Um homem de 93 anos foi condenado nesta quinta-feira (23) por um tribunal de Hamburgo, na Alemanha, por ter sido cúmplice do assassinato de mais de 5.000 pessoas em um campo de concentração durante a última fase da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Bruno Dey foi guarda nazista no campo de concentração de Stutthof, na Polônia, entre agosto de 1944 e abril de 1945, quando tinha 17 anos. Por não ter atingido a maioridade quando cometeu os crimes, ele foi julgado por uma corte juvenil.
A justiça alemã o condenou a dois anos de prisão, mas, devido à sua atual idade avançada, Dey teve o cumprimento da pena suspenso e não ficará preso.
"O campo de concentração de Stutthof e os assassinatos em massa que ocorreram nele só puderam acontecer com sua ajuda", disse a juíza do caso, Anne Meier-Göring, na sentença.
Criado em 1939, Stutthof foi o primeiro campo de concentração nazista construído fora da Alemanha. Inicialmente destinado a presos políticos poloneses, acabou recebendo cerca de 115 mil deportados, muitos dos quais judeus.
De acordo com o site do museu de Stutthof, cerca de 65 mil pessoas foram mortas no campo de concentração. Dey foi considerado culpado por ter participado da morte de 5.232 pessoas, embora ele não tenha assassinado ninguém diretamente.
Deste total, cerca de 5.000 pessoas morreram durante um surto de tifo que atingiu o local -os presos não tinham acesso a remédios, água e comida e não tinham condições higiênicas adequadas. Além deles, 200 pessoas morreram em câmaras de gases e 30 foram mortas a tiros. A maior parte das vítimas era judia.
Segundo os promotores, guardas como Dey auxiliaram nessas mortes ao impedir que os prisioneiros escapassem. A acusação pedia que ele fosse condenado a três anos de prisão, e que a pena fosse suspensa, enquanto a defesa queria que o idoso fosse inocentado.
Durante o julgamento, Dey reconheceu o período como guarda em Stutthof, mas disse que não teve escolha e não admitiu a responsabilidade pelas mortes.
"E não machuquei ninguém diretamente", disse ele no início do julgamento, em outubro de 2019. Na ocasião, ele também afirmou que não sabia das atrocidades cometidas no local.
"Gostaria de pedir desculpas a todas as pessoas que passaram por esse inferno de insanidade, e a seus parentes e sobreviventes", disse ele ao tribunal, conforme relatos da imprensa alemã, no início da semana, já na reta final do julgamento.
Devido à pandemia de coronavírus e a idade avançada do réu, o julgamento foi cercado de cuidados nos últimos meses. As sessões ficaram restritas a no máximo duas horas diárias e só podiam acontecer duas vezes por semana.
Além disso, o ex-guarda nazista ficou dentro de uma redoma de vidro o tempo todo, sentado em sua cadeira de rodas. Os jornalistas não puderam entrar no local do julgamento e em vez disso ficaram em uma sala lateral, com acesso apenas ao áudio das sessões.
O julgamento de Dey é, provavelmente, um dos últimos sobre os crimes cometidos pelo Terceiro Reich. O número de suspeitos pelas mortes de mais de 6 milhões de judeus no Holocausto está diminuindo.
Dezenas de milhares de potenciais culpados - guardas, comandantes, médicos, burocratas e soldados- morreram como membros respeitados de sua comunidade, sem nunca terem enfrentado um tribunal ou passado um único dia na prisão.
Uma condenação histórica em 2011 abriu caminho para mais processos, pois era a primeira vez que trabalhar em um campo era motivo suficiente de culpabilidade, sem provas de um crime específico.