Santander, gerando quase 5 mil empregos em meio à pandemia. "Sem nenhum benefício fiscal", completa ela, que tem como marca o tom de voz suave, mas firme, que pode ser um dos segredos para gerir os interesses da coligação com oito siglas, de MDB, PTB e PDT ao Avante.
A arquiteta, mãe de Daniel e Hector, só reage quase sem paciência quando o assunto é a pandemia e o que ela considera o maior problema no Brasil: "a falta de um comando único". Para Fátima, essa é a origem do desgaste da falta de vacina, que estourou no colo dos prefeitos.
Estreante na cena política em 2016, depois de adiar por 10 anos a decisão, ela foi eleita na primeira disputa e agora vê seu nome circular entre partidos, não só o seu, o PSDB, para a disputa ao Palácio Piratini, já que o colega tucano Eduardo Leite diz que não vai concorrer à reeleição. "Se for necessário, se acontecer, farei o meu melhor possível, mas, no momento, são apenas conversas".
Jornal do Comércio - O Estado terá novo modelo de combate à pandemia, com mais autonomia aos municípios. Qual é a sua opinião sobre dar mais poder às localidades e regiões?
Fátima Daudt - Estava na hora de o governo do Estado perceber que o modelo de distanciamento havia saturado, não gerava mais resultados e precisava passar por mudanças. Mas o sistema foi importante no começo e nos períodos mais difíceis da crise sanitária. Nada está definido ainda. Temos até agora um protocolo de intenções que foi levado às associações dos municípios. É importante esse diálogo antes de passarmos a um novo modelo.
JC - A senhora compartilha das críticas da Famurs e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), de que os municípios são sempre os últimos a saber?
Fátima - O que está acontecendo agora não é isso, pois há a discussão por meio das associações. O que vejo é que no Brasil tudo aconteceu de forma muito errada na condução da pandemia. Tínhamos de ter um comando único, que caberia ao governo federal, e depois passaria aos estados e municípios. Minha crítica é à falta de unidade, e colhemos o preço disso com o número absurdo de mortes de cerca de 420 mil no País, passamos por tanta coisa e ainda vamos passar, porque a pandemia não terminou. Com vários comandos, como é até agora, não conseguimos ter resultados positivos. Considero preocupante quando se fala em passar aos prefeitos, porque continuamos sem um comando único, sensato e que valorize a ciência. Este é o tipo de comando que vimos em outros países. Ao liberar para cada um definir, uma coisa é a pequena localidade, e outra é Novo Hamburgo, que fica na Região Metropolitana. Se cada lugar tiver um modelo, não dará certo. As pessoas circulam de uma cidade para a outra. Não estamos livres de uma quarta onda de Covid-19.
JC - Qual deve ser o papel do Estado?
Fátima - Pela proposta, haverá um protocolo mínimo que será editado pelo governo. Haverá, portanto, um comando. O Estado não pode simplesmente lavar as mãos e dizer: agora, o problema é com os municípios. Tenho certeza que o governador não faria isso.
JC - Como vai ser a conduta na vacinação diante da incerteza sobre o suprimento de doses, como ocorreu com a Coronavac?
Fátima - Tenho explicado muito à nossa comunidade por meio de lives nas redes sociais sobre o que está acontecendo. Começou com reclamações de que as cidades estavam guardando para a segunda dose (D2), aí o Ministério da Saúde determinou aplicar tudo, mas garantiu a regularidade nas remessas, o que não estamos vendo e que gerou um problemão para quem está na linha de frente, que somos nós. Decidimos, em função disso, reservar as doses, pois não dá para confiar no que diz o ministério. Vamos fazer reserva inclusive dos imunizantes de Oxford. Isso vai reduzir muito a cobertura vacinal. Vamos ter de parar toda a estrutura que virou modelo pela agilidade para fazer uma vacinação mais lenta.