A detecção de novos casos de HIV teve queda de 25% no país em 2020 comparado ao mesmo período de 2019. Foram 32,7 mil casos novos no ano passado contra 43,3 mil no ano anterior.
Os dados são do Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2021, apresentado durante o lançamento da campanha de combate ao HIV/Aids. O evento ocorreu no Ministério da Saúde nesta quarta-feira (1º), Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Gerson Pereira, diretor do departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, disse que a redução da detecção de novos casos de HIV era esperada por conta da pandemia.
Segundo Pereira, o Ministério da Saúde se empenhou para não prejudicar o tratamento dos pacientes durante a pandemia. Entre as medidas, houve a prescrição por mais tempo dos medicamentos e o uso da telemedicina.
"A gente teve uma redução em relação aos casos novos e fizemos um esforço sobre-humano nesta pandemia para que a gente não pudesse só diagnosticar, mas tratar os casos. Nós antigamente prescrevíamos medicamentos para 30 dias, hoje nós prescrevemos para 90 dias. Temos muitos pacientes recebendo medicamento por 90 dias", afirmou.
Apesar da redução no total, a detecção de novos casos de HIV em gestantes teve aumento de 30,3% no período. Foram 7,8 mil casos em 2020.
Para Pereira, esses dados podem ser vistos de forma positiva, porque, na sua visão, mostram que mais mulheres estão fazendo o pré-natal e podem ser tratadas antes do parto. Dessa forma, é possível evitar a contaminação vertical (da mãe para o bebê), por exemplo.
Os dados apresentados apontam também queda na detecção de novos casos em crianças de até cinco anos.
Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde, destacou que a redução dos casos em crianças mostra o esforço do Ministério da Saúde em relação ao tema. "Nós estamos vivendo um ano pandêmico e sabemos de todas as dificuldades comerciais, mas o governo garantiu o tratamento e o diagnóstico para todas as pessoas que fazem o tratamento com retroviral. Esse é o compromisso deste governo com a vida", avaliou.
Pereira apresentou ainda os dados de uma série histórica de 2010 a 2020 de Aids. Os números mostram que 69,5% dos casos são em homens e 30,2%, em mulheres. Em relação à idade, 52,9% ocorrem em pessoas de 20 a 34 anos.
No Brasil, 694 mil pessoas fazem tratamento para HIV/Aids. "O tratamento é uma medida de prevenção. A partir do momento que você inicia o tratamento, três meses depois é indetectável [o vírus]. Estando indetectável, tem uma possibilidade mínima de transmitir o HIV", destacou Pereira.
Socorro Gross, representante da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) no Brasil, elogiou o trabalho que o Brasil tem feito ao longo dos anos em relação ao tema. Para ela, é importante que o diagnóstico e o tratamento sejam rápidos.
"O Brasil abriu as portas para que todos os países e os grupos organizados realmente lutem para ter tratamento", disse. "[Hoje] temos a oportunidade que uma pessoa possa ter a mesma esperança de vida e qualidade que as pessoas tenham."
Quatro décadas após o início da epidemia de Aids e do avanço nas terapias de prevenção e de tratamento, o estigma e a discriminação ainda fazem parte do dia a dia da maioria das pessoas que vivem com o HIV no Brasil.
Um estudo do Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids) com 1.784 soropositivos mostra que 64% já sofreram algum tipo de discriminação: 46% por meios de comentários de familiares, vizinhos e amigos, 25% em assédios verbais e 20% chegaram a ter perda de fonte de renda ou foram rejeitados em uma oferta de emprego.
Os dados possibilitaram a criação de um índice de estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/Aids. Cerca de 15% dos entrevistados relatam ter sofrido discriminação em serviços de saúde nos 12 meses que antecederam a pesquisa, que foi realizada em sete capitais brasileiras em 2019.