O governo dos EUA anunciou neste domingo (24) a proibição da entrada de viajantes estrangeiros provenientes do Brasil. A ameaça de limitar voos vindos do País vinha sendo mencionada publicamente pelo presidente norte-americano, Donald Trump, desde o final de abril. Na sexta-feira (22), mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde classificou a América Latina como novo epicentro do vírus, dando destaque ao Brasil, a Casa Branca e o Departamento de Estado norte-americano concordaram em oficializar a restrição.
A medida barra estrangeiros que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias. A restrição passa a valer a partir das 23h59min, no horário de Nova Iorque, do dia 28 de maio. Ainda podem entrar no país aqueles que possuem residência permanente nos EUA, além de cônjuges, filhos e irmãos de norte-americanos e de residentes permanentes. Estrangeiros que possuem visto específicos, como os que representam outros governos, também estarão excluídos da restrição.
Trump é considerado o principal aliado internacional do presidente Jair Bolsonaro e tem evitado críticas abertas ao brasileiro, mas deixou claro nas últimas semanas que não pouparia o País. "Não quero pessoas entrando e infectando nosso povo", afirmou na terça-feira, quando o Brasil ultrapassou a marca de mil mortes diárias.
A pressão para que o governo dos EUA adotasse restrições à chegada de brasileiros cresceu na última semana, quando a situação no Brasil se agravou e passou a ser destaque na imprensa internacional. O prefeito de Miami, Francis Suárez, foi um dos que defenderam abertamente o bloqueio dos voos.
O Brasil é considerado um epicentro da pandemia, com trajetória de rápido crescimento dos casos, enquanto os EUA caminham para um processo de reabertura econômica e de controle interno da primeira onda da epidemia, que deixou mais de 1,6 milhão de infectados e quase 100 mil mortos.
Fontes do governo brasileiro veem na iniciativa norte-americana mais uma mensagem eleitoral de Trump. A Flórida, onde chegam quase metade dos voos hoje em operação entre Brasil e EUA, é um estado-chave para a eleição presidencial de novembro. A avaliação para impor a medida, entretanto, levou em consideração fatores além do eleitoral. Em 23 de março, um funcionário do alto escalão do Departamento de Segurança Interna disse a jornalistas que a rápida aceleração de casos na América Latina, com destaque para o Brasil, era acompanhada com preocupação nos EUA. Na época, o Brasil tinha 1.891 casos de Covid-19 confirmados e 34 mortes. Dois meses depois, o Brasil tem 363 mil casos e mais de 22 mil mortos.
Atualmente, há 13 voos semanais em operação entre os dois países, sendo que seis têm a Flórida como destino e outros sete, o Texas. Só a Latam tinha 49 viagens semanais entre os dois países.
Nos bastidores, o governo brasileiro diz ver com naturalidade a medida. Na prática, no entanto, a diplomacia do País atuou para evitar essa barreira. Em abril, o encarregado de negócios pela Embaixada do Brasil em Washington, Nestor Forster, chegou a enviar uma carta ao governador da Flórida, Ron de Santis, na qual argumentou que a maioria dos voos era usada para repatriar brasileiros que estão nos EUA e para o transporte de cargas. Forster também se colocou à disposição para compartilhar informações sobre as respostas do governo brasileiro para controlar a pandemia.