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Juros: Taxas sobem com aversão a risco global e viés inflacionário da guerra
Os juros futuros fecharam a quinta-feira (24) em alta, em meio à aversão ao risco produzida pela escalada da ofensiva russa contra a Ucrânia ao longo do dia após a invasão. As taxas subiram, refletindo as incertezas sobre as consequências do conflito, com o mercado ainda calculando o quão inflacionário pode ser o cenário bélico via preços de commodities e depreciação do câmbio. O mau humor no mercado levou o Tesouro a reduzir expressivamente a oferta de prefixados no leilão e, ainda assim, não aceitou propostas na NTN-F.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 12,44% (regular), de 12,368% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,266% para 11,39% (regular). O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,29% (regular), de 11,17%.
Na sessão estendida, as taxas reduziram o ritmo de alta, acompanhando a reação positiva dos demais ativos ao anúncio de mais sanções econômicas pelo Ocidente. Os EUA não descartam liberar suas reservas e petróleo para minimizar o impacto nos preços de energia, o que levou as cotações da commodity a perderem força. No fechamento, a taxa do DI para janeiro de 2023 estava em 12,435%; a do DI para janeiro de 2025, em 11,34%; e a do DI para janeiro de 2027, em 11,24%.
Embora não se saiba qual será a resposta de Vladimir Putin, a princípio, o enfraquecimento da economia russa poderia favorecer o Brasil pelo deslocamento de fluxo para emergentes, amenizando o impacto no câmbio.
Durante a etapa regular, com exceção das taxas curtas, cuja alta não superou 10 pontos-base, o restante da curva subiu em bloco. A oficialização do conflito, que vem sendo ensaiado há dias, não chega ainda a alterar sobremaneira o quadro de apostas para a Selic, uma vez que a situação é considerada em aberto e que a precificação da Selic nos DIs já está bem salgada. Mas, em teoria, traz viés inflacionário para o já pressionado IPCA.
O economista do BTG Pactual Álvaro Frasson, porém, está cauteloso. "O movimento de abertura da curva de juros hoje, 'flat' em todos os vértices, parece ser o mais provável a conduzir a renda fixa brasileira", previu. Ele argumenta que a elevação no preços de commodities e depreciação do real normalmente trazem efeitos significativos para a estrutura de custos do País e, portanto, devem impactar as expectativas de inflação. "Não me surpreenderia se as previsões de IPCA em 2022 começassem a ser revisadas acima de 6% e que esse movimento, por consequência, provoque elevação de Selic terminal acima de 12,25%, que é o cenário do BTG", disse.
Questionado sobre o potencial efeito da invasão russa nos combustíveis, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse hoje que o governo tem trabalhado com alternativas para combater a alta dos preços nas bombas, mas que "medidas na linha de criação de fundos (de estabilização de preços) são muito caras e não são eficazes".
O clima pesado no exterior reduziu o apetite do investidor para os prefixados do Tesouro. A instituição ofertou 1,5 milhão de LTN e 200 mil NTN-F, contra 7 milhões e 2,8 milhões, respectivamente, na semana passada. O lote de LTN teve demanda integral, mas o Tesouro rejeitou todas as propostas para NTN-F, que são justamente os prefixados mais longos e normalmente procurados por estrangeiros, num sinal de aversão a ativos de risco.