Ser pessimista não resolverá os problemas do Brasil. Porém, manter-se otimista para esconder o que está ocorrendo no País também não resolve nada. Pelo contrário, até mesmo poderá piorar o quadro de desalento em que milhões vivem. E isso está sendo demonstrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Segundo o levantamento, são 4,6 milhões de brasileiros que se consideraram desalentados no primeiro trimestre de 2018. Claro, para uma população nacional em torno de 215 milhões de pessoas, pode parecer até pouco, proporcionalmente. Mas não é. Afinal, equivale a uma taxa de desalento de 4,1% da força de trabalho ampliada.
Tanto o contingente quanto a taxa registraram os recordes da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. A maioria dos que se consideram desalentados com o País, 60,6%, cerca de 2,8 milhões de pessoas, está no Nordeste, que tem sofrido períodos de seca nos primeiros meses de 2018.
Os maiores contingentes de desalentados estavam na Bahia, com 805 mil, e Maranhão, com 430 mil. Rio de Janeiro e Santa Catarina apresentavam a menor taxa, ambos estados com tão somente 0,8%. A população desalentada é definida como aquela que estava fora da força de trabalho, seja porque não conseguia trabalho adequado, não tinha experiência ou qualificação, ou era considerada muito jovem ou idosa. Da mesma forma, o desalento era consequência pelo fato de não haver trabalho na localidade em que residia - e que, se tivesse conseguido trabalho, estaria disponível para assumir a vaga.
O aumento na população inativa, que impediu um avanço maior na taxa de desemprego em maio, pode ser reflexo do desalento. O fenômeno ocorre, por exemplo, quando as pessoas deixam de procurar emprego por acreditarem que não conseguiriam uma vaga. Assim sendo, a população desalentada faz parte da força de trabalho potencial.
Sem querer acentuar o pessimismo - o qual, como afirmado, não ajuda -, temos que enfrentar a realidade socioeconômica em que vivemos, e não é de hoje. Piorando o quadro, o noticiário sobre corrupção tem sido uma constante há anos, e a crescente confusão no Judiciário deprime mais o País.
A mídia diária está plena de crimes, atos de corrupção e falcatruas as mais diversas. E, incrivelmente, pesquisas pré-eleitorais indicam que muitos, quase todos, dos que são acusados de corrupção aparecem como favoritos nas eleições que se aproximam, em diversos cargos parlamentares ou mesmo como executivos de governos estaduais.
E isso em paralelo a um grito uníssono que ecoa em todo o Brasil contra a corrupção, algo que beira à esquizofrenia social do eleitorado em larga escala.
Entretanto, não devemos nos desanimar pela mudança da situação. É que há indicadores mostrando avanços, enquanto outros provam uma obviedade, que o mercado de trabalho continua em situação delicada.
Vamos trabalhar, incentivar, lançar planos, obras e investimentos que impeçam o aumento da população desalentada. Temos uma imagem de povo que se ergue mesmo em meio às grandes dificuldades e que não perde a alegria de viver, uma atitude que é até mesmo motivo de inveja por outras nacionalidades. É que não entendem como os brasileiros ainda conseguem brincar, rir, fazer piadas, gostar de Carnaval e futebol passando tantos problemas? Mas o fundamental é que, mantendo essa maneira de viver, também aprendamos a nos disciplinar, esforçar e trabalhar coletivamente, em meio ao maior respeito pelas boas normas sociais e legais. Aí, sim, o desalento cairá. Talvez até mesmo termine. É o sonho.