Eu confesso que atualmente tenho sentido um certo cansaço conceitual com a overdose de iniciativas para me ajudar a inovar. São centenas de convites para palestras, debates, workshops, seminários, hackathons, madrugadas criativas, encontros e fóruns com a mesma promessa: corra para inovar.
No campo da inspiração corporativa, esqueça os velhos seminários com diferentes temas sobre administração, vendas, marketing, estratégia, comunicação, branding. Tudo isso ficou velho. As entidades que representam múltiplos setores abandonaram isso e todas se reposicionaram em torno da inovação. E assim, se "ressignificaram" criando um grande seminário anual. Sabe sobre o quê? Inovação.
E todas adotaram a mesma curadoria. Ao invés de duas ou três palestras, agora são trinta, quarenta, cinquenta. Simultâneas. Você fica desesperado sem saber em qual das salas estar. E todas com esse tom urgente e apocalíptico: inove ou morra!
E nessas horas lembro do velho-guru-analógico Tom Peters que, 20 anos atrás, já nos assustava com "a mudança ou a irrelevância!". Só que naquele tempo, a mudança não era tão assustadora. Concorda? Dava para discutir o ângulo da irrelevância tomando café e lendo o jornal de manhã. A busca esperava. Era romântica, mas tinha algum sentido. E para mim era uma busca ideológica, tinha razão e, não era um estouro de manada.
Agora, parece que acordamos todos em sobressalto, meio tontos, pegamos nossos patinetes e saímos juntos, desesperados correndo sem saber ao certo o que buscamos. Só sabemos que se parar, morre. Então nos acotovelamos em mais um seminário inovation-algumacoisa para ouvir que "o mundo está mudando" e que temos de correr mais.
E passamos a valorizar mais o frenetismo do buscar do que o saber o quê buscamos. E esse é o grande problema das marcas de hoje. Ficar fascinado pelas ferramentas e pela tecnologia e acreditar que elas são o fim quando são apenas o meio de se chegar em algum outro lugar.
Porque para uma transformação ser bem-sucedida você tem de saber do que se livrar. E você não faz isso sem compreender a lógica de valor na cadeia do seu negócio. Se não, você ao tentar desintermediar para inovar, corre o risco de "jogar fora o bebê junto com a água suja do banho". Ou seja, você mata o negócio e não cria outro.
Então meu conselho é: saia do meio dessa manada. Concentre-se em entender o comportamento dos seus públicos. É ali, o território das respostas, o território do valor e o do que realmente faz sentido correr para inovar. Pense nisso.