Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues fez um balanço do ano na agricultura e na pecuária. Segundo o especialista, o crescimento espetacular nos preços, apesar de recente, acabou refletindo no valor dos cereais, como milho e soja, o que levou à expectativa de avanço no setor em 2019.
Aumento da carne
Para Roberto Rodrigues, o maior puxador desse fator foi a questão da carne. A peste sul-africana que afetou a China e outros países asiáticos, e também alguns europeus, acabou aumentando o preço da carne de uma maneira bastante rápida: 30% em oito meses. Já caiu um pouco, segundo afirmou o ex-ministro, em balanço à CBN, mas acabou produzindo reflexo também nos preços dos cereais, como milho e soja.
Preços do café e açúcar baixos
Em compensação, afirmou Rodrigues, "vale a pena lembrar que o preço do café continua baixo, não foi muito bom para a cana-de-açúcar, também, devido à superoferta da produção no mercado mundial, em consequência da maior produção de açúcar na Índia e por causa dos subsídios poderosos".
Melhor visão em março
A Confederação Nacional da Industria (CNI) afirma que o setor da agropecuária teve uma expansão de cerca de 3%. De acordo com Rodrigues, "é um pouco cedo para essa avaliação. Depende muito do desempenho de dezembro, e a safra de verão de outubro e novembro. Só dará uma visão mais clara da produção e da produtividade, a partir de março do ano que vem". Tem um longo período ainda para percorrer.
Clima e mercado
O primeiro ponto, destaca o ex-ministro, depende do clima; o segundo ponto depende muito da situação cambial e do mercado. Os câmbios têm uma influência muito forte. "Nós exportamos 20% do que produzimos no Brasil. Isso nos leva a uma dependência da situação cambial; depende da valorização do dólar." Chama a atenção do ex-ministro que isso "se soma a outros fatores, como a melhoria do consumo e emprego, aumentando uma expectativa mais favorável em 2020".
Importância das reformas
Para que em 2020 possamos ter um cenário favorável no Brasil, Roberto Rodrigues avalia que estamos imaginando o crescimento do PIB brasileiro na faixa de 2%. "Aumento de emprego, reforma da Previdência e a tributária no ano que vem. É outro sinal positivo para a agricultura. Com esses horizontes favoráveis, o clima na economia é positivo", argumenta.
Acordo China/EUA
No lado negativo, segundo o ex-ministro e coordenador de agronegócios da FGV, "tem duas ou três questões que são preocupantes: é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que caminha para uma solução, um acordo. Se esse acordo vier representando muita exportação de grãos dos EUA para a China, isso pode afetar o mercado internacional. A China compra 60% do que exportamos e, por último, é uma questão sempre recorrente, estamos na sanidade. O câmbio pode ser um fator positivo ou negativo, e a espada na cabeça é o tema sanitário. Se esses três fatores não forem conjugados de maneira negativa, pode haver um grande avanço". Outro tema central é o da tecnologia e da infraestrutura.