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Geral

- Publicada em 06 de Março de 2021 às 10:10

'Estar vacinado não significa estar imunizado', diz infectologista do Moinhos

Gewehr Filho explica que o número de pacientes graves vai diminuir com a vacinação

Gewehr Filho explica que o número de pacientes graves vai diminuir com a vacinação


/DIVULGAÇÃO/JC
A chegada da vacina contra a Covid-19 trouxe esperança para muitos brasileiros, que desde março do ano passado lidam com a doença. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o infectologista do Hospital Moinhos de Vento e membro da Câmara Técnica de Infectologia do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Paulo Ernesto Gewehr Filho, explica que a vacina não garante imunização a todos e que as medidas de segurança deverão continuar a ser seguidas.
A chegada da vacina contra a Covid-19 trouxe esperança para muitos brasileiros, que desde março do ano passado lidam com a doença. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o infectologista do Hospital Moinhos de Vento e membro da Câmara Técnica de Infectologia do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Paulo Ernesto Gewehr Filho, explica que a vacina não garante imunização a todos e que as medidas de segurança deverão continuar a ser seguidas.
Jornal do Comércio - As medidas de segurança poderão ser abandonadas após a vacinação?
Paulo Ernesto Gewehr Filho - Como a vacinação ocorre por grupos, porque não temos a quantidade de vacina suficiente para vacinar toda população, vamos diminuir o número de pacientes graves com doença nessas populações prioritárias. Esse é o primeiro objetivo com poucas vacinas e isso não vai nos permitir abandonar o uso de máscara, o distanciamento social e as outras medidas. Infelizmente, nesse primeiro momento, essas medidas terão que ser mantidas. Até que, com o avanço da vacinação, vamos ver o impacto no número de diagnósticos, de internações e no número de óbitos.
JC - A pessoa imunizada conseguirá transmitir o vírus?
Filho - É uma pergunta importante, mas até o momento não temos uma resposta científica, porque os estudos que temos ainda não avaliaram essa questão. Estudos em andamento estão avaliando se a vacinação previne a infecção da pessoa e a transmissão do vírus. Porque existem essas três coisas: a infecção, a doença e a transmissão. Os estudos das vacinas que temos até o momento foram desenhados para mostrar que elas previnem a doença causada pelo Sars-Cov-2, a Covid-19. Mas esses estudos não indicam se ela previne a infecção desses pacientes. O primeiro objetivo é diminuir o número de mortes, de internações na UTI e de pacientes com casos moderados a graves nos hospitais. Então as vacinas mostram desfechos nesse sentido. Em um segundo momento, também vamos querer que essas vacinas diminuam a infecção, para que a gente comece a frear a circulação do vírus.
JC - Muitas pessoas acreditam que a vida voltará ao normal pré-pandemia após a vacinação. Isso é possível?
Filho - Iniciou-se uma campanha de vacinação que a gente não sabe quantos meses vai durar, podendo ser até mais de um ano, porque ainda não temos a quantidade de vacina suficiente. As pessoas vão ser vacinadas, mas se elas vão ficar imunizadas é outra questão. As pessoas confundem isso e acreditam que, ao receber a vacina, estarão automaticamente protegidas. Mas não é assim. Os estudos mostram que, das pessoas vacinadas, uma pequena parcela acaba não ficando imunizada e continua desprotegida. E isso acontece em todas as vacinas. Então as pessoas têm que manter as medidas de proteção mesmo depois de vacinadas. Outra questão é que ainda não sabemos quanto tempo essa imunidade dura. Usamos o exemplo da gripe, que as pessoas se vacinam anualmente porque a proteção diminui depois de seis ou oito meses e porque o vírus da gripe sofre mutações, então todo ano sai uma vacina atualizada. Nas vacinas da Covid-19, ainda não temos essa informação.
JC - O que significa estar imunizado após tomar a vacina?
Filho - Todas as pessoas precisam tomar a vacina, mas algumas não vão conseguir produzir anticorpos. Isso acontece por características delas ou por outros fatores, como doenças crônicas, idade e imunossupressão. Nesse sentido, estar vacinado não significa estar imunizado. A melhor proteção, junto com a vacina, é continuar seguindo as medidas de proteção, com uso de máscara e distanciamento social.
JC - A imunidade por rebanho irá funcionar nesse caso?
Filho - À medida que formos vacinando as pessoas e as protegendo, porque uma parcela delas vai ficar imunizada, vamos diminuir o número de pessoas vulneráveis. Ao aumentar o número de pessoas protegidas, o vírus vai começar a encontrar dificuldade para circular. Isso é imunidade de rebanho. Quanto maior o número de pessoas imunizadas, maior será a parcela da população que não recebeu a vacina ou que recebeu e não ficou imunizada que irá se beneficiar dessa imunidade de rebanho. Mas não sabemos ainda qual o percentual da população precisa ser imunizada para atingirmos a imunidade de rebanho para Covid-19. Nesse momento, é aconselhável que a população procure a vacina conforme ela seja liberada para os devidos grupos.
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