A Santa Casa de Porto Alegre vai abrir mais 40 leitos na UTI de Covid-19, para suprir a ocupação que já chega no limite. Até o fim da próxima semana, o complexo deve alcançar 88 leitos. Mas a oferta pode não ser suficiente ante uma demanda que só aumenta, alerta o diretor médico da Santa Casa, Antonio Nocchi Kalil. A situação pode levar a mais suspensões de atendimento
como a que foi anunciada em transplantes.
Kalil diz que as prioridades terão de ser
orientadas pela prefeitura e apela para que a população colabore. "O distanciamento é muito importante, não dá para menosprezar", reforça. Monitoramento da prefeitura mostra que o
isolamento chegou a 47,8% nessa quinta-feira (16). A meta é de 55%. Kalil destaca que para conseguiu colocar em operação os novos leitos houve chamamento a médicos da instituição.
Jornal do Comércio - O que significa a suspensão dos transplantes?
Antonio Kalil - Paramos os transplantes que têm possibilidade de aguardar, como o de rins, que tem a diálise para dar suporte aos pacientes, de medula e córnea. Só paramos para aqueles que podem ser postergados com segurança. Órgãos vitais não têm como aguardar, como as doenças hepáticas. Temos de ter um meio termo entre manter uma segurança em UTIs e dos profissionais e garantir um atendimento a estes pacientes. A UTI de transplante tem 10 vagas, e nove estão ocupadas. Também tivemos queda do número de doações de órgãos. Foram 18 em maio, 15 em junto e caímos a apenas três este mês. A queda está associada a menos traumas (acidentes), que geram doações de múltiplos órgãos.
JC - O atendimento para doentes com Covid-19 concorre com os de outras áreas do hospital?
Kalil - O que estamos adotando é uma medida de cautela. Estamos notando o aumento de Covid-19, e a Santa Casa passou a ter um papel mais protagonista. Vamos chegar a 88 leitos nos próximos dias. Hoje são 48. Começamos com 14, passamos a 28 e depois a 48. Os profissionais envolvidos têm carga muito maior de trabalho e o risco de contaminação é importante. Tivemos de remanejar profissionais, para não sobrecarregar os de UTIS. Neste sábado (18), abriremos mais oito vagas. Na terça-feira (21), mais 15 serão abertos e, na semana seguinte, outros 17. Vamos ver se conseguimos antecipar e abrir os últimos até o fim de semana que vem.
JC - E tem profissionais para conseguir ativar este número?
Kalil - Tivemos uma surpresa maravilhosa. Fizemos um chamamento ao corpo clinico da Santa Casa e mais de 30 médicos se voluntariaram e conseguimos suprir. Precisamos de mais, pois temos de ter reserva de médicos, pois alguns vão adoecer e podemos ter de repor. Vamos agora buscar os demais profissionais.
JC - É possível abrir mais leitos, caso a demanda de doentes se mantenha crescente?
Kalil - É possível ter mais leitos. Se se mantiver a ocupação, vamos ter de diminuir o atendimento de outras áreas. Gostaria de não ter de reduzir, mas vamos depender da estratégia da prefeitura. A evolução da ocupação é preocupante, pois progride de forma constante. Tivemos um pico há 7 dias e 10 dias de casos e que continuou. Como são pacientes que demoram para sair das UTIs, a necessidade (de vagas) aumenta.
JC - A manutenção da ocupação nos atuais níveis pode comprometer a qualidade da assistência?
Kalil - A mortalidade tem a ver com muitos pacientes que chegam com nível mais grave. Como os 88 leitos, vamos manter a mesma qualidade que temos na alta complexidade. Mas quando pacientes chegam muito graves é difícil ter a mesma forma de tratamento. A gente espera que não cheguemos no nível de colapso, que possa comprometer os processos. Vimos isso em outros países que perderam o controle (com a grande demanda).
JC - As pessoas falam que sempre houve superlotação neste período do ano na Capital. Como o senhor encara esta colocação?
Kalil - Vivemos uma situação completamente diferente agora. Em outras situações, os pacientes entram e saem com mais frequência, agora eles permanecem muito tempo. Ou seja, mesmo tendo mais leitos, eles ficam ocupados por mais tempo. A única saída é o distanciamento social. A população tem de entender que tem de fazer as coisas necessárias para que não tenha a disseminação da doença, como evitar aglomeração. O distanciamento é muito importante, não dá para menosprezar.