A possibilidade de instalação de um aterro sanitário na localidade de Amoras, no município de Taquari, tem sido tema de debate entre a comunidade. Ecologistas, agricultores e lideranças políticas temem que o empreendimento, que estaria sendo acordado desde 2017 com a prefeitura, cause danos ao meio ambiente e prejudique atividades econômicas no entorno da área destinada a receber os resíduos.
O projeto seria realizado pela Sustentare Saneamento. Segundo a empresa, seriam gerados 26 empregos diretos e outras centenas indiretos, além de economia de mais de R$ 2 milhões para o município e retorno de 100% de impostos para Taquari. A empresa promete, ainda, revitalização de escolas, pavimentação de estradas e construção de anfiteatro, além de verbas para investimento na comunidade em projetos sociais, esportivos e culturais, além de projetos de desenvolvimento regional, como turismo. O modelo seguiria o de um aterro sanitário em operação na cidade de Rio Claro-SP.
O tema foi objeto de uma audiência pública da Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da Assembleia Legislativa. O biólogo e consultor da Comunidade Recanto da Folha, Rodrigo Cambará, apontou uma série de falhas que estariam ocorrendo no processo de licenciamento da área de 150 hectares escolhida para abrigar o aterro. Segundo ele, o local está inserido na Mata Atlântica, que é protegida por legislação específica, e se constitui "num corredor de biodiversidade entre a área de mata e o campo".
Além disso, moradores relatam a presença no local do bugio ruivo e do macaco prego, ameaçados de extinção. As duas espécies não aparecem, conforme o biólogo, no inventário da fauna elaborado pela empresa contratada para fazer o estudo técnico da área.
A forma com que os moradores ficaram sabendo do empreendimento causou indignação na comunidade. De acordo com o presidente da Associação dos Moradores da Comunidade Júlio de Castilhos, Régis Eli Amaral dos Santos, eles tomaram conhecimento do fato no dia 25 de janeiro por meio de um vídeo publicado nas redes sociais por um vereador. "Ficamos estarrecidos", revelou. A empresa afirma que publicou editais de convocação para o evento, ocorrido em 27 de janeiro deste ano, de forma remota.
A contaminação das nascentes e do mel orgânico para exportação, produzido por cerca de 50 famílias, foram outras preocupações expressas pelos moradores. Na opinião do geólogo Marcos Hansen, professor da Unipampa, a área é considerada de recarga do Aqüífero Guarani, e o processo de impermeabilização previsto não é suficiente, pois há zonas de transportes de resíduos que não serão protegidas.
No início de abril, o prefeito de Taquari, André Brito, afirmou que "não passava pela sua cabeça" a liberação da construção de um aterro sanitário na cidade. O tema foi debatido na Câmara de Vereadores. Além disso, moradores da localidade de Amoras têm feito protestos contra a chegada do empreendimento à região.
De acordo com o presidente da Sustentare, Adilson Martins, em entrevista recente ao jornal O Fato, o projeto que foi aprovado na cidade, com normas mais rígidas que as estabelecidas em âmbito nacional "tornaria inviável o projeto de construção". O município teria aprovado uma distância 15 vezes maior do que o necessário para o aterro e corpos hídricos da região - como nascentes de água, por exemplo - e 10 vezes a distância para áreas populacionais. Adilson afirmou que pretende apresentar à população o projeto e mantém o interesse em instalar o empreendimento na cidade, desde que dentro dos parâmetros da normas técnicas brasileiras.