O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, confirmou no domingo (25), que pretende iniciar o novo diálogo com a oposição no próximo mês no México, com mediação da Noruega. O chavista também disse esperar que o processo "tenha participação dos Estados Unidos". Em maio, a oposição venezuelana mudou de estratégia e mostrou disposição em retornar às negociações para resolver a crise política no país, mas muitos ainda são céticos sobre as verdadeiras intenções do governo.
Maduro tem lidado com um colapso econômico, social e político desde que assumiu o cargo em 2013 e enfrenta acusações de corrupção, violações de direitos humanos e fraude na eleição de 2018, tanto de seus oponentes internos quanto dos Estados Unidos e da União Europeia. Ele nega todas as acusações.
"Posso dizer que estamos prontos para ir para o México", disse Maduro em uma entrevista à rede de televisão estatal Telesur nesse domingo. "Começamos a discutir uma agenda complicada e difícil, e espero poder instalar no início do mês de agosto essa mesa com a ajuda do governo da Noruega e possivelmente a participação de outros governos do mundo, dentre eles o dos Estados Unidos."
Em junho, diplomatas de alto escalão em Washington, Bruxelas e Ottawa disseram que estariam dispostos a revisar as sanções ao governo se o diálogo com a oposição tiver um progresso significativo e levar a eleições livres e justas.
Maduro, por sua vez, havia condicionado sua participação à suspensão de sanções econômicas, que incluem um embargo ao petróleo venezuelano, que lhe fecharam as vias de financiamento em meio a uma dura crise econômica.
Os EUA de Joe Biden não fizeram anúncios importantes sobre a Venezuela até agora. A Casa Branca acompanha a iniciativa da Noruega, mas já deixou claro que a suspensão das sanções que mais asfixiam o país - nesta semana foram liberadas operações comerciais de gás liquefeito de petróleo, GLP - só ocorrerá caso "sejam produzidos avanços significativos com a oposição, para alcançar eleições confiáveis, inclusivas e transparentes". Um recente comunicado de autoridades americanas, canadenses e da UE menciona, ainda, que as eleições devem ser "regionais, parlamentares e presidenciais".
Internamente, a oposição está dividida. Reconhecido como "presidente interino" da Venezuela por EUA, Brasil e outros países, o ex-deputado Juan Guaidó disse estar pronto para dialogar com o governo, mas exige um cronograma de eleições que inclua eleições presidenciais em troca de uma "suspensão progressiva" das sanções. Parte da oposição, no entanto, pretende participar das eleições para governadores e prefeitos marcada para 21 de novembro.
Em 10 de julho, falando ao Estadão, Guaidó disse que o diálogo nacional com garantias a todos setores é o caminho para encerrar o regime Maduro. "Vivemos em uma ditadura, e é preciso valorizar cada espaço que tenhamos", afirmou Guaidó. "Vivemos hoje em um país com indicadores de guerra. A Venezuela é o único país do mundo que não está em guerra e tem os níveis tão altos de fome, de emigrantes e refugiados, hiperinflação absurda, a destruição do aparato produtivo nacional. Faço esse contexto porque claramente o regime não quer ceder o poder e, portanto, é necessário conceder incentivos, de pressão e de garantias de uma transição democrática."
A última vez em que o governo e a oposição venezuelanos negociaram foi em Barbados, em 2019, auspiciados também pela Noruega. Os diálogos terminaram sem acordos. Agora, a nova rodada de negociações acontece após a prisão do ex-deputado Freddy Guevara, muito próximo de Guaidó, acusado de terrorismo e traição à pátria.
Crise abriu portas
O agravamento da crise econômica e social na Venezuela em virtude da pandemia e o temor do regime de Nicolás Maduro das sanções impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia colaboram para uma nova tentativa de negociações entre o chavismo e a oposição, liderada por Juan Guaidó.
O ex-militar José Antonio Colina, um observador das relações entre as Forças Armadas e o chavismo, afirmou ao Estadão que "o desespero dele para buscar um diálogo é para conseguir retirar as sanções internacionais". Segundo ele, "Maduro quer acesso a recursos para minimizar sua imagem perante a comunidade internacional".
Luís Vicente Leon, presidente do Datanálisis, explica que, apesar das negociações atuais envolverem Guaidó e Maduro, a retomada partiu originalmente de um grupo da oposição ao chavismo que deseja participar das eleições regionais, em vez de repetir a estratégia de boicote, que não resultou em nada prático. Com a sinalização positiva de Maduro, o chavismo liberou até mesmo a criação do novo CNE.
Em junho, a Justiça da Venezuela autorizou a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) a participar de eleições estaduais e municipais deste ano. A decisão põe fim a um veto à aliança opositora que vigorava desde 2018 e ocorre em meio à promessa de EUA e União Europeia de aliviarem as sanções econômicas ao país em troca de avanço nas negociações por eleições transparentes e justas. (Com agências internacionais)