Pandemia em Porto Alegre está em estabilização, avalia Stürmer

Secretário da Saúde analisa impactos de reaberturas e o que vem pela frente

Por Patrícia Comunello

Porto Alegre - Secretário da Saúde, Pablo Stürmer, na sede da Secretaria Municipal da Saúde - pandemia - tela com evolução de dados.
"Todo este cenário nos ajuda a ver em que pé estamos e, repito,
Stürmer - Isso reflete a soma de dois fatores. Precisamos abrir de forma gradual, o que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para ter maior controle sobre o avanço do vírus, e este é um período de exposição às pessoas e certo esgotamento dos mais suscetíveis. Com a desaceleração, atinge-se o pico, começa a reduzir.
JC - O senhor projeta quando seria o pico? Algumas estimativas falam em outubro. 
Stürmer - Não arriscaria dizer quando é ou quando será o pico. Vários modelos preveem o pico há meses. A maioria deles vai errar porque tem um fator que não conseguimos medir que é o efeito da intervenção da sociedade, mudanças de contato e circulação. Sem saber como isso modifica essa curva, é difícil estimar o pico.
JC - Como o senhor percebe a reação das pessoas na atual volta às atividades frente às anteriores?
Stürmer - Tenho a sensação que esta está mais lenta e, ao mesmo tempo, que as pessoas estão muito mais cuidadosas. Depois de tanto tempo restrito, além do impacto na economia e na capacidade de manutenção dos negócios, as pessoas perceberam a gravidade da pandemia. No último pico e grande volume de casos em fim de julho, certamente todos tiveram algum conhecido no bairro onde residem ou colega de trabalho que adoeceu de forma mais grave ou até faleceu pela doença. Demos o primeiro passo de retomar, mas abrir à noite e nos fins de semana, pedido pelos setores, precisamos fazer com cuidado, pois vai gerar movimento. Sabemos que é importante, mas precisamos chegar lá com prudência e com a realidade da pandemia permitindo. Isso ainda exige mais alguns dias para avançar.    
JC - A partir do aprendizado com essa crise sanitária desde março, o senhor diria que estamos passando pelo momento mais decisivo e que qualquer atitude agora vai definir como vamos encerrar o ano?
Stürmer - Nestes mais de 150 dias de pandemia, é o que mais fazemos diariamente, que é buscar o equilíbrio entre a assistência aos casos e outras demandas de cuidados. Temos dados preliminares que Porto Alegre é a capital acima de 1 milhão de habitantes que em 2020 teve menos mortes que em 2019. Esse é um resultado excelente que mostra o equilíbrio, pois não adianta dizer que somos a que teve menos óbitos por Covid-19, mas tivemos mais por outras causas. As vidas são vidas independentemente da doenças que estão se combatendo. Também estamos buscando o equilíbrio na economia que não afete a saúde. Este é o desafio diário que tem sempre de ter sensibilidade. Como integrantes do comitê do coronavírus nos apegamos tanto a dados, evitando crenças ou responder simplesmente para trazer as respostas que sejam as melhores para a cidade e o interesse público, que nem sempre é o de pequenos grupos.

Perfil

O médico de família e comunidade Pablo Stürmer, 37 anos, é casado com a médica endocrinologista Vanessa e pai de Bruno, com oito anos, e a pequena Beatriz, de dois anos. O porto-alegrense se graduou em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 2006 e fez residência logo depois em Medicina de Família e Comunidade pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição, do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Stürmer tem uma trajetória profissional na rede de Atenção Primária de Porto Alegre, logo após se formar, e atuou em seis das oito gerências distritais de saúde da Capital. Em 2010 e 2011, foi professor substituto do Departamento de Medicina Social da Ufrgs. Também foi consultor do TelessaúdeRS em dois períodos, entre 2009 e 2011 e entre 2014 e 2017. Stürmer assumiu como secretário municipal da Saúde, pasta da qual era adjunto desde 2017, em janeiro de 2019, depois da saída do ex-secretário e médico Erno Harzheim para atuar no Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro, do qual não faz mais parte.