Após ter sido questionado, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, sobre as vezes em que o presidente Jair Bolsonaro atacou jornalistas, como a que ele mandou uma repórter calar a boca, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, evitou criticar o chefe do Executivo, mas disse que "muitas vezes ele reage" quando é criticado.
Moro disse que chegou a se falar durante as eleições que Bolsonaro cercearia a liberdade de imprensa e o poder Judiciário afirmou acreditar que o presidente tem "dado ampla liberdade à imprensa". "Não se vê qualquer iniciativa", afirmou na noite desta segunda-feira (20). O ministro, então, foi interrompido pelos jornalistas do programa, que passaram a listar alguns casos em que o presidente atacou jornalistas e tratou veículos de imprensa com discriminação. Moro respondeu que se tivesse recusado ser entrevistado pelo Roda Viva não estaria agindo contra a liberdade de imprensa, pois tem o direito de ir e vir. "Ele é criticado e reage", disse em seguida, sobre o presidente.
Em outro momento da entrevista, Moro afirmou, também, que não tem animosidades com o presidente. "Minha relação com ele é ótima", disse. Declarou ainda que os boatos sobre sua demissão foram "um tanto quanto exagerados", em referência a trecho do livro "Tormenta", da jornalista Thaís Oyama, que conta que Bolsonaro quis demitir Moro, mas foi convencido do contrário pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.
Moro também disse que não considera apropriado discutir a possibilidade de assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal. "Não tem vaga no momento, então, não vou discutir vaga sem que a vaga exista", afirmou o ministro no Roda Viva.
Moro reiterou que está focado em aprofundar o seu trabalho no Ministério da Justiça. "O presidente vai decidir quando surgir a vaga", disse. O ministro esclareceu ainda que não é evangélico, após menção feita à declaração do presidente Jair Bolsonaro de que deseja nomear um ministro "terrivelmente evangélico" para uma das vagas que surgirem durante seu mandato. "Eu sou católico", disse.
O ministro negou que tenha feito pressão sobre o Congresso Nacional para aprovar o projeto anticrime. "O Ministério apresenta um projeto de lei e tem desejo que se aprove como foi enviado e é papel do Parlamento alterar, aprovar ou não aprovar. Nunca houve espécie nenhuma de pressão", disse o ministro, após ter sido questionado sobre os vídeos que o governo federal lançou em favor do projeto.
Moro afirmou também que tem um trato "muito cordial" com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que chegou a criticar o ex-juiz pela postura do ministro em relação ao projeto. "Pode surgir alguma faísca, mas é uma relação institucional", disse. Moro também voltou a comentar a questão do juiz de garantias e disse que essa não é uma prioridade para melhoria do Poder Judiciário.
Sérgio Moro chamou de "bizarro" o vídeo do ex-secretário da Cultura Roberto Alvim, que, quando ainda estava no cargo, na semana passada, parafraseou o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, e foi demitido no dia seguinte em razão disso.
"No caso do secretário, foi um episódio bizarro e, tendo ciência, dei minha opinião ao presidente, e cabe a ele tomar a decisão. Ele tomou uma decisão absolutamente correta, ele fala pelo Poder Executivo", disse o ministro, após ter sido questionado no Roda Viva pela ausência de manifestação pública sobre o caso.
Moro também foi questionado sobre o silêncio em relação ao caso do ataque terrorista à sede da produtora Porta dos Fundos. "Não cabe ao ministro ser comentarista de tudo, de política", afirmou.
O ex-juiz também evitou comentar o caso do titular da pasta do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, denunciado no caso do lançamento de candidaturas de laranjas pelo PSL de Minas Gerais em 2018. "Cabe a Bolsonaro fazer avaliação sobre ministro do Turismo", disse Moro. O ministro disse que o conteúdo publicado pela Vaza Jato, do site The Intercept Brasil, foi um "episódio menor" e afirmou que nunca deu "muita importância para isso". "Foi um monte de 'bobeiragem', eu nunca entendi", disse Moro na entrevista.
"Aquilo foi usado politicamente para soltar criminosos, presos por corrupção, para enfraquecer o ministério, eu estou com a consciência tranquila de tudo o que fiz como juiz", afirmou. O ministro da Justiça negou que tenha havido manipulação na divulgação, em 2016, de conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a então presidente Dilma Rousseff. "A opção por tornar tudo pública. Não houve manipulação nenhuma. Os áudios revelavam tentativa de obstrução de Justiça, pura e simples", disse o ministro no Roda Viva.
Moro declarou ainda que a divulgação foi um pedido da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), pelo interesse público. "Se houve reflexo político ou não, isso não é responsabilidade do juiz, foi a decisão correta para o processo, e eu proferi uma decisão fundamentada", disse.
Moro afirmou também que a divulgação da delação do ex-ministro Antonio Palocci foi "superdimensionada", após ter sido questionado se não foi incoerente ter divulgado a delação quatro dias antes do primeiro turno da eleição do ano passado e ter negado a entrevista do ex-presidente Lula à Folha de S.Paulo. "O que estava na delação ele já havia falado, não havia novidade", disse. "E, olhando o que aconteceu, eu não acredito que tenha interferido na eleição."