Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Internacional

- Publicada em 04 de Outubro de 2021 às 19:09

Johnson admite que desabastecimento no Reino Unido está ligado ao Brexit

Governo diz que estabilização da situação também depende de as empresas melhorarem salários de caminhoneiros

Governo diz que estabilização da situação também depende de as empresas melhorarem salários de caminhoneiros


PAUL ELLIS/AFP/JC
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo (3) que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um "momento de transição" necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo (3) que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um "momento de transição" necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.
O tema dominou o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, realizada em Manchester. O evento é o primeiro presencial desde o início da pandemia. Johnson esperava usar a reunião do seu partido para marcar o sucesso da campanha de vacinação, mas teve que responder sobre a perspectiva de faltarem alimentos típicos da ceia de Natal britânica, como perus e frios.
A crise de abastecimento enfrentada pelos supermercados e postos de combustíveis, que se agravou nos últimos 15 dias, é provocada principalmente pela falta de caminhoneiros e de mão de obra em setores como a indústria de processamento de carnes. Esse déficit, por sua vez, é causado em parte pela saída do Reino Unido dos trabalhadores que vinham de nações da UE, já que o Brexit, que começou a vigorar em janeiro deste ano, pôs fim à livre circulação de pessoas entre o país e o bloco.
Johnson falou sobre o tema em uma longa entrevista à BBC para marcar o início do congresso partidário, quando foi questionado se os problemas atuais são uma consequência inevitável da separação da UE. Ele reconheceu o vínculo, mas afirmou que não irá retornar à "imigração descontrolada".
"O caminho em frente para o nosso país não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas para trabalhar. O que eu não vou fazer é regredir ao modelo antigo e fracassado de salários baixos e pouca especialização sustentado pela imigração descontrolada."
Apesar da pressão de vários setores da economia para a concessão de vistos para trabalhadores temporários, Johnson indicou que não irá ceder mais: quando os britânicos votaram pelo divórcio no referendo de 2016 e deram aos conservadores a maioria nas eleições legislativas de 2019, afirmou, também optaram pelo fim do "modelo quebrado" e da "baixa produtividade crônica" que vigorava no país.

Outono do descontentamento

A imprensa britânica vem se referindo ao momento atual como o "outono do descontentamento", metáfora shakespeariana que se popularizou durante o "inverno do descontentamento" de 1978. Na ocasião, escassez de gasolina, greves e alta de preços foram um prelúdio para a chegada de Margaret Thatcher ao poder no ano seguinte e sua revolução conservadora.
Desta vez, contudo, são os conservadores que precisam lidar com a crise catalisada por uma separação que seus próprios correligionários, Johnson à frente, lutaram anos para concretizar. Sem as regras europeias, afirmavam os defensores do divórcio, Londres teria mais liberdade para tomar suas próprias decisões econômicas.
Embora o Brexit não seja a única razão de uma crise com ramificações globais, como o aumento do preço do gás, ela tem também causas decorrentes da separação, como a maior burocracia para a importação de alimentos da UE. Do déficit estimado de 100 mil caminhoneiros, cerca de 20 mil são motoristas não britânicos que deixaram o país durante a pandemia e não voltaram por causa de requisitos mais rígidos de visto para trabalhar no país.
Questionado sobre a previsão do seu ministro da Fazenda, Rishi Sunak, de que a escassez pode durar até o Natal, Johnson disse que o correligionário está "invariavelmente certo, mas depende de como você interpreta o que ele diz". A escassez, afirmou, deve-se à indústria de transporte de carga não ter investido em melhores salários e condições de trabalho, tirando proveito da mão de obra europeia, mais barata.
Diante do risco de ver lojas vazias no Natal, no entanto, o governo britânico disse que permitirá a entrada imediata de 300 motoristas estrangeiros para ajudar na distribuição de combustíveis, além de 200 soldados já mobilizados depois que o atraso e a corrida às compras secaram as bombas nas grandes cidades.
Outros 4,7 mil motoristas vindos do exterior também deverão ajudar na distribuição de alimentos até o Natal, junto com 5,5 mil vistos temporários que serão emitidos para a indústria alimentícia - planos que, para os empresários, são insuficientes. Johnson não descartou novas medidas emergenciais, mas disse que a solução permanente cabe ao setor: "No fim das contas, esses negócios, essas empresas, são os melhores solucionadores de seus próprios problemas de abastecimento. O governo não pode intervir e resolver toda a cadeia de fornecimento."
Em paralelo, Johnson se recusou a descartar novos aumentos de impostos para ajustar as contas públicas após a pandemia, apesar de afirmar que não deseja fazê-lo.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO