A cidade de Torres, no Litoral Norte, é conhecida por ser uma das mais belas praias do Rio Grande do Sul e também pelos balões. Agora, o município, que chega a atrair mais de 300 mil pessoas no verão, também vai ostentar o título de cidade com o maior empreendimento da região. Com 42,6 mil metros quadrados, o Vésta será lançado no dia 16 de setembro, após o adiamento do plano inicial de inaugurar no ano passado, por conta da pandemia, com unidades residenciais, salas comerciais e um shopping.
As obras, que tiveram início em 2016, estão próximas de serem finalizadas. Na torre residencial, serão 166 apartamentos com um, dois e três dormitórios. As salas, chamadas de Corporate, têm 41 unidades, a maioria delas já comercializadas. Em um conceito inovador na cidade, haverá pontos de ligação entre as torres construídas para facilitar o deslocamento de quem, por exemplo, queira morar e trabalhar no mesmo local.
No shopping, cerca de 75% dos 41 espaços já funcionarão a partir de setembro. A principal operação será das Lojas Renner, que ocupará 10 lojas no local e serão uma espécie de âncora do novo negócio. Além disso, operações como a rede de confeitarias Bella Gula e da cooperativa Unicred também estão confirmadas, além das operações locais.
O sócio proprietário da VCA Maggi, empresa que criou o projeto do Vésta, Eraclides Maggi, conta que a primeira semente do projeto foi plantada em 2010. A área onde foi construído o empreendimento, na esquina da avenida Benjamin Constante com a rua Borges de Medeiros, abrigava, durante o verão, um parque de diversões, pequenas lojas antigas e a sede de uma rádio local. O espaço havia sido cedido pela prefeitura para a uma paróquia da cidade. "O Padre Adalberto nos abordou e fez uma provocação. Pediu que fizéssemos um projeto para o local, para mudar o panorama do Centro", explicou.
Quatro anos depois, após trâmites junto ao município, foi assinado o contrato para o Vésta. Eraclides conta que diversos projetos foram feitos até chegar na concepção final, com três tipos de operação. "Precisávamos do apoio da comunidade para seguir adiante. Somos de Torres também, e sofremos críticas ao lançar uma ideia desse tamanho numa cidade pequena. Conseguimos essa chancela e seguimos em frente", conta. Para a construção do complexo, foram injetados R$ 140 milhões.
A expectativa é que o novo negócio gere, somente em IPTU para Torres, um montante de R$ 600 mil anuais, além do incremento nos tributos municipais. Além disso, cerca de 300 empregos diretos devem ser gerados na operação do shopping e nas salas comerciais. Para Eraclides, a aposta em um alto investimento foi viabilizada, sobretudo, pela mudança de cenário na cidade. "Torres tem uma população flutuante ao longo do ano de 20 mil pessoas, ou seja, pessoas que saem das suas cidades, ficam um pouco e retornam, inclusive no inverno. Além disso, há os estudantes da Ulbra (universidade com campus em Torres), famílias que visitam eles na cidade. O entorno, com cidades menores, também traz pessoas para cá", conta. Além disso, o empresário vê a diminuição da sazonaliwdade dos negócios, abertos no verão e fechados no restante do ano, o que mostraria a sustentabilidade das operações.
Medidas compensatórias envolvem recuperação das águas da Lagoa do Violão e reforma do Centro Administrativo municipal
Volume enviado à lagoa é capaz de renovar a água quatro vezes ao ano
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Para receber o aval do município, a VCA Maggi precisou aceitar contrapartidas ao Vésta. A empresa, a partir das solicitações da prefeitura, concluiu a construção de uma creche, além de promover a reforma de três andares do atual Centro Administrativo municipal. Além disso, uma iniciativa se desencadeou a partir da obra mudou a Lagoa do Violão, um dos cartões postais da cidade.
O local, que fica próximo do empreendimento, vinha sofrendo com a degradação da água, com aspecto turvo e cheiro ruim. A perfuração do solo para o início do projeto encontrou uma saída de água limpa e, a partir da troca da tubulação da Corsan, a água que verte do local é levada diretamente para a lagoa. Segundo Eraclides, o volume é capaz de renovar, por quatro vezes ao ano, a água do local. "Vimos que a lagoa estava malconservada. Quando percebemos essa água límpida, acionamos a Corsan por conta própria para ver a possibilidade de fazermos a ligação, e o que vimos hoje é um espaço revitalizado", afirma o empresário.
Além disso, outra saída dessa tubulação desemboca no rio Mampituba, na divisa com Santa Catarina. Essa é considerada como uma saída de segurança, caso aconteça algum problema com a principal. O local é outro cuja qualidade da água enfrenta problemas há alguns anos, com mortandade de peixes e desequilíbrio ambiental, principalmente por causa do lançamento de esgoto ao longo dos anos. A ideia é fazer, em menor escala, a recuperação do rio.
Construção de prédios com maior altura na orla não deve avançar no Plano Diretor
Assim como boa parte das cidades do Litoral Norte, Torres também teve o seu "boom" imobiliário. Quem circula pela cidade observa prédios sendo erguidos, terrenos prontos para receberem novos empreendimentos e projetos ainda em fase de pré-lançamento. O aquecimento da economia vem com muitos consumidores oriundos da serra gaúcha, sobretudo Caxias do Sul, com a ligação pela Rota do Sol, mas também de pessoas de Santa Catarina - na divisa com o município - e empresários de outras regiões do Brasil, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo.
Além de líder da VCA Maggi, Eraclides é o presidente do fórum das empresas do setor imobiliário de Torres, e conta que um dos temas mais abordados é, justamente, o crescimento ordenado da cidade. "Boa parte das construtoras que operam aqui tem como proprietário moradores da cidade. Então, na hora de planejar um prédio, há esse cuidado para não mudar a paisagem", afirma. Há, por exemplo, uma determinação de proibição para projetos com altura maior que 60 metros - ou 20 pavimentos - que deve ser incluída na atualização do Plano Diretor da cidade.
Essa norma foi negociada junto ao Ministério Público há cerca de 10 anos, pois o Plano, criado em 1995, não teve atualizações desde então. Reuniões têm acontecido com representantes do município e das sociedade civil, mas ainda sem resolução.
Há dois anos, uma discussão polêmica foi instituída na cidade. A ideia era flexibilizar a norma sobre construções na orla da Praia Grande de Torres, para permitir a construção de empreendimentos com altura maior do que nove metros, o máximo permitido atualmente. Com forte oposição dos moradores, a ideia foi, por ora, esquecida, e o líder da VCA Maggi afirmou que ela não deve ser levada adiante. "Não é o desejo das construtoras daqui. Certamente não iremos aprovar essa mudança", disse Eraclides.