O produtor rural gaúcho é apontado como um dos que mais investe em tecnologia agrícola no Brasil, do início ao fim da safra. Ou seja, desde a compra de sementes às máquinas usadas do plantio à colheita, passando pelos fertilizantes e ferramentas de controle da lavoura. O Rio Grande do Sul, por sinal, é repleto de bons exemplos de como a inovação constante no setor rural tem ajudo no desafio de produzir mais alimentos no mesmo espaço.
Uso de insumos e máquinas mais modernas, novas ferramentas de gestão e técnicas de plantio elevaram a produtividade média nas lavouras de soja no Rio Grande do Sul de 2 mil quilos por hectare, no início dos anos 1990, para estimados 3,2 mil neste ano, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Um ganho de 60% em três décadas. No milho, os números são ainda mais impressionantes. De uma colheita de 2 mil quilos por hectare, no mesmo perído, o produtor gaúcho saltou para cerca de 5,5 mil quilos previstos para este ano - alta de 175%.
E um lugar no norte do Rio Grande do Sul reúne, uma vez por ano, o que existe de mais moderno em tecnologias mundiais para o plantio e a colheita. Na Expodireto Cotrijal, realizada na primeira quinzena de março em Não-Me-Toque, pelo 20º ano consecutivo os agricultores viram as inovações que já estão disponíveis para o agronegócio mundial e o que estará em breve no mercado.
Na feira, quem cruza o pórtico de entrada tem, de um lado, os mais recentes lançamentos em tecnologia embarcada em máquinas. Do outro, sementes, fertilizantes e nutrientes para plantas e defensivos agrícolas.
"O que há de mais atual no mundo está dentro do parque, do agroquímico à genética vegetal, além, claro, de máquinas e implementos", sintetiza Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura (Farsul), que está fazendo o primeiro levantamento sobre as agritechs existentes no Estado.
Entre os exemplos de melhoramentos em máquinas que ajudam a ampliar produtividade está, por exemplo, um novo pulverizador da John Deere. Em Não-Me-Toque, um dos destaques apresentados foi um novo modelo, dotado de uma estação de meteorologia móvel. O equipamento oferece dados que permitem ao produtor decidir qual o melhor momento de pulverizar a lavoura levando em conta velocidade do vento, umidade relativa do ar e temperatura.
"Eu digo que estamos vivendo, agora, não mais a agricultura de precisão, mas a agricultura de decisão. A tecnologia fornece os dados para que o produtor tome a melhor decisão a cada momento", diz Eduardo Martini, gerente de vendas da John Deere no País.
Além de evitar a deriva (desvio de químicos devido a aplicações erradas e que podem causar danos ao se espalharem no ambiente), o sistema ajuda a reduzir gastos com químicos. Isso porque oferece informações para fazer a aplicação correta, no momento certo e na quantidade exata. De acordo com Martini, um produtor pode gastar cerca de R$ 2 milhões para pulverizar 1,5 mil hectares de lavoura e, com os ganhos de precisão, economizar cerca de 10% de químico s que seriam perdidos.
Também com a proposta de ofertar mais informações para melhor tomada de decisão, a Yara levou ao parque de exposições da Cotrijal o sistema Megalab. O produto é, basicamente, um software que oferece recomendações nutricionais para as lavouras de forma personalizada, a partir de dados de análise de solo e folha colhida na lavoura de cada produtor.
Em testes desde 2017 e operando comercialmente desde a safra passada, o Megalab já tem mapeado mais de 1,1 milhão de hectares de solo no Brasil.
Basicamente, o produtor envia a um laboratório de sua preferência pedaços de solo da propriedade e folhas da cultura que está cultivando no momento. Os dados que ele recebe são enviados ao Megalab, que faz as análises sobre o que está faltando na lavoura para que ela atinja a produtividade que quer alcançar.
"É como um exame de sangue, digamos assim. A partir dos dados sobre o solo, o Megalab indica se falta, por exemplo, mais potássio naquele ponto e em que quantidade", explica Gustavo Liberdi, coordenador de agricultura digital da Yara, estimando que no Rio Grande do Sul cerca de 100 produtores já usaram o sistema.
Os desafios de gerir a lavoura em um país de clima tropical
Os muitos desafios da agricultura no Brasil passam pelo clima e pela extensão continental do País, e exigem mais esforços do produtor e investimentos das empresas em pesquisa e inovação, avalia o diretor comercial da divisão Crop Science da Bayer no Brasil, Márcio Santos. Em evento na Expodireto, o executivo destacou que fazer agricultura em um ambiente temperado e tropical, como é Brasil, é diferente do que em qualquer outra região geográfica agriculturável existente no planeta.
"Aqui, se requer mais cuidados com proliferação de erva daninhas, mais cuidado com pragas e doenças. E ter uma solução única em um país continental como Brasil é inviável. Do Sul, mais frio, ao Norte, mais equatorial, precisa de inovação contínua para se ter evolução do agronegócio", diz Santos. De acordo com executivo, a Bayer investe anualmente cerca de 2,4 bilhões de euros em inovação. A ideia é encontrar soluções na ciência que o produtor possa continuar produzindo mais alimentos sem aumentar a área plantada. No estande da Bayer na Expodireto um dos destaques foi a Climate, braço de agricultura digital da multinacional, com a plataforma Climate FieldView, que coleta e processa automaticamente dados de campo de forma integrada, gerando mapas e relatórios em tempo real, acessível por celular, tablet ou computador. Através dos sistemas e equipamentos utilizados na propriedade, a plataforma gera relatórios em diferentes momentos da safra plantio, pulverização e colheita.
"Em um mesmo talhão (trechos da lavoura) pode existir uma variação de 30% na produtividade. Entender cada pedação da lavoura é importante para destravar o que está emperrando o aumento da produção. Isso é parte da revolução permitida pela agricultura digital", opina Santos.