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Publicada em 31 de Março de 2020 às 03:00

Para fazer o que é certo, é preciso pensar nas pessoas

Marta Saft

Marta Saft

Pedro Janequine
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Jornal do Comércio
Estamos no século XXI e ainda nos deparamos com líderes empresariais debatendo "o que é certo" de forma separada de "o que o negócio precisa". O dilema surge a partir da mentalidade de que são coisas diferentes, o que acaba tornando tais debates e medidas adotadas a partir deles pouco frutíferos. O entendimento de que as organizações são tanto empresas de tecnologia, moda, varejo e produtos financeiros quanto são de pessoas, tem sido a tônica na reestruturação de culturas organizacionais que ofereçam um ambiente que não atenue características, histórias, vivências, mas que, abrace as pessoas e transmita o sentimento de pertencimento, criando espaços de trabalho mais inclusivos e justos.
Estamos no século XXI e ainda nos deparamos com líderes empresariais debatendo "o que é certo" de forma separada de "o que o negócio precisa". O dilema surge a partir da mentalidade de que são coisas diferentes, o que acaba tornando tais debates e medidas adotadas a partir deles pouco frutíferos. O entendimento de que as organizações são tanto empresas de tecnologia, moda, varejo e produtos financeiros quanto são de pessoas, tem sido a tônica na reestruturação de culturas organizacionais que ofereçam um ambiente que não atenue características, histórias, vivências, mas que, abrace as pessoas e transmita o sentimento de pertencimento, criando espaços de trabalho mais inclusivos e justos.
É preciso reconhecer que a reprodução de padrões essencialmente discriminatórios e exclusivos observados na nossa sociedade não favorece a evolução da realidade dentro das empresas. O quadro de funcionários não retrata a representatividade demográfica e social brasileira e isso fica ainda mais evidente na alta gestão. Dados do mercado de tecnologia, por exemplo , indicam uma predominância de homens (68%) e de pessoas brancas (58%) na indústria, enquanto a população brasileira é composta por 51,7% de mulheres e 54% de pessoas negras/pretas e pardas.
Ao examinar interseccionalidades (entre raça, gênero, sexualidade e deficiência) nos percebemos ainda mais distantes da realidade social, em que as organizações falham de forma flagrante em representar o contexto do país. Mas do que precisam as organizações para atender as demandas de uma sociedade cada vez mais diversa e plural? Precisam contar com pessoas. Contribuindo. Opinando. Sendo ouvidas. Compartilhando vivências, história, experiências. Aportando pontos de vista. Desafiando. Precisam ver e ouvir ativamente as pessoas. Respeitar. Reconhecer o diverso e permitir que ele apareça, conecte, construa junto. Precisam fazer, exatamente, a coisa certa.
A conscientização das empresas sobre a inclusão passa pelo entendimento e endereçamento de questões estruturantes de nossa sociedade, que devem ser ativamente discutidas e desafiadas dentro das organizações, consciência sem a qual nenhum programa de inclusão cumprirá inteiramente com seu propósito. Quando abriu suas portas no Brasil, há 10 anos, a ThoughtWorks enfrentou os desafios de inclusão de mulheres em uma indústria majoritariamente masculina.
Hoje, conta com mais de 42% de mulheres em sua área técnica. Nos últimos três anos, dedica esforços constantes na contratação e inclusão de pessoas negras, por meio do Enegrecer a Tecnologia, tendo movido de 13% para 33% a representatividade negra dentro da empresa, um aparente sucesso que não pode deixa fecharmos os olhos para a realidade de um país 54% negro. O atual desafio é olhar para as mulheres negras, porque a interseccionalidade de raça e gênero indica mais uma vez um caminho que um programa de inclusão efetiva deve percorrer. Como empresários e gestores, é nosso dever oferecer políticas e mecanismos internos que permitam que todos os caminhos sejam trilhados por todas as pessoas; que os lugares de liderança sejam para todas as pessoas; que os aumentos salariais e progressão de carreira privilegiem, em pé de igualdade, todos os recortes, para que nosso ecossistema evolua de maneira que todos possam ser parte. O caminho é fazer o que é certo, e deve ser trilhado com todas as pessoas.

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