Dois casos da doença de Haff foram identificados em fevereiro em Pernambuco. A síndrome é chamada popularmente de "doença da urina preta". Na terça-feira (2), a veterinária Priscyla Andrade, de 31 anos, morreu em um hospital do Recife. Priscyla teve morte encefálica declarada após passar por exames clínicos de dois médicos diferentes, que avaliaram pressão, batimentos cardíacos e outros sinais vitais. Ela chegou ao hospital no dia 18 de fevereiro.
A irmã da profissional, Flávia Andrade, também foi internada no hospital da capital pernambucana, mas se recuperou e já está em casa. As duas comeram um peixe da espécie arabaiana, conhecido como "olho de boi".
A doença que acometeu as duas mulheres é causada por uma toxina que pode ser encontrada em determinados peixes e crustáceos. A substância gera danos no sistema muscular e em órgãos como rins.
Ela se constitui em um tipo de rabdomiólise, nome dado para designar uma síndrome que gera a destruição de fibras musculares esqueléticas e libera elementos de dentro das fibras (como eletrólitos, mioglobinas e proteínas) no sangue.
O nome foi dado em razão da descoberta da doença em um lago chamado Frisches Haff, na região de Koningsberg, em 1924. O território, à beira do Mar Báltico, pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente, constituindo um enclave entre a Polônia e a Lituânia.
A doença de Haff gera uma rigidez muscular. Além disso, frequentemente ocorre como consequência o aparecimento de uma urina escura em função da insuficiência renal, razão pela qual essa expressão é utilizada para se referir à enfermidade.
Em artigo sobre a doença, médicos do Hospital São Lucas Copacabana explicam que ainda não houve confirmação sobre a natureza da toxina constante nos peixes cuja ingestão provocou a doença. Em alguns livros, ela está associada ao envenenamento por arsênico. A dificuldade está no fato de que a toxina não tem nem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais complexa a sua percepção. Ela também não é eliminada pelo processo de cocção do peixe.
Nos relatos registrados ao longo dos anos, pessoas acometidas da doença ingeriram diferentes tipos de peixe, como salmão, pacu-manteiga, pirapitinga, tambaqui, e de diversas famílias, como Cambaridae e Parastacidae.
Assim como no caso das irmãs do Recife, outros casos da doença registrados por estudos se manifestaram por meio de dores abdominais poucas horas após a ingestão de peixes que estavam com a toxina.
Pernambuco já teve 15 casos da doença desde 2017
De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), 15 casos da "doença da urina preta" foram registrados no Estado e confirmados por critério clínico epidemiológico (4 em 2017, 6 em 2020 e 5 em 2021). Os casos mais recentes estão sendo investigados pela secretaria de saúde de Recife.
A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) informou que, até o momento, não há nenhuma restrição voltada para o consumo de peixes e crustáceos no território pernambucano. Em caso de sintomas sugestivos para doença, a SES-PE recomenda que o paciente procure por atendimento no serviço de saúde mais próximo, relatando os sintomas e o histórico de consumo de pescados.