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Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica alerta para substâncias desconhecidas no cigarro eletrônico
No Dia Mundial sem Tabaco, Sboc faz alerta sobre o uso do aparelho, o desenvolvimento de doenças inflamatórias e a relação com o câncer de pulmão
Cores, aromas e sabores distintos desviam a atenção do público jovem para os prejuízos que o cigarro eletrônico pode causar. Diferentemente da Inglaterra, onde um estudo publicado pelo Departamento de Saúde aponta que os cigarros eletrônicos podem se tornar um aliado para fumantes que querem deixar o cigarro convencional, no Brasil, as pesquisas mostram o contrário. No Dia Mundial sem Tabaco, celebrado na terça-feira, 31 de maio, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) faz um alerta sobre os usos do aparelho e a relação ao câncer de pulmão.
Entre 2020 e 2021, o número de vítimas fatais por neoplasia maligna dos brônquios e pulmões cresceu de 3.365 para 3.428 no Rio Grande do Sul, de acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. “O cigarro eletrônico não está relacionado diretamente com o desenvolvimento do câncer de pulmão. O aparelho pode desenvolver outros tipos de doenças e danos que estamos conhecendo, principalmente doenças inflamatórias”, explica a integrante do Comitê de Tumores Torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Aknar Calabrich.
Como qualquer fumaça inalada no pulmão, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), também conhecidos como cigarros eletrônicos, vape e vaporizadores, podem causar um processo inflamatório dificultando a ação do sistema imunológico. “Por isso, não podemos dizer que ele atinge diretamente baixando a imunidade, ele altera o ambiente que tem dentro do pulmão, gera processo inflamatório e isso pode facilitar infecções'', complementa Calabrich.
Se por um lado o cigarro eletrônico não contribui diretamente para o desenvolvimento do câncer de pulmão, que atinge 10% da população brasileira, conforme dados de 2020 da Sboc, por outro, ele funciona como porta de entrada para o tabagismo tradicional. Atualmente, o tabagismo é considerado uma das principais causas de mortes evitáveis no mundo, vitimando uma pessoa a cada 34 segundos.
Mesmo com a comercialização, importação e propaganda proibidas no País, pela Resolução (RDC) nº 46/2009 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso dos DEFs ganha força entre os jovens. No primeiro trimestre deste ano, em nível nacional, os homens experimentaram o cigarro eletrônico em maior número em comparação com as mulheres, sendo respectivamente 10,1% e 4,8%. Já em termos de região, o Sul aparece com a segunda maior incidência, 10,2%, perdendo apenas para o Centro-Oeste, com 11,2%.
Porém, o que chama atenção é o fato de que os jovens testam com maior frequência do que os mais velhos. De acordo com o relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado recentemente pela associação civil sem fins lucrativos Umane, um em cada cinco jovens já experimentou ou utiliza o cigarro eletrônico atualmente.
“Tudo isso leva a cogitar que o produto está alcançando um grupo mais favorecido, um produto que está no mercado e que não é acessível, do ponto de vista financeiro, para muitas pessoas. É caro para muitas pessoas, mas o jovem, em geral, é curioso na experimentação”, diz o integrante da pesquisa, Fernando C. Wehrmeister, professor de medicina da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).
Embora ainda não tenha estudos específicos sobre os motivos que levam o jovem ao consumo dos vaporizadores, o produto é vendido, de forma ilegal, como inofensivo à saúde. Seu funcionamento consiste no aquecimento de um líquido, em uma temperatura aproximada de 300°C, que se transforma em vapor e é tragado. Dentre as principais substâncias liberadas pelo cigarro eletrônico estão as nanopartículas de metais pesados e solventes.
No entanto, um dos grandes problemas no consumo do vape está relacionado com a falta de controle sobre as substâncias químicas que são colocadas no dispositivo. De acordo com Calabrich, “muitas substâncias podem causar danos desconhecidos”. “Como são substâncias que não estão regulamentadas e regularizadas, elas não tem fiscalização. A gente nem sabe o que tem e o que pode causar danos”, alerta.
Uma sessão de narguilé equivale a 100 cigarros
Os homens também são maioria no processo de experimentação do narguilé, com 9,8% em comparação com 5% das mulheres que utilizam o dispositivo, de acordo com informações do relatório Covitel. Diferentemente do cigarro eletrônico, o narguilé tem como base o tabaco e também vem de uma fonte de combustão, ou seja, além da nicotina, ele tem monóxido de carbono e alcatrão, da mesma forma que o cigarro tradicional, aponta o projeto Saúde Brasil, do Ministério da Saúde.
Dependendo do tempo da sessão, o narguilé pode equivaler a fumar mais de 100 cigarros. “Ele tem um comportamento semelhante ao do cigarro eletrônico, tanto no número de pessoas que já experimentou ou ainda faz uso é exatamente igual, embora não sejam as mesmas pessoas, apesar da intersecção”, diz Wehrmeister.
Dependendo do tempo da sessão, o narguilé pode equivaler a fumar mais de 100 cigarros. “Ele tem um comportamento semelhante ao do cigarro eletrônico, tanto no número de pessoas que já experimentou ou ainda faz uso é exatamente igual, embora não sejam as mesmas pessoas, apesar da intersecção”, diz Wehrmeister.