Civis ucranianos acusam a Rússia de usar fléchettes, espécie de dardos mortais disparados após a explosão de um projétil maior, durante a ofensiva contra o país. A arma foi usada durante a 1ª Guerra Mundial e na guerra do Vietnã.
O jornal The Washington Post entrevistou Svitlana Chmut, 54, que vive em Bucha, nos arredores de Kiev, e encontrou dezenas de fléchettes em seu quintal, depois que os russos deixaram a região.
"Se você olhar de perto no chão ao redor da minha casa, encontrará muito mais deles", disse Chmut.
Com cerca de três centímetros de comprimento, os fléchettes parecem pequenas flechas e tem uma longa história em guerras, embora não sejam de uso comum atualmente.
Chmut contou ao jornal ter encontrado os projéteis em seu carro na manhã no fim de março, após uma noite de intenso bombardeio.
Ouvido pelo Washington Post, Neil Gibson, especialista em munições, disse que a arma não representa perigo para as pessoas dentro de edifícios. Os fléchettes são moldados de forma estreita para alcançar estabilidade aerodinâmica e com fabricação simples e semelhante a pregos, explicou ele.
Grupos de defesa dos direitos humanos denunciaram o uso de fléchettes porque são armas indiscriminadas que podem atingir civis, mesmo que sejam destinadas a formações militares. Segundo o Washington Post, a arma, no entanto, não é proibida por convenções internacionais, embora haja recomendação de que "nunca devem ser usadas em áreas civis construídas".
Os fléchettes causaram grande preocupação na década de 1970 entre as organizações internacionais, mas, na maioria das vezes, proibições não foram decretadas porque as armas não haviam sido usadas em massa em conflitos após a Guerra do Vietnã, escreveu o professor de relações internacionais Eitan Barak em seu livro "Deadly Metal Rain".
A exceção, segundo Barak, é o uso israelense de fléchettes na Faixa de Gaza. Israel começou a eliminar os disparos em 2010, dois anos depois que soldados dispararam uma salva de tiros contra um cinegrafista da Reuters quando confundiram sua câmera com uma arma, matando-o junto com oito civis.
O prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, afirmou que cerca de 20% dos moradores que ficaram na localidade durante os cerca de 30 dias de ocupação das tropas russas foram mortos. Na cidade foram encontrados centenas de corpos em valas e em uma rua após a saída das tropas russas.
"Tudo ao nosso redor estava queimando. Não havia ar fresco e você não podia ver o sol", relatou Chmut ao Post.
"Nós, em Bucha, estimamos que foi assassinado um habitante a cada cinco daqueles que ficaram na cidade durante a ocupação do exército russo. Pessoalmente, como milhares dos meus conterrâneos, tenho ódio por aqueles que torturaram e mataram os habitantes pacíficos desse lugar", afirmou Fedoruk à agência Unian.
Ainda não se sabe exatamente o número de vítimas porque não há estimativas exatas se todos os que constam como desaparecidos conseguiram fugir da guerra. Localizada a cerca de 25 quilômetros de Kiev, Bucha tinha cerca de 36 mil habitantes antes da guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.
Assim como outras localidades próximas à capital, foi libertada em 1º de abril, quando a Rússia decidiu concentrar os ataques no leste e no sul do território.