Já se sabe que o Brasil, junto com a Argentina, detém os registros mais antigos de dinossauros do mundo, com cerca de 233 milhões de anos. Por outro lado, os depósitos sedimentares argentinos preservam também animais que são considerados ancestrais próximos dos dinossauros. Esses animais ajudam a entender como se deu a origem dos dinossauros, quais as características que foram mais importantes durante o início da evolução do grupo e quando que os "verdadeiros" dinossauros podem ter surgido.
Enquanto que o registro de precursores dos dinossauros em rochas mais antigas do que aquelas que preservam os primeiros dinossauros é relativamente abundante na Argentina, aqui no Brasil não existiam registros claros até o momento. Na semana passada, um novo exemplar escavado no município de Dona Francisca, na região central do Rio Grande do Sul, revelou algumas características vistas apenas no grupo que deu origem aos dinossauros. O exemplar foi estudado pelo paleontólogo Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia da Universidade Federal de Santa Maria (CAPPA/UFSM), e pelo estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM Maurício Silva Garcia.
O fóssil é composto por um fêmur (osso da coxa) com 11 centímetros de comprimento e carrega traços anatômicos que permitem classificá-lo como um dinossauromorfo. Este grupo de animais é o que inclui os dinossauros e seus ancestrais próximos. O fóssil foi escavado em um sítio fossilífero com pouco mais de 237 milhões de anos, o que configura como o registro mais antigo desse grupo de animais para a América do Sul. Assim, além de preencher a lacuna que existia no Brasil em relação a esses animais, o fóssil também revela que os ancestrais dos dinossauros viveram na região pelo menos 1 milhão de anos antes do que se imaginava.
Em relação ao resto do mundo, apenas alguns precursores dos dinossauros encontrados na Tanzânia e na Zâmbia podem ser ligeiramente mais antigos do que o exemplar brasileiro. Entretanto, uma série de estudos tem indicado que os registros desses dois países do continente africano podem, na verdade, ser mais recentes. Sendo assim, é possível que o material brasileiro corresponda ao registro corpóreo mais antigo de um dinossauromorfo do mundo.
O fóssil teria pouco menos de 1 metro de comprimento, de acordo com o tamanho do fêmur. Isso revela que os ancestrais dos dinossauros passaram por muitos desafios até se tornarem grandes e dominar os ecossistemas durante os períodos seguintes da história da vida na Terra.