Luiz Serafim, Head de Marketing da 3M do Brasil
O maior desafio das organizações é sobreviver neste ambiente de negócios complexo, incerto e mutante. Por isso, inovar deixou de ser prática exclusiva de empresas com foco em pesquisa e se tornou essencial para qualquer organização que deseje se manter relevante.
Mas como dar os primeiros passos e implementar com sucesso uma cultura de inovação? O ponto de partida é compreender que inovação gera resultado e não é mero exercício festivo de criatividade, nem se limita a inventar novidades. Ela acontece apenas quando criamos uma nova solução que as pessoas usam, compram, incorporam em seus processos porque percebem valor superior em relação às alternativas.
Inovações pontuais surgem até nos lugares mais desbotados, nascidas por acidente ou lideradas por teimosos obstinados. Entretanto, para inovar continuamente é necessário cultivar um sistema de gestão que integra pilares específicos, onde as pessoas são o ingrediente principal. Valorizar os colaboradores, criar um ambiente de confiança, apostar no aprendizado contínuo, oferecer oportunidades de crescimento, dar autonomia e reconhecer performances são o maior segredo da 3M e de outras referências em inovação. William Mcknight, líder histórico que consolidou a famosa cultura de inovação da 3M, defendia que era essencial delegar responsabilidades e encorajar as pessoas a tomarem iniciativas para a companhia alcançar todo seu potencial. Sua frase mais famosa que bem ilustra a perspectiva contemporânea de dar autonomia para líderes de alta performance é "Contrate bons funcionários e deixe-os em paz".
É também da filosofia de gestão 3M que se difundiram dois conceitos vitais de inovação para engajar equipes, estimular o empreendedorismo e neutralizar o medo do fracasso: possibilitar que os colaboradores dediquem 15% de seu tempo em algum projeto pessoal, fora do pipeline priorizado dos negócios; e cultivar um ambiente de tolerância ao erro de descoberta e experimentação.
Porém, o maior tesouro que caracteriza a cultura de inovação da 3M é o comportamento colaborativo de seus funcionários. Qualquer organização que pretende inovar dependerá do aperfeiçoamento de suas redes sociais para promover a troca de ideias bem como para acumular e distribuir conhecimento. Neste cenário, as pessoas trabalham em equipe, ensinam e apoiam umas às outras, abrem-se com humildade para aprender. Os aprendizados e as conquistas são compartilhados, criando vantagem competitiva e uma atmosfera de autorrealização e pertencimento. Foi a orientação permanente para gerar conhecimento, potencializada por tais redes de conexão que tornou a 3M, originalmente uma fabricante de abrasivos, em usina de ideias diversas com mais de 50.000 itens no portfólio, entre fitas, adesivos, produtos médicos, segurança viária, EPIs, esponjas de cozinha e blocos Post-it®.
Hoje, mais do que nunca, a rede de conexões deve ultrapassar os limites dos muros da empresa e acessar fornecedores, instituições científicas e tecnológicas, centros de pesquisa privados, venture capitals, start-ups, incubadoras, aceleradoras, universidades, e naturalmente, milhares de outras organizações, empreendedores e inventores desejosos em cocriar para impactar o mundo.
Para moldar essa cultura de meritocracia, liberdade, tolerância, cooperação e aprendizado, você já deve imaginar a importância de desenvolver bons líderes, responsáveis por assegurar esta moldura favorável e inspiradora em cada microcosmo da organização. Esse é o principal caminho para transformar sua empresa.
Outro ingrediente importante do sistema é construir uma visão de futuro para orientar a direção do crescimento da organização. Criou-se um mito de que a inovação nasce de ideias aleatórias, concebidas diariamente por funcionários motivados que atiram para todos os lados como num faroeste insano. Como bem emendou uma pesquisadora do tema, "toda caminhada de mil milhas começa com um único passo... e um mapa". A inovação nunca é um fim em si mesmo. Ela é um meio para se atingir a visão de futuro desejado. Já dizia Raul Seixas: "quem não tem visão bate a cara contra o muro".
Empresas inovadoras nunca ficam agarradas a negócio condenado a desaparecer e vão apostando em novas fronteiras de crescimento que surgem nas transformações de mercado, nas tendências tecnológicas, na evolução cultural da sociedade. Na 3M, renovamos nosso mapa de futuro há mais de nove décadas e assim, vamos desapegando de negócios em que fomos pioneiros, como retroprojetores e fitas magnéticas para armazenagem de dados, para alocar recursos no estudo de novos problemas na área da saúde, indústria, energia e segurança, aplicando nossas competências e sinergias em oportunidades geradas nas prioridades do mundo contemporâneo.
Mais uma dica preciosa. Já ficou para trás o tempo em que a inovação era impulsionada principalmente por tecnologias e esquadrão de cientistas. Hoje, precisamos dominar conceitos de jornada do cliente e identificar suas necessidades com profundidade em todas as etapas. É essencial desenvolver o pensamento de design, as competências de marketing, a mentalidade focada nas experiências dos usuários. Não basta ter uma boa ideia ou dominar uma tecnologia de vanguarda, mas só venceremos se construirmos modelos de negócio pertinentes centrados nas pessoas.
Nesta era em que se valoriza excessivamente a face da tecnologia, vale destacar o objetivo maior da inovação. É maravilhoso viver neste mundo onde temos tanto avanço tecnológico - só a 3M domina 46 plataformas como nanotecnologia, cerâmica, sensores e biotecnologia. Mas o que realmente importa para a inovação é melhorar a vida das pessoas, impactando o bem-estar, saúde, segurança, educação, produtividade, mobilidade e tantas dimensões da vida humana. A inovação deve buscar resultado, mas sempre pautada pela ética, com atuação responsável, e centrada no ser humano, contribuindo para o desenvolvimento de nossa sociedade.