Em um movimento considerado histórico pela categoria, 65 diretores de escolas estaduais de Porto Alegre fizeram uma manifestação, na tarde desta sexta-feira (2), contra a volta às aulas presenciais no Rio Grande do Sul. O ato foi promovido no saguão da Escola Estadual Júlio de Castilhos, uma das mais tradicionais da Capital.
Munidos de faixas com dizeres como "Escolas Unidas pela Vida- não é possível o retorno às aulas" e entoando frases como "Ano letivo se recupera, vidas não" e "Escolas fechadas, vidas preservadas", os servidores da Educação destacaram que decidiram romper o isolamento social em defesa da comunidade escolar. "Temos responsabilidade com a comunidade escolar e queremos dar um recado ao secretário de Educação, de que não há condições sanitárias, humanas e estruturais para a volta às aulas", disse uma das manifestantes.
Com apoio do Cpers-Sndicato, e intitulado Grupo de Diretores Unidos, o movimento integra 210 representantes de escola. No ato, os presentes destacaram que a pressão para o retorno às aulas não condiz com a estrutura existente nas escolas, com a falta de professores e funcionários e, principalmente, de preparo para a aplicação de protocolos necessários à prevenção à Covid-19. Muitos defendem que haja testagem nas escolas ou que o retorno seja condicionado à vacina, mas, principalmente, apontam insegurança com o retorno às atividades.
"O retorno é bem preocupante, pois nos é exigido um conhecimento em Saúde que não temos e a adoção de todos os protocolos é inviável à realidade das escolas, como a implantação do Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE)", relata Lilian Balbinot, vice-diretora do Colégio Estadual Cândido José de Godói, no bairro Navegantes, que aponta como outro ponto questionável a imposição às famílias de assinarem um termo de compromisso na volta dos filhos às aulas.
Segundo ela, a escola conta com 550 alunos, 57 docentes e apenas dois servidores da limpeza. Por definição da comunidade escolar, o colégio é um dos que pretende não reabrir em 2020. A iniciativa foi oficializada em documento, que relata que, por decisão "em comum acordo, equipe diretiva, conselho escolar, pais, alunos, professores, agentes educacionais pelo não retorno às atividades escolares na forma presencial no ano de 2020 e, por conseguinte, decide-se igualmente pelo prosseguimento do plano pedagógico já implementado pela escola desde março de 2020 na forma de atendimento remoto aos alunos".
Nas manifestações anônimas do ato desta tarde, transmitidas via redes sociais, alguns diretores admitiram estarem sobrecarregados com a adequação às aulas remotas, mas enfatizaram que não querem servir de "cobaias desse experimento de volta às aulas". Também defenderam a manutenção das aulas online até o final do ano. "Não estamos brigando por salário, mas pela nossas vidas, das famílias e de todo o Estado", completou uma das diretoras.
Outras, como a diretora do Julio de Castilhos, informou que a escola também não reabrirá, por decisão do corpo docente da escola. Segundo o Cpers, a maioria da comunidade escolar está insegura em relação ao retorno das atividades e, por isso, a orientação da entidade é para que as escolas ouçam pais, alunos e professores. No dia 8 de outubro, o Sindicato fará uma assembleia geral para definir as estratégias a serem seguidas.