Em mais de duas horas de explicações durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos no Senado, a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) disse nesta quinta-feira (21) que vai rever a atuação de ONGs (organizações não-governamentais) que atuam com a Funai (Fundação Nacional do Índio) e criticou o ativismo judicial em relação ao aborto como também a atuação dos "ideólogos" que defendem que não se nasce homem ou mulher.
Após explicar aos senadores a estrutura de sua pasta, a ministra falou em defesa de povos tradicionais e minorias e afirmou que "direitos humanos são para todos".
Ao falar de estupro, Damares disse que sua pasta respeitará manifestações culturais, "desde que não atentem contra direitos fundamentais" e afirmou que o governo tem compromisso de fazer do Brasil "o melhor país do mundo para se criar meninas".
Na semana passada,
a ministra aconselhou, em entrevista, pais e mães de meninas a fugir do Brasil para evitar a violência e abuso sexual.
Damares disse que o ministério lançará em julho uma campanha de motivação para que mulheres se candidatem nas próximas eleições.
A ministra afirmou que sua pasta está fazendo a revisão de pagamentos a anistiados políticos, mas fez ressalvas.
"Precisamos respeitar os anistiados. Tenho medo que, neste bolo, as pessoas que receberam [indenização] porque mereciam sejam acusados de fraude."
No âmbito de revisões de contratos, Damares disse estar analisando contratos da Funai e afirmou haver corrução na fundação e na Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), vinculada ao Ministério da Saúde.
"A corrupção de fato existe, não só na Sesai como também na Funai. Estamos fazendo uma força-tarefa, auditando todos os contratos da Funai, e o ministro da Saúde também está na mesma direção, auditando todos os contratos da Sesai. E aí, senadores e deputados, me surpreendo com cada caixinha que eu abro naquela Funai", afirmou, também criticando a "política de isolamento do índio" e a atuação de algumas ONGs.
"Vamos rever a atuação das ONGs na Funai. Tem muita ONG séria, mas tem muita precisando dizer tchau para a Funai", afirmou.
Provocada pelo senador Eduardo Girão (PODE-CE), que milita contra o aborto, disse ser contra a interrupção de gravidez em qualquer circunstância, inclusive nas possibilidades previstas em lei -em caso de estupro, de anencefalia e de risco para a mãe.
Alinhada com discurso do Congresso, ela criticou o ativismo do STF (Supremo Tribunal Federal), que aprecia em maio a possibilidade de aborto em casos de contaminação pelo vírus da zika.
"Este ministério vai trabalhar dentro da legalidade. Não é papel do ministério militar contra ou a favor do aborto. É um tema do Congresso Nacional e não do Judiciário. É uma preocupação de todos nós com o ativismo do Judiciário usurpando muitas vezes o papel e o poder do Congresso Nacional. Isso tem que ser discutido aqui, porque vocês representam o povo", declarou a ministra.
O momento mais tenso da sessão foi quando a senadora Leila Barros (PSB-DF), que indagou a ministra sobre a interferência de sua religiosidade -Damares é pastora evangélica- na atuação dela na pasta.
"Em nenhuma das falas como ministra, a senhora vai encontrar uma vertente religiosa. A senhora pode ter ouvido muitas falas minhas que foram pinçadas dentro do templo, pregações em que eu nem sabia que estava sendo filmada", retrucou a ministra.
Ainda respondendo a senadora, disse que "ideologia de gênero, da forma como ela foi implantada no Brasil, não trouxe respaldo na proteção do direito da comunidade LGBTI".
"Quando os ideológos de gênero falam que ninguém nasce homem, que ninguém nasce mulher, está mandando o recado também que ninguém nasce gay, que ninguém nasce lésbica, que isso é uma construção social e isso me preocupa muito. Ser travesti, gay é uma construção social, cultural? Isso me preocupa muito o discurso dos ideólogos", afirmou.
Damares também defendeu o "homeschooling" e afirmou que o governo vai editar uma medida provisória para regulamentar o ensino domiciliar, uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro.