A Fenaj, a ONG Artigo 19 e a Abert denunciam que o ano passado foi o mais violento para jornalistas no Brasil desde a década de 90. Com metodologias diversas, mas preocupantes, a Fenaj denunciou 428 ataques, a Artigo 19, 464 ocorrências, e a Abert anotou que a violência não letal a jornalistas cresceu 168% no ano passado. Dois assassinatos, um na fronteira com o Paraguai, de Léo Veras, e outro, o de Edney Neves, no interior do MT, ainda impunes, marcaram o primeiro ano da pandemia, onde recrudesceu a violência contra a mídia.
Foram agressões as mais diversas: físicas, virtuais, judiciais, etc. A maior parte resultando em boletins de ocorrência ou inquéritos de lenta tramitação, deixando escancaradas a vulnerabilidade da profissão e a fragilidade dos profissionais no trabalho de bem informar.
Mas, quando 2 de novembro se tornou o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, adotado pela ONU desde 2013, em homenagem a dois jornalistas franceses mortos no Mali, devemos refletir. Estamos sob a égide de um governo hostil à imprensa, como retratam agressões recentes na Itália, durante a Cúpula do G-20, contra jornalistas do Uol, da Globo e da Folha de S. Paulo, mas essa agressividade se espalha pelo planeta.
A ONG Media Freedom Rapid Response (MFRR) denuncia quase 400 ameaças contra a imprensa somente na União Europeia (UE) e nos cinco países que querem integrar o bloco (Macedônia, Montenegro, Turquia, Sérvia e Albânia). Por isso, cabe repetir a mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres, no dia 1º de novembro, onde ele lembrou que 62 jornalistas foram mortos ao fazerem seu trabalho no ano passado e que, "nos últimos anos, o número de trabalhadores da mídia mortos durante a investigação de corrupção, tráfico e outras violações dos direitos humanos aumentou. Quase 9 em cada 10 dessas mortes ficam impunes. A pandemia (...) demonstrou que o acesso à informação pode ser uma questão de vida ou morte", assevera o dirigente mundial, ressaltando que "ameaçar esse acesso visando jornalistas envia uma mensagem perturbadora que mina a democracia e o Estado de direito". Nos unamos a ele, pelo fim da impunidade dos crimes contra a imprensa, pedindo justiça para os jornalistas mortos.
Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa e diretor de Direitos Sociais e Imprensa Livre da ARI