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Opinião

- Publicada em 24 de Janeiro de 2020 às 18:44

Brasil-Índia, um casamento ainda por confirmar

Presidente Jair Bolsonaro cumpre agenda na Índia

Presidente Jair Bolsonaro cumpre agenda na Índia


ALAN SANTOS/PR/JC
Karin Costa Vazquez e Gustavo Rojas
Karin Costa Vazquez e Gustavo Rojas
Cooperação econômica dará a tônica do encontro de Jair Bolsonaro e Narendra Modi no dia 26 de janeiro em Nova Délhi. Duas das maiores democracias do mundo, Brasil e Índia têm enfrentado ferozes críticas em temas de direitos humanos, proteção ambiental e desaceleração econômica. Uma agenda focada em comércio e investimentos emerge como um porto seguro, ainda que difícil de implementar.
Apagada até o início dos anos 2000, as relações Brasil-Índia ganharam novo impulso em 2006 com a assinatura de parceria estratégica. Ainda hoje, é do interesse da Índia reduzir a dependência energética do oeste da Ásia. Para o Brasil, a Ásia é uma boa aposta para a atracão de comércio e investimentos. Mas o Brasil não possui uma estratégia clara em relação à Índia. A Índia tampouco possui uma estratégia para o Brasil.
Isso explica porque o comércio entre Índia e Brasil permanece em torno de US$ 8 bilhões, abaixo dos US$ 25 bilhões esperados pelo governo brasileiro. A assinatura do acordo de facilitação de investimentos, do protocolo adicional sobre dupla tributação e do acordo de cooperação em bioenergia durante a visita de Bolsonaro à Índia deve ajudar a reverter essa tendência.
O acordo sobre seguridade social, no entanto, deve beneficiar a Índia muito mais do que o Brasil. Atualmente, a Índia possui 4.700 trabalhadores no Brasil, contra os cerca de 1.000 trabalhadores brasileiros na Índia. Isso é agravado pelo alcance limitado do documento, que se estende apenas a trabalhadores destacados e nacionais independentes, deixando de fora vários trabalhadores nos dois países. 
No plano multilateral, a abdicação do Brasil do status de país em desenvolvimento na OMC em troca de apoio dos EUA para ingressar na OCDE afetou o relacionamento do Brasil com os demais Brics. Em retaliação, a Índia vetou a nomeação de embaixador brasileiro para negociar questões de pesca na OMC. A disputa entre os dois países sobre cana-de-açúcar também está fora de pauta no dia 25 de janeiro.
Contudo, a mesma cana-de-açúcar que produz disputas comerciais entre os dois maiores produtores mundiais também oferece oportunidades de cooperação. Um acordo de cooperação bilateral em bioenergia deve ser assinado durante a visita. Espera-se que o acordo facilite a transferência da tecnologia brasileira na produção de etanol e ajude a expandir o mercado indiano de combustível renovável. As possibilidades de complementaridade em energia não se limitam ao etanol. Após as sanções dos EUA à Venezuela e ao Irã, empresas indianas vêm explorando diferentes mercados, incluindo opções para aumentar as importações do Brasil.
O Mercosul, contudo, seguirá aguardando resposta positiva da Índia para avançar na negociação de um acordo de livre comércio. Esse acordo poderia não apenas expandir as atuais preferências limitadas do comércio bilateral, como também ser uma importante mensagem da Índia para a China.
O encontro entre Boslonaro e Modi reduzirá as relações indo-brasileiras a uma agenda econômica cuja realização plena continuará sendo um desafio, a menos que os dois países desenvolvam estratégias claras um em relação ao outro.
* Diretora do Centro de Estudos Africanos, Latino-Americanos e Caribenhos na O.P. Jindal Global University. Fudan Scholar, Centro de Estudos dos BRICS, Universidade de Fudan.
** Pesquisador do Centro para Analise e Disseminacao da Economia Paraguaia.
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